“Mulheres do Brasil, vocês existem e são valiosas para nós.”
(Silvio de Almeida, na sua posse para o Ministério dos Direitos Humanos)
Nessa terça-feira (03), o Ministro dos Direitos Humanos, Silvio de Almeida, fez um discurso que encheu nossos corações de esperança. Na epigrafe cito uma das frases do discurso de posse, que prontamente nos leva para o dia 1º, na cerimônia de posse do Luiz Inácio Lula da Silva. Lula sobre a rampa ao lado do povo e uma dessas pessoas era uma mulher negra. Não houve quem não se emocionasse, foram minutos que traduzem o que o governo federal pretende fazer ao longo desses quatro anos, certamente foi um bom começo.
As mulheres negras, ao longo da história do Brasil, são expostas pela sociedade brasileira cotidianamente à solidão e à objetificação. São elas que estão na base da pirâmide, levam o país nas costas e que seguram as pontas para que muitos possam enriquecer.
Mesmo sabendo que as mulheres brasileiras são em torno de 51,5% da população total, dessas, as negras compõem o maior grupo demográfico do país, 28% da população brasileira, ainda sim, nosso