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A greve geral por detrás dos muros da refinaria

Mauá- SP- Brasil- 04/10/2015- Greve dos funcionários da refinaria de Capuava, que pertenece a Petrobras, em Mauá, região do ABC Paulista. Foto: Roberto Parizotti/ Secom CUT

Por: Pedro Augusto Nascimento, de Mauá, SP

Torres, tanques, bombas e reatores. Para muitos, pode soar como arsenal bélico. Hoje, no entanto, não deixam de ser armas de guerra contra a artilharia de Temer, pois para os petroleiros, essas palavras soam a trabalho. Mas também a resistência, no peculiar mundo das refinarias, plataformas e terminais de petróleo.

Peculiar também é a forma como milhares de petroleiros estão experimentando a maior greve geral, ao menos dos últimos trinta anos, no Brasil. Para aqueles que tiveram a sua rendição cortada, desde as 23h00 do dia 27, ou pela manhã do dia 28, a contribuição dada à greve geral são 24, ou até 32 horas ininterruptas de trabalho.

A primeira vez, a gente nunca esquece. Custei a acreditar, em 2012, que uma categoria de trabalhadores pudesse voluntariamente votar em assembleia uma forma de mobilização tão sacrificante. As turbinas não param seu som ensurdecedor nem por um minuto. Quilos de equipamento de proteção, num ambiente hostil, onde produtos químicos e o perigo de fogo são uma ameaça constante.

Na votação para uma greve de 24 horas, os trabalhadores do turno sabem que um dos três grupos que estiverem na escala, no dia, ficará com a missão de encarar mais de um turno de trabalho de forma ininterrupta. Em greves mais longas, ocorre de petroleiros trabalharem mais de 40 horas, de forma ininterrupta, até a parada de uma refinaria ou terminal, ou mesmo a entrega das operações para o grupo de contingência.

No entanto, poucas assembleias tiveram um clima tão unânime quanto na votação da greve geral que estamos realizando hoje. É preciso admitir: nem todas as tradições devem ser quebradas. Aprendemos com as gerações anteriores de petroleiros que sem resistência caímos de joelhos, e que o sacrifício é uma escola de solidariedade, abnegação e combatividade. É assim que forjamos o nosso futuro.

Há uma novidade, no entanto. Há mais de vinte anos essa categoria não entrava de forma tão consciente numa greve de conteúdo eminentemente político. Não se trata da campanha salarial, ou da luta pela PLR. Tivemos a oportunidade de nos reconhecer numa mesma causa que nossos irmãos de classe. Professores, metalúrgicos, motoristas e cobradores de ônibus, bancários, trabalhadores da construção civil, servidores públicos e até mesmo estudantes. Todos com uma causa comum: a luta contra as reformas da previdência e trabalhista. Todos com um inimigo comum, o governo ilegítimo de Temer e o Congresso. Para alguns, golpistas, para outros, corruptos e mais do mesmo. Para todos, inimigos a serem batidos.

Duas lições podemos tirar, ainda agora, na metade desse dia histórico. A primeira, é que somos uma classe social poderosa, capaz de parar o país quando mobilizados e unidos. A segunda, é que precisamos usar essa força, de forma cada vez mais concentrada e contundente, até a derrota de Temer e do Congresso, e de suas reformas do fim do mundo. Eleições gerais é o mínimo que podemos exigir, após inviabilizarmos esse governo com a vitória de nossas ações.

Lá se vão vinte e quatro horas desde que chegamos na Refinaria de Capuava, em Mauá. Ao menos mais oito horas nos esperam. Do lado de fora, muitos de nossos companheiros estão nos piquetes e tomarão as ruas em breve, em atos nas grandes cidades. Alguns desses virão nos render, no final desse dia que não sairá da memória da nossa classe.

Aqui, do lado de dentro dos muros da refinaria, dos terminais, usinas e plataformas, a greve continua. Do nosso jeito. Não há pressa, pois temos uma missão a cumprir. Que saiamos vitoriosos. A virada, é agora.

#ForaTemer

#EleiçõesGerais

#EuApoioAGreveGeral

Foto: Roberto Parizotti/ Secom CUT