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BRASIL

6 mentiras e 1 verdade sobre a escala 6×1

Matheus Hein, de Porto Alegre (RS)
Movimento Brasil Popular

Entre todas as dificuldades de 2024, tivemos uma surpresa: a força que a luta contra a escala 6×1 tomou por todo o Brasil. A partir da iniciativa do movimento Vida Além do Trabalho (VAT) e da PEC elaborada pelo movimento com a deputada Erika Hilton, a luta pelo fim dessa escala encontrou grande apelo entre a população: 64% dos brasileiros defendem o fim da 6×1. É claro que os empresários, seus representantes políticos e a grande mídia lançaram uma contra-ofensiva para defender seus lucros. Aqui vamos desmentir 6 falácias de quem defende a 6×1 e contar 1 verdade sobre essa escala que rouba a vida de tantos trabalhadores brasileiros.

1ª Mentira: “A 6×1 é necessária para a economia não quebrar”

“Se acabar a 6×1 como vai ficar o comércio? Os serviços? Vai quebrar a economia”. Talvez essa seja a justificativa mais comum para quem defende a escala 6×1. Também é uma gigantesca mentira, já que vai na contramão de todos os dados referentes a redução de trabalho no mundo. Na prática, países que adotaram jornadas reduzidas registraram resultados econômicos positivos, como maior eficiência produtiva e redução de problemas de saúde ocupacional. Dados do DIEESE indicam que, no Brasil, a redução da jornada para 36 horas poderia gerar milhões de novos postos de trabalho, distribuindo melhor a carga laboral sem prejudicar o desempenho econômico geral. Ou seja, a redução da jornada de trabalho, e o fim da 6×1, não apenas não quebraria a economia, mas ao contrário, possibilitaria melhor a situação econômica do país.

2ª Mentira: “A 6×1 é flexível e beneficia o trabalhador”

Um dos maiores mitos do neoliberalismo é o da “flexibilidade que beneficia o trabalhador” e isso é muito comum referente à 6×1. Segundo os defensores da escala, a 6×1 permitiria aos trabalhadores uma maior flexibilidade já que não estariam “submetidos a uma escala rígida como a 5×2” e nem teriam a imposição do final de semana como dias de descanso. Novamente, os dados apontam o oposto. Pesquisas indicam que trabalhadores submetidos a essa escala enfrentam altos índices de exaustão, o que prejudica tanto a saúde mental quanto física, especialmente com a liberação constante de cortisol, o hormônio do estresse. Não por acaso, o Brasil é o segundo país com maior número de casos de Burnout. De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout. Os relatos dos trabalhadores submetidos à escala 6×1 apontam cansaço extremo, falta de ânimo e uma exaustão física e mental. Acabar com a escala 6×1 é extremamente benéfica para o trabalhador já que corresponderia numa redução do desemprego (menos horas de trabalho para cada trabalhador significaria a contratação de mais trabalhadores) e, por consequência, melhores ofertas de salários, pois a diminuição da massa de desempregados permitirá uma maior margem de negociação e vantagem para os trabalhadores na venda da sua força de trabalho.

3ª Mentira: “A escala 6×1 aumenta a produtividade das empresas”

Conectada com a primeira mentira, essa diz respeito à produtividade das empresas. Estudos mostram que jornadas exaustivas aumentam o cansaço e reduzem a eficiência dos trabalhadores. Além disso, a falta de descanso adequado eleva os índices de erros, acidentes e afastamentos por problemas de saúde. Como mencionado anteriormente, o Brasil é um país com uma “epidemia” de Burnout e essa, assim como outras condições mentais e físicas resultantes de jornadas abusivas, impactam diretamente as condições de vida do trabalhador e, por consequência, a própria produtividade.. Nos testes realizados em modelos de semana reduzida – como na Islândia, Bélgica, Holanda e Dinamarca – houve aumento de eficiência e queda no absenteísmo. Isso demonstra que o cansaço é um obstáculo à produtividade, e não um preço necessário para ela. O que a mentira da produtividade da 6×1 esconde é o fato da burguesia nacional ser capacho da burguesia imperialista do norte global. Para que países europeus possam testar a redução da sua semana de trabalho, é preciso que países como o Brasil explorem ainda mais a sua classe trabalhadora.

