Na quarta-feira, dia 17, foi instalada na Câmara dos Deputados a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar as ações do MST. A relatoria da comissão ficará com Ricardo Sales, conhecido pelo papel de apoio ao desmatamento e à grilagem durante o governo Bolsonaro. A CPI é uma demanda da bancada ruralista que busca investigar as ocupações de terra que esse movimento social realizou, no mês de Maio, em áreas da fazenda Suzano no Sul da Bahia, ocupações que inclusive já foram finalizadas pelo movimento.
Do ponto de vista do objetivo de uma CPI, ela já nasce deformada, pois, investiga uma ação que já ocorreu e que a justiça já atuou sobre, assim como outras ocupações de terra que o movimento pode vir a fazer. Essa CPI não cumpre a função social daquilo que deveriam ser CPIs, não traz nenhum fato novo para análise, somente aumenta a tensão que já existe no campo e no interior do país.
Ela é uma instrumentalização daquilo que são CPIs no Congresso para realizar uma disputa ideológica. É no campo da batalha das ideias que essa CPI atua. Os deputados de extrema direita e os defensores do agronegócio e dos latifúndios vão utilizá-la para disparar fake news contra o movimento, buscar atacar e desmoralizar a luta camponesa, e assim inflamar a base social reacionária de extrema direita.
O que se desenha é que essa CPI seja um grande teatro. Um palco armado para os deputados de oposição subirem, atuarem, garantirem seus cortes de melhores momentos para rede social e fazer uso do discurso de ódio e da violência contra o governo Lula, contra a Reforma Agrária e contra os movimentos sociais.
É provável que os grandes meios de comunicação, em especial aqueles ligados ao agronegócio, como a Band, e os ligados ao pensamento mais conservador e reacionário, como a Jovem Pan, CNN e o SBT, utilizem seus noticiários, páginas na internet e toda sua influência para buscar desmoralizar o MST e a luta no campo.
Essa unidade contra a reforma agrária feita pela grande mídia e deputados de extrema direita vai buscar por o governo e poder Judiciário na defensiva e gerar uma pressão social para que esses não aceitem as demandas do INCRA e não pautem a desapropriação de terras (coisa que o governo Lula vem fazendo de forma muito tímida até aqui).
Politicamente essa CPI atua como uma contraofensiva por parte da extrema direita. Ela busca desestabilizar e frear o movimento campesino que vinha numa crescente, no maior ritmo de ocupações desde a luta contra o Golpe em Dilma, assim como dividir setores governistas, antes que novas grandes ocupações venham ocorrer, e que o governo se coloque ao lado do movimento popular.
Do lado dos movimentos populares, é necessário que se busque discutir com parte da população as razões das ocupações, os males do latifúndio, da grilagem e os perigos dos agrotóxicos, construindo uma rede de apoio e solidariedade ao MST e aos demais movimentos de luta pela terra.
A CPI colocará o nome do MST em evidência, é hora da disputa de narrativa. Tivemos concomitante a instalação da CPI, a Feira Nacional da Reforma Agrária, realizada em São Paulo e que contou com agricultores de todo o território nacional. Foi um momento que se mostrou a força da luta camponesa e da pauta da reforma agrária, sendo doadas 38 toneladas de alimentos e reunindo 320 mil pessoas ao fim do evento.
O MST foi fundamental em um dos momentos mais dramáticos de nossa história: a crise social e humanitária da fome que atingiu grande parte do povo brasileiro durante o governo Bolsonaro. Foi o MST um dos principais articuladores de campanhas de solidariedade para combater a fome e a miséria, doando milhares de quilos de alimentos nas periferias das principais capitais brasileiras.
Hoje, são quase 100 mil famílias que estão assentadas aguardando demarcação de terra por parte do governo federal. Em sua maioria, famílias de afrodescendentes e da região nordeste.
A luta do MST é uma luta justa e necessária. Faz refletir sobre para que serve e qual o papel da terra no Brasil. Qual o papel dos alimentos que aqui são produzidos. Uma luta por uma alimentação saudável e contra a concentração da terra na mão de uns poucos. O latifúndio que marcou a trajetória do Brasil, hoje aparece com nome de agronegócio, e traz elementos como “pop” e “tec” para se embelezar. Mas na verdade, o novo agronegócio, tão bem pintado nas novelas da globo, é o velho latifúndio, que traz monocultura, degradação
do solo, desmatamento e fome.
A verdade é que com concentração de terra na mão de poucos donos não existe democracia. Ocupar terras não é somente uma ação fruto da vontade de algum movimento social. Ela é um processo natural do fato de existir milhares de pessoas sem terras, milhares de hectares com terras improdutivas e capacidade de organização popular. Enquanto existirem terras improdutivas, seguirá existindo as ocupações de terra.
Todo apoio ao MST, aos demais movimentos de luta camponesa pela reforma agrária, por teto, trabalho e terra.
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