Por Thiago Tibita, do Rio de Janeiro
Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, foi morta na tarde desta quinta-feira, 30 de março, dentro da Escola onde estudava em Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Os policiais iniciaram um tiroteio com dois suspeitos, que foram feridos. Durante a troca de tiros, Maria Eduarda foi vítima de 4 tiros, o que derruba imediatamente a hipótese da bala perdida. Os policiais atiraram ou em Maria Eduarda, ou sobre outros suspeitos, sem a mínima preocupação com a segurança dos moradores e das crianças que estudavam.
Após balearem não apenas a estudante, mas os dois suspeitos, os policiais executaram à queima roupa os suspeitos desarmados e feridos. Na sequência, deram tiros para o alto, e usaram bombas de efeito moral para dispersar os colegas, professores e vizinhos de Maria Eduarda que tentavam prestar socorro à menina.
Todos esses atos monstruosos desses policiais surgem de um adestramento ideológico insuflado pelos discurso do ódio, segundo o qual: bandido bom é bandido morto, direitos humanos são para defender bandidos e questionar a polícia e seus métodos é estar do lado dos criminosos. Mais uma vez, uma família de trabalhadores terá de suportar a tristeza de enterrar sua filha, vítima de uma guerra sem resultados positivos, cujo único efeito é o extermínio de uma parcela da população.
A política de segurança assassina do Governo do Estado do Rio de janeiro, e sua principal executora a Polícia Militar fluminense retorna aos noticiários, como sempre chocando a população com sua ineficiência, violência e letalidade.
Violência como prática recorrente
A ONG Justiça Global divulgou uma nota comentando os números oficiais da Secretaria de Segurança Pública que reportam 182 homicídios por Policiais Militares no Rio, só nos meses de Janeiro e Fevereiro deste ano. A nota denuncia essas mortes, que aparecem disfarçados como “balas perdidas” ou “homicídios decorrentes de intervenção policial”, o novo nome dos Autos de Resistência; e aponta que as vítimas da Polícia permanecem as mesmas.
Os jovens negros e pobres são sempre os principais alvos e principalmente os da Baixada Fluminense e das favelas da cidade do Rio, cujos direitos são pisoteados sem qualquer cerimônia pela PM, basta lembrar que muitos moradores do Complexo do Alemão, recentemente, foram expulsos de suas casas para que a PM as usasse como base.
A ONG em sua nota chama a atenção também para como essa política de extermínio se expressa nos gastos e nas previsões orçamentárias do Estado do Rio. Um governo que parcela o salário de seus servidores (inclusive dos próprios policiais), mas gasta milhões com munição letal e menos letal. Uma gestão que gasta mais com a Secretaria de Segurança (R$ 7,6 bilhões) do que com Saúde (R$ 6,6 bi), Educação (R$ 5,4 bi) ou Ciência e Tecnologia (R$ 2,9 bi).
Como se não bastasse os dados revelados que demonstram a opção do governo e dos partidos que o compõem pelo extermínio e repressão contra os trabalhadores pobres, a morte de Maria Eduarda nos trouxe um trágico exemplo das consequências dessa política genocida.
É preciso agir
Aqueles que apoiam esse discurso e essa política genocida, seja por seus interesses, por conveniência, ou por ignorância, se tornam cúmplices dessa morte, de todas as outras, e de cada gota de sangue que escorre pelo chão das favelas.
Aqueles que não quiserem ser cúmplices, devem seguir divulgando e compartilhando essas denúncias. Mas devem também transformar toda dor e ódio que essas tragédias fazem surgir em disposição de luta. Luta para que os investimentos dos governos sejam aplicados na vida e não na morte de seus governados. Luta pelo fim da “guerra às drogas” e pela legalização, que nos permitirá acabar com o tráfico e tratar os usuários como problema médico e não como criminosos. E pela desmilitarização da polícia, para que as pessoas não sejam mais vistas como inimigos ou como dano colateral por aqueles que deveriam as proteger.
Foto: Maria Eduarda, no basquete. Foto publicada na internet pela vítima.
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