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MUNDO

Paralisação nacional no Peru pede a cabeça da Presidenta Dina Boluarte

David Cavalcante*, de Recife

O Peru ingressou numa profunda crise política desde a destituição do Presidente Castillo pelas forças da direita e extrema-direita que controlam o Congresso Nacional daquele país. O 7 de dezembro marca um ponto de inflexão de reinício, após as eleições de 2021, na luta política direta entre os segmentos populares, camponeses, indígenas, juventudes e trabalhadores, principalmente da região Sul do país, contra as forças lideradas pelo fujimorismo, a grande mídia empresarial, os grupos econômicos, as mineradoras e os segmentos reacionários do país. 

A advogada Dina Boluarte, eleita como vice de Castillo, que teve sua posse relâmpago elogiada pela Keiko Fujimori, e um rápido reconhecimento pelo governo Biden – e infelizmente também pelo governo Lula – após um processo relâmpago que destituiu o professor da Presidência e uma decisão judicial que o mantém preso até a presente data, vem escalando a repressão aos movimentos sociais e a matança ao ponto de já ter alcançado 50 mortos de ativistas e lideranças por ações letais das forças repressivas. Tudo isso sob o manto do chamado ao diálogo nacional que ao mesmo tempo vem acompanhado de decretos de Estado de exceção em várias regiões do país. 

A repressão é tamanha que só se compara com o período da ditadura de Fujimori, entre os anos 1990 e 2000, quando as forças armadas matavam de forma indiscriminada sob o manto da associação dos movimentos camponeses, sindical e estudantil aos grupos guerrilheiros. A Defensoria do Povo reportou até a presente data, 41 civis falecidos nos enfrentamentos, 9 por acidentes de trânsitos e fatos relacionados aos bloqueios e 1 policial, além de 722 civis feridos desde o dia 7 de dezembro. 

As manifestações populares, que haviam diminuído, entre o período natalino e ano novo, retomaram com força desde o início de janeiro e agora já alcançaram quase toda a Região Sul do país e algumas regiões do Norte, havendo bloqueios de estradas, greves e protestos, em 8 das 25 regiões do país, e nesta última semana envolvendo a província de Lima com um chamado a uma marcha nacional e paralisação, neste dia 19, que está sendo denominada como a “tomada de Lima”. Já são 89 pontos de bloqueio e 18 estradas nacionais afetadas. 

A Coordenação da Paralisação é dirigida pela Assembleia Nacional dos Povos, com representações da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru – CGTP, além dos Comitês Regionais que envolvem representação de camponeses, indígenas, cocaleiros, operários, pequenos comerciantes, sindicatos locais, federações de estudantes e movimentos sociais territoriais, grupos de esquerda como Movimento Unidade Popular e Novo Peru, entre outros. 

O discurso de unidade nacional perpetrado pela Presidente Dina Boluarte associado com uma brutal repressão, buscando isolar Castillo, não colou nem pacificou o país, ao contrário, a crise se agrava a a cada dia. As principais organizações populares do país pedem a renúncia de Dina a qual acusam de traidora e a dissolução do Congresso, para tanto retomam a principal bandeira que foi a principal proposta de Castillo para superar o regime herdado da ditadura Fujimori que é a convocação da Assembleia Constituinte. Para tanto, exigem a antecipação das eleições para este ano e a destituição da atual mesa diretora do Congresso, além do fim da criminalização dos movimentos sociais e a punição dos culpados pelas mortes dos ativistas.  

* David Cavalcante é Cientista Político e da Editoria EoL Mundo