4ª Mentira: “A escala 6×1 é uma escolha racional em setores essenciais”

Embora setores como saúde e serviços exijam operações contínuas ou mais longas, isso não justifica a escala 6×1 como regra. Um mesmo trabalhador não precisa cumprir 6 dias de trabalho, já que a contratação de uma maior quantidade de trabalhadores possibilitaria uma jornada menor para cada. Outras alternativas são escalas com um maior período de trabalho contínuo, mas igualmente compensado por um período de descanso ainda maior — como ocorre em alguns casos na saúde. Sim, setores essenciais não podem parar. Não, para que não pare não é preciso que trabalhadores sejam submetidos a jornadas exaustivas sem tempo real de recuperação.

5ª Mentira: “A 6×1 está alinhada aos padrões globais de trabalho”

Como demonstrado anteriormente, o mundo do trabalho não está na direção de escalas como a 6×1. Além dos países citados, a Inglaterra realizou um programa piloto de jornada reduzida que demonstrou que 92% das empresas que adotaram a jornada reduzida mantiveram ou aumentaram sua receita, enquanto 71% dos trabalhadores reduziram o estresse. Essas experiências comprovam que não apenas é possível mudar, mas também que os resultados beneficiam tanto empregadores quanto empregados. O correto seria afirmar que “A 6×1 está alinhada à divisão global do trabalho”, como afirmamos no ponto 3. A realidade demonstra a validade do conceito de “superexploração” que Ruy Mauro Marini desenvolve: a superexploração acontece quando a classe trabalhadora da periferia do capitalismo é submetida a uma maior intensidade de trabalho, com menores salários e uma sobrecarga de jornadas, em comparação aos trabalhadores dos países centrais do capitalismo. Isto ocorre por um conjunto de fatores, como a dependência econômica, a subordinação ao capital financeiro internacional, a estrutura precária do mercado de trabalho e a ausência de direitos trabalhistas efetivos. Assim, a superexploração seria uma das formas específicas de exploração no capitalismo dependente em que o trabalhador é “explorado além dos limites normais”, contribuindo para a concentração de riquezas em poucas mãos, tanto na periferia quanto no centro do capitalismo, aprofundando as mazelas sociais dos países da periferia.

6ª Mentira: “A 6×1 é indispensável para atender às demandas do mercado”

Chegando na 6ª mentira já é bem evidente a quem a escala 6×1 favorece: o mercado. Tudo que existe de mais avançado no que diz respeito ao mundo do trabalho deixa evidente que jornadas reduzidas, como as de 36 ou até 32 horas semanais, podem ser tão, ou até mais, eficazes do que as tradicionais. Essas jornadas não só mantêm a produtividade, como também promovem um ambiente de trabalho mais saudável e equilibrado, resultando em uma força de trabalho mais engajada e satisfeita. Mas, para o mítico “mercado”, no Brasil é inaceitável. Ao mesmo tempo que uma escala abusiva como essa corresponde aos interesses imperialistas, também corresponde aos interesses da burguesia nacional em manter os seus gastos o mais apertados possíveis e os lucros mais exorbitantes que puderem. Como mencionado, acabar com a a escala 6×1 levaria a uma redução do desemprego e aumento de salários o que, é claro, para a burguesia nacional e internacional é inaceitável — o impacto nos seus lucros seria mínimo, mas toda concessão aos trabalhadores é vista como impossível ao capital nesse estágio.

1 Verdade: “A 6×1 é desumana e precisa acabar”

6 dias de trabalho. 6 dias acordando cedo, dormindo tarde. 6 dias engolindo a comida rapidamente, correndo para pegar o ônibus, enfrentando trânsito. 6 dias resolvendo problemas, atendendo pessoas, fazendo sacrifícios para bater suas metas. 1 dia para descansar, cuidar da casa, ver os amigos, visitar a família, passar tempo com os filhos, conhecer lugares novos, fazer algo que ama, viver. Não precisa de muitos argumentos para defender o fim da escala 6×1. Agora, para defender que ela permaneça, só com muitas mentiras. A verdade é apenas uma: a escala 6×1 é desumana, bárbara, e precisa acabar. A classe trabalhadora tem o direito de viver, não apenas sobreviver. Queremos vida além do trabalho!

Matheus Hein é militante da Resistência-PSOL e do VAT

 

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