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BRASIL

Rio: relato de um escracho em Jair Bolsonaro, no clube Hebraica

Por: Isabel Gomide, do Rio de Janeiro

Segunda-feira (04), dia 3 de abril, mais um dia pra entrar na historia da cidade, mais uma luta contra a intolerância! Um ato espontâneo, convocado pelas redes sociais, “Não em nosso nome”, aconteceu na porta do Clube Hebraica. O Protesto era contra o convite feito pela presidência da sucursal do clube, no Rio de Janeiro, em nome da comunidade judaica, para a palestra do deputado Jair Bolsonaro.

Moro bem perto do clube e não consegui ficar em casa, sabendo que judeus estariam lutando mais uma vez contra fascistas, sendo mais uma vez humilhados. Nesse caso, um político fascista que costuma dizer que bandido bom é bandido morto, que é declaradamente contra gays, lésbicas e a favor do militarismo na política. Esse homem deseja ser presidente do Brasil e ao que tudo parece, será candidato em 2018.

Cheguei às 18h e havia umas 30 pessoas na calçada. Meia hora depois o número de pessoas entre judeus e não judeus revoltados, havia triplicado. Pessoas que perderam seus parentes no holocausto junto com pessoas que perderam seus parentes na ditadura e pessoas como eu, que somente estavam solidárias, porque não aceitam mais esse tipo de coisa no mundo. As pessoas chegavam com seus cartazes escrito “Tortura Nunca Mais”, #NãoEmNossoNome, fotos das mulheres mortas pela ditadura, um rapaz tinha uma estrela de David colada no peito com a palavra GAY. Jovens de uniforme azul, escrito em hebraico alguma coisa, com faixas e cartazes contra o apoio do clube ao fascista da vez. Um ator de teatro judeu, vestido com um uniforme de campo de concentração. Fotógrafos amadores e mídia ativistas, misturados com cinegrafista daquela TV capitalista que apoiou a ditadura, e ainda apóia.

Encontrei amigos, vizinhos e conhecidos, todos muito indignados com a situação. De repente, surge um homem alto, vestido de branco, muito revoltado, urrando palavras fortes que prontamente foram repetidas por todos: “torturador”, “vergonha”, “fascista”… Depois dessa, a raiva de todos os presentes ecoou por Laranjeiras, deflagrou uma série de palavras de ordem “pela vida, pela paz, tortura nunca mais”; “Vladimir Herzog, presente!”; “Iara Iavelberg, presente!” e outros nomes de mulheres judias mortas pela ditadura.

Alguns dirigentes do clube, protegidos por uma grade na entrada principal, observavam os manifestantes com ironia e recebiam mais palavras: “eles estão rindo, não se comovem, não devem ter se comovido com o holocausto”, “esqueceram Auschwitz!”, “sabe o que foi holocausto?”

A PM que estava desde cedo se aproximou criando um cordão de isolamento. Cada convidado que entrava era chamado de traidor e fascista. Não sei se “ele” chegou e como foi sua entrada triunfal, infelizmente tive que sair cedo para um compromisso. Atravessei a rua muito mexida em ver tantas feridas ainda abertas. Queria abraçar todos naquela calçada. Encontrei uma amiga querida na calçada em frente, nos abraçamos forte e ela agradeceu minha presença solidária. Eu perguntei porque não se juntava aos outros, ela disse que preferia ficar de longe e que agradecia que sua mãe não estivesse mais viva, para não precisar presenciar esse dia no Rio de janeiro.

Algumas frases do Bolsonaro:
“O erro da ditadura foi torturar e não matar.”
“Pinochet devia ter matado mais gente.”
“A PM devia ter matado 1.000 e não 111 presos.”
“Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater.”

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