As eleições do ANDES-SN se realizarão nos dias 10 e 11 de maio próximo. Momento fundamental para o movimento sindical em geral, pela importância, legitimidade e trajetória desta entidade na organização da classe trabalhadora brasileira. A situação é complexa e gera tensão face aos desdobramentos políticos e na relação de forças advindos com o desenlace dessa eleição. Alguns professores /as se perguntam o que separa as chapas que se apresentam. Estão perplexos (as) por existirem duas chapas (Chapa 1 – ANDES de Luta pela Base e Chapa 2) que compartilham um histórico de luta comum, mas que agora se enfrentam. Embora o processo reflita uma disputa política, legítima, democrática entre correntes à esquerda, no fundo, o que está em jogo é a independência de classe de um dos maiores sindicatos combativos do país. Retomemos:
O Sindicato Nacional de Docentes do Ensino Superior – ANDES-SN é um importante espaço em nível nacional que reúne cerca de 65.000 afiliados em todo o Brasil, com organização de base em todas as universidades públicas, Institutos Federais e CEFETs. Tem um longo histórico de influência e liderança nas lutas da classe trabalhadora do país e é reconhecido pela vanguarda dos ativistas sociais como um potente sindicato classista, que construiu historicamente independência e autonomia frente aos governos vigentes, articulado com sua base em todo o país, pela sua forma de organização democrática.
Historicamente, a direção do sindicato defendeu, desde seu surgimento há 40 anos, os princípios do sindicalismo combativo na luta pelas reivindicações de trabalhadores (as) do setor. E também, encabeçou inúmeras lutas e greves nacionais, unificando com outros sindicatos, movimento estudantil e movimentos sociais, sendo vanguarda em nível nacional. Este legado está hoje representado, sobretudo, pela corrente “Andes de luta pela base”, que tem dirigido o sindicato nas últimas gestões.
No último congresso no mês de fevereiro de 2023, foram apresentadas as chapas que disputarão a direção do sindicato nacional, porém a campanha eleitoral e a eleição se realizam nos locais de trabalho, com ações e iniciativas que contribuem para o debate democrático e qualificado acerca dos programas e concepção sindical, ou seja, não estão concentradas na organização de um congresso como ocorre em outros setores sindicais. Nesse pleito eleitoral, ao contrário de outros vivenciados nos últimos anos, três chapas se apresentam para eleição do ANDES-SN: duas do campo da independência de classe (Chapa 1 e chapa 2) e uma outra liderada por militantes do PT (chapa 3).
Porque duas chapas do campo da independência de classe? Por que há divergências na avaliação sobre os acontecimentos políticos no país: a existência e o significado do golpe de 2016, a prisão de Lula enquanto parte da consolidação do golpe, o avanço da extrema direita e o neofascismo no país, a razão dos retrocessos e os desafios da atual conjuntura. Apesar destas diferenças, sempre estivemos entre os que defenderam ser possível e importante construir uma chapa unificada de todos os defensores da manutenção do caráter classista do sindicato.
Esse conjunto de divergências acumuladas nos últimos anos, se acentuaram no último congresso, quando foi deliberada a desfiliação da central sindical CSP CONLUTAS. No último congresso em 2022, depois de um ano e meio de intensos debates, foi votado por maioria a saída do ANDES da Central. Essa decisão foi resultado de um processo de discussão, amadurecimento e votação democrática na base do sindicato e, portanto, deve ser acatada. Agora é necessário iniciar um processo de debate na perspectiva da organização de uma frente única dos trabalhadores e trabalhadoras.
A divisão do campo da independência de classe em duas chapas traz o risco da Chapa RENOVA do PT ganhar a eleição sindical, o que significaria que um importante sindicato nacional poderia passar a ser dirigido por uma concepção adesista ao governo e desta forma perder o papel histórico que teve nas lutas frente ao governo, ou seja, com independência. É preciso enfrentar este cenário e a perda política que esse processo representaria, construindo militância na base da categoria, priorizando a unidade na independência de classe e não a autoconstrução das diferentes organizações, de modo fragmentado. E, sobretudo, é fundamental realizar uma campanha aguerrida da Chapa 1, em condições de impor uma derrota ao RENOVA.
Aprendendo com as experiências históricas da classe, sabemos do risco da fragmentação da esquerda durante os governos de conciliação de classe, por não conseguir concordar sobre como levar as relações da classe trabalhadora e suas legitimas organizações com o governo: o apoio incondicional, por alguns setores, e a total oposição, sem uma avaliação ponderada da correlação de forças vigente a cada momento, por outros, levaram a erros graves. Somente com autonomia e independência é possível construir uma política consistente, estável e flexível para enfrentar situações de grande complexidade. A eleição do ANDES é expressão também deste preocupante processo que, se não for bem resolvido, ameaça o acúmulo político conquistado pelos docentes desta entidade.
Apoiar a Chapa 1 e seu programa em defesa da universidade publica, das condições de trabalho da categoria e dos direitos e pautas históricas da classe trabalhadora é a única forma de impedir que o sindicato passe a ser dirigido por uma corrente que poderá transformar o ANDES em correia de transmissão do governo. O que precisamos, mais do que nunca, é preservar um sindicato firme frente a uma conjuntura difícil na qual temos, ao mesmo tempo, uma forte ameaça fascista e um governo de conciliação de classe permeado por contradições. Essa divisão do campo da independência de classe, além de trazer o risco de colocar o sindicato subserviente às pautas do governo em detrimento das demandas da categoria, afetaria também a democracia interna do sindicato baseada nas decisões em assembleias. Portanto, apoiar a Chapa 1 é defender a continuidade desse grande sindicato de luta. É apoiar a independência de classe!
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