Da Redação
A ginástica masculina levou, pela primeira vez nessa Olimpíada, dois atletas brasileiros ao pódio: Diego Hipólito, que, depois das derrotas de 2008 e 2012, conquistou a prata no solo, e Arthur Nory com o bronze. É claro que nos alegramos em ver um país atrasado e pobre como o Brasil subir ao pódio. No entanto, não é possível olhar o feito de Nory sem lembrar o seu envolvimento no caso de racismo ocorrido na equipe de ginástica em maio de 2015.
Em um episódio que chegou a ser registrado em vídeo e divulgado nas redes sociais como brincadeira entre amigos, o atleta Angelo Assumpção foi alvo de ofensas raciais por seus companheiros de equipe. O caso acabou tomando grandes proporções, e, segundo relatos, a Confederação Brasileira de Ginástica, mesmo tendo repudiado o ato, pressionou os atletas da equipe, incluindo Angel, a publicar um vídeo conjunto onde minimizam o acontecimento. Casos como esse de racismo são recorrentes no esporte brasileiro, como o ocorrido com o goleiro Aranha. Mais recentemente, a goleira Bárbara da seleção de futebol também foi vítima de manifestações racistas.
O racismo está profundamente enraizado na sociedade brasileira. É reflexo de 388 anos de escravidão, de uma sociedade onde os negros são marginalizados e assassinados nas periferias. O racismo de Arthur Nory não pode ser esquecido porque é o reflexo do lado elitista das olimpíadas, porque tem a cara das remoções forçadas e o rosto branco das arquibancadas. A vitória de Arthur Nory não é uma vitória do Brasil que queremos.
Reivindicamos outra olimpíada. Aquela que consagrou como mito do esporte Usain Bolt, um jovem negro e pobre do interior da Jamaica, primeiro tricampeão olímpico dos 100 metros rasos; aquela que deu a primeira medalha de outro do Brasil para Rafaela Silva, mulher negra, lésbica e moradora da Cidade de Deus, que foi vítima de racismo nas Olimpíadas de 2012 e que, com suas lágrimas, tocou o coração de milhares de brasileiros. Somos aqueles que reverenciamos Teddy Riner, francês e negro, bicampeão olímpico do judô, um dos maiores atletas da história da França, porque sua vitória também é uma arma na luta contra o racismo e em defesa dos imigrantes.
Atletas são heróis e inspiração para milhões em todo o mundo. Ver Usain Bolt e Rafaela Silva motiva crianças e jovens negros e de periferia a vencer desafios. Isso é particularmente importante em uma sociedade excludente como a brasileira, que atribui a miséria, a violência e a exclusão social à preguiça, à falta de vontade e à índole dos pobres e oprimidos. Representatividade importa.
É preciso repensar o esporte no Brasil desde as suas bases, mas também é necessário que atitudes racistas, homofóbicas e machistas sejam punidas exemplarmente, para que a referência de milhares de brasileiros não sejam atletas que reproduzem o que de mais retrógrado existe na nossa sociedade.
Bolt e Rafaela são negros, nascidos em países periféricos e que através do esporte se tornam referência mundial. A conquista de Bolt neste domingo está sendo comentada em cada padaria e café no Brasil e no mundo. O choro de Rafaela Silva emocionou todos os brasileiros. É o melhor que há nos jogos olímpicos. De outro lado, o bronze de Arthur Nory não representa o que são os atletas do país. O povo humilde e trabalhador do Brasil não merece heróis racistas. Por MAIS Bolts e Rafaelas!
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