Do rio Jordão ao mar Mediterrâneo – um único Estado democrático
Há dois meses é o horror em Gaza. Israel rompeu a “pausa” de sete dias, mas com honrosas exceções, a maioria dos editorialistas repete a narrativa sionista que justifica o bombardeio de civis. Há mais de 15 mil mortos, 6 mil crianças. Para nós, que aqui assinamos, de origem palestina, um, e de origem judaica, o outro, as crianças estraçalhadas na Faixa de Gaza são iguais às crianças estraçalhadas no gueto de Varsóvia.
A resistência palestina está de pé. Sucedem-se atos pelo cessar-fogo, dos judeus de Nova York aos muçulmanos de Kerala (Índia), com várias crenças e sem crença. Milhões nas capitais do mundo.
Há manifestos de intelectuais e artistas, entidades médicas e de direitos humanos. No último dia 29, 50 atos expressaram a solidariedade ao povo palestino no Brasil. No dia 30, os sindicatos de portuários europeus fizeram ações de protesto, o porto de Marselha parou por uma hora. E dia 1º de dezembro nos EUA, o poderoso sindicato UAW pediu o cessar-fogo.
Agencias da ONU já se posicionaram, mas como instituição a ONU nada fez de prático. Não obstante, ela define o genocídio como “a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso enquanto tal”. É o que repete Benjamin Netanyahu, armado por Joe Biden, inclusive na limpeza étnica na Cisjordânia.
Nós, que assinamos, perguntamos: como é possível o bombardeio de civis por dois meses? Para nós, isso é uma expressão, há outras – fome e miséria, desemprego, meio ambiente – de uma ordem internacional esgotada, que ameaça arrastar a humanidade para o caos das guerras, o abismo.
Rosa Luxemburgo, revolucionária de ascendência judaica assassinada na Alemanha em 1919, formulou o agudo dilema “socialismo ou barbárie”. Nada mais atual. Se a revolução está atrasada, traços da barbárie protuberam.
É um extermínio bárbaro, o que estamos vendo em Gaza. Ele vem de longe. A partilha da Palestina histórica começou em 1917. Lorde Balfour, ministro de Sua Majestade britânica, o ocupante militar, enviou uma carta ao banqueiro Rothschild prometendo-lhe um “lar nacional judaico”, bandeira do então minoritário sionismo.
A partilha final, na ONU em 1947, foi bancada por Harry Truman, dos EUA, e Joseph Stalin, da antiga URSS, interessados no enclave sionista para manipular os árabes e suas riquezas petrolíferas. Mas a maioria dos milhões de judeus traumatizados que saíram do leste da Europa no pós-guerra, não foram para Israel, foram para EUA, Canadá, Austrália, Europa Ocidental e América Latina.
Israel não respeitou as fronteiras da fundação, nem os “acordos de paz”. É um Estado em guerra permanente – com as detestáveis mortes de civis em todos os lados – para ampliar fronteiras “seguras”, frente à inaceitável expropriação e expulsão de 750 mil palestinos na Nakba. O Estado-apartheid de Israel nega aos palestinos o direito ao retorno, e aos do interior, os direitos civis.
Hoje, está claro que faliu a solução dos “dois Estados” – Israel e a chamada Autoridade Nacional Palestina.
Não é razoável que o governo do presidente Lula mantenha relações “normais” com um Estado-apartheid genocida. É hora de escalar o bloqueio dos contratos militares, de convênios culturais e de relações comerciais, até a ruptura das relações diplomáticas.
Nós, que aqui assinamos, começamos jovens a combater o sionismo em diferentes situações, todavia, juntos propomos esta reflexão à opinião pública. É preciso garantir direitos iguais aos dois povos que conviveram e, por trabalhoso que seja, podem voltar a conviver fraternalmente, sem racismo nem opressão, na forma soberana que decidam.
Nós nos associamos às todas as vozes contra o genocídio, em particular, ao One Democratic State Campaing, de palestinos e judeus como Haidar Eid, professor de literatura em Gaza, e Ilan Pappé, historiador israelense. Estamos juntos por ajuda humanitária, fim da colonização, liberdade para os palestinos, por um único estado democrático.
Comentários