Por: Erahsto Felício de Valença, BA
Hoje foi um dia histórico para a luta e a unidade do povo em Valença, na BA. Sim, a solidariedade vibrou e nós nos enxergamos como deveríamos: como gente trabalhadora que sofre as mesmas dores, que sofre os ataques da elites conservadoras de forma cruel e rancorosa. Nos encontramos, nos vimos e lotamos as ruas de Valença com uma rebeldia linda e capaz de sensibilizar muitos dos que passaram e decidiram não ficar calados diante do mau governo que tenta destruir nossos direitos.
As pescadoras e os pescadores do Guaibim começaram o dia fechando a rodovia BA 001, entre o entroncamento do Guaibim e Valença. Travaram o trânsito, dialogaram com os motoristas e foram andando se encontrar com o restante das manifestações em frente à Câmara de Vereadores do município. Foi um encontro lindo. Gente guerreira de todos os lados dando recado para políticos que se escondem, que têm medo de ir às ruas (salvo exceções).
Esta ação foi organizada por uma articulação de sindicatos, associações de trabalhadores estudantes, que desde o golpe na presidenta eleita tem se visto e sentido a necessidade de unificar as lutas. Mais recentemente, quilombolas, sem terras, trabalhadores e pequenos produtores rurais, pescadores e pescadoras, se uniram a luta para fortalecer esta unidade, que até então era urbana. Os resultados temos colhido a cada manifestação, mas a de hoje foi singular. Não apenas pelo número de presentes, mais de três mil pessoas, mas pela sua qualidade: gente disposta a luta advinda das mais difíceis situações que podemos imaginar.
E foram à rua com um comunicado da CDL, informando que o comércio funcionaria normalmente. Os lojistas não ligam para o reclame do povo contra as reformas. Pensam em lucro. Não dialogaram com os sindicatos. E nós, compreendendo a necessidade de fazer nossa voz ecoar, dissemos o contrário da CDL. Dissemos que o comércio não iria funcionar. Dissemos que o povo pode ainda muito mais e que hoje foi um encontro de muitos, se as reformas não pararem.
Pedimos que as lojas fechassem. Elas fecharam. Todo o centro comercial cedeu ao nosso apelo de luta pela greve geral. E terminamos com um piquete nas portas da Companhia Valença Industrial (Valença Têxtil), para dizer à imponente indústria que opera nestas terras desde o século XIX, que os trabalhadores têm o direito à greve, à luta e o dever de conquistas a mais e mais direitos. Os capatazes e seguranças daquela empresa pressionaram os trabalhadores e chamaram até a polícia, mas nós só levantamos o piquete no diálogo com os operários da fábrica.
Muitos não gostaram. Se chatearam com trânsito e comércio fechados. Mas, a verdade é que apenas poucos da cidade não deveriam se importar, pois poucos serão os beneficiados com o ataque que os trabalhadores vêm sofrendo nas mãos do mau governo. Então, não há problema. Podem bradar e publicar no face que creem que fechar as lojas foi errado. Cara, vocês nem entenderam ainda que a maior parte dos empresários impedem o direito de greve por chantagem de demissão. Nós somos uma República, não uma fazenda comandada por um coronel. E enquanto vocês defendem o conservadorismo capitalista, nós estamos nos reunindo e dizendo: é só o começo.
Então. companheiras, companheiros, irmãos e irmãs das mesmas dores, avancemos. Que o dia 28 de abril seja um dia para ser lembrado pela ousadia e coragem do povo e pela importante experiência de nos encontrarmos, trabalhadoras urbanas, estudantes, sem terras, pescadores, educadoras e tanta gente que não podemos contar. Anotai: se as reformas passarem, não pediremos, tomaremos o que é nosso. O povo tomará Valença para si.
Fotos de Zai Pereira.
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