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O Brasil precisa de radicais: O PSOL precisa de você!

Valerio Arcary

Professor titular aposentado do IFSP. Doutor em História pela USP. Militante trotskista desde a Revolução dos Cravos. Autor de diversos livros, entre eles Ninguém disse que seria fácil (2022), pela editora Boitempo.

  A coragem é a luz da adversidade

                                                                                                    Ditado popular português

1. O que é ser de esquerda? O que é ser radical? Ser de esquerda é aderir a uma visão de mundo que considera intoleráveis as injustiças sociais de classe, raça, gênero e sexualidade. Significa apoiar as lutas dos trabalhadores, dos movimentos populares e ambientais, negros e feministas, estudantis e indígenas, culturais e direitos humanos. Ser de esquerda é ser contra o capitalismo e os imperialismos. É ser internacionalista. Mas não há somente um partido de esquerda no Brasil. Há, realmente, muitos. Esta divisão se explica por muitas razões. Nem todas são boas razões, infelizmente. Mas o monolitismo de um partido único foi, também, nocivo, e até perigoso. Nenhuma classe social no mundo de hoje pode expressar a defesa dos seus interesses através de um só partido. Há uma divisão, em primeiro lugar, entre a esquerda mais moderada e a mais radical. A esquerda moderada aposta numa estratégia de regulação do capitalismo através de reformas progressivas. A radical defende a luta por reformas como uma tática justa, mas aposta numa estratégia de luta pelo socialismo. Dentro destes dois campos há subdivisões. Mas a imensa maioria da esquerda radical se organiza no PSol, na pluralidade de suas correntes internas.

2. O PSol precisa de você. A filiação a um partido político é mais um compromisso num momento em que a vida de quem é de esquerda não anda fácil, é verdade. O Brasil ainda está fraturado. E, apesar da vitória eleitoral apertada de Lula no ano passado, a presença da extrema-direita, em especial dos neofascistas é grande. Eles estão por todo lado, e não se deram por vencidos. Acumulamos traumas por anos, e estamos machucados. Mas é preciso ter força. O bolsonarismo não será derrotado sem luta. Unir-se a esquerda radical e participar, nas possibilidades de cada um, do grande desafio que está diante de nós exige coragem, mas, também, lucidez. A militância é uma entrega que cada um de nós faz de acordo com nossas disponibilidades. Ela pode ser mais ou menos intensa, mas é sempre, útil. Juntos somos mais fortes. Precisamos de todos. Precisamos de você.     

3. A história dos últimos quarenta e cinco anos, desde 1978, quando se iniciou o grande ciclo de reorganização da esquerda, depois da derrota histórica do golpe que instituiu a ditadura militar em 1964, confirmou que a esquerda mais combativa é necessária. Na luta contra o os governos Geisel e Figueiredo a esquerda se dividiu entre dois blocos. Os moderados defendiam a necessidade de não provocar os limites da transição “lenta, gradual e segura”. Em consequência, aceitavam a liderança da fração liberal do MDB. Os radicais defendiam a necessidade de derrubar a ditadura pela mobilização social. Em consequência  disputaram a liderança da oposição ao MDB construindo um partido de esquerda independente de classe. Foi a fundação do PT em 1980, da CUT em 1983 e do MST em 1984 que abriram o caminho para a campanha das Diretas em 1984, e a afirmação de Lula como porta-voz da classe trabalhadora. Estavam certos e foram úteis.

4. Entre 1985 e 1989, a esquerda moderada apoiou a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral da ditadura, e uma parcela até integrou o governo Sarney. A esquerda mais combativa recusou apoio à “transição pelo alto”, negociada com a alta oficialidade das Forças Armadas, e o PT se posicionou na oposição ao governo Sarney. A esquerda mais combativa impulsionou a resistência operária, popular, camponesa e estudantil que garantiu a primeira greve geral nacional no Brasil. Esta localização permitiu a conquista da autoridade moral e política que explica a presença de Lula no segundo turno de 1989 contra Fernando Collor, e não de Ulysses Guimarães do MDB, Brizola do PDT ou Roberto Freire do PCB. Estavam certos e foram úteis.

5. Durante os difíceis anos noventa a esquerda mais moderada, diante do impacto da derrota histórica que foi a restauração capitalista na ex-URSS e no Leste Europeu, sofreu forte pressão de adaptação política ao discurso de “fim da história”, “vitória final do capitalismo” e “morte do socialismo”. Foi um ”Deus nos acuda”. Uma parcela renegou o marxismo. A esquerda combativa esteve na primeira linha do Fora Collor, e defendeu não participar do governo Itamar Franco. Digeriu duas amargas derrotas de Lula, ainda no primeiro turno, em 1994 e 1998. Mas não parou de lutar nos movimentos sindical e estudantil e permaneceu, pacientemente, na oposição aos dois mandatos de FHC, preservando a defesa dos interesses populares. Essa perseverança explica a primeira vitória de Lula em 2002.  Estavam certos e foram úteis.

6. A ironia da história foi que as posições moderadas que, durante vinte e cinco anos, entre 1978 e 2003, se expressaram, essencialmente, exteriores ao PT, passaram a ser dominantes dentro do PT. A esquerda moderada assumiu a defesa incondicional dos governos do PT, o que significava o apoio a Meirelles no Banco Central e a Levy na Fazenda, entre outras negociações com setores da classe dominante. A esquerda radical terminou sendo expulsa do PT ou rompeu. Assim nasceu o PSol. Defendeu as reformas que eram progressivas, como, por exemplo, os aumentos do salário mínimo, e as cotas para jovens negros e indígenas, mas foi oposição de esquerda entre 2004 e 2015. Por isso, foi possível uma disputa nas jornadas de junho de 2013. Estavam certos e foram úteis.

7. A situação política mudou, drasticamente, quando, a partir do final de 2015, a maioria da classe dominante decidiu apoiar um golpe institucional disfarçado de impeachment. A esquerda combativa girou para a defesa do mandato legítimo de Dilma Rousseff, e foi para a rua contra o golpe em 2016. A prioridade foi a luta contra o governo Temer, a Lava Jato e a construção da Frente Única. A campanha Lula Livre foi uma expressão desta unidade. Desde o início de 2018, o assassinato de Marielle Franco engajou a esquerda mais combativa contra o perigo do crescimento da extrema-direita e da corrente neofascista, e da candidatura de Bolsonaro em 2018. O PSol e Boulos foram o mais sólido ponto de apoio para a campanha de Haddad no segundo turno. Durante quatro anos assumiu a primeira linha na resistência e, desde 2020, foi a primeira a sair às ruas pelo Fora Bolsonaro. A Frente Povo sem medo cerrou fileiras com a Frente Brasil Popular, e o PSol apoiou Lula desde o primeiro turno, em 2022. Estavam certos e foram úteis.

8. A esquerda combativa abraçou como sua a luta ambiental contra a ameaça devastadora colocada pelo aquecimento global: Denunciou, incansavelmente, as queimadas na Amazônia. Ao mesmo tempo, esteve na primeira trincheira da luta contra as opressões. O PSol assumiu a bandeira da luta contra o patriarcado e o machismo, contra o racismo e a homofobia. As candidaturas de lideranças feministas, negras e LGBTQIA+ e indígenas ocuparam um espaço central nas campanhas eleitorais, porque a militância do PSol esteve sempre comprometida, fraternalmente, com as lutas dos movimentos sociais. Estavam certos e foram úteis.

9. A esquerda radical esteve na primeira linha do internacionalismo. O PSol estabeleceu relações com a esquerda mais combativa na América Latina e no mundo. Manteve firme a defesa de Cuba e da Palestina. Defendeu a Venezuela contra as investidas golpistas orquestradas em Washington. Uniu-se à luta dos povos do Estado Espanhol que se expressou no movimento dos indignados do 15M desde 2011. Apoiou a luta contra a ditadura de Mubarak no Egito em 2012, fez sua a resistência do povo grego contra as imposições da União Europeia em 2013. Foi ativa a solidariedade com a explosão, de 2019, contra a constituição herdada de Pinochet no Chile, na resistência ao golpe na Bolívia, no apoio às mobilizações na Colômbia que abriram o caminho para a vitória de Petro e Francia. Delegações do Psol marcharam ao lado do movimento feminista na Argentina pela defesa do direito ao aborto livre e gratuito. O Psol se posiciona pelo cessar fogo imediato na guerra da Ucrânia.

10. Hoje o PSol defende como eixo tático a necessidade da unidade contra a extrema-direita, pela punição do bolsonarismo. Cumpriu um papel nas grandes manifestações de 9 de janeiro contra o golpismo no dia seguinte da semi-insurreição de Brasília. O PSol não integra o governo Lula e mantem independência, porque acredita que, diante da composição da Frente Ampla, com a presença de Alckmin, Simone Tebet, ministros da União Brasil e do PSD, a militância da esquerda radical é mais útil na organização e mobilização pela base dos movimentos sociais.

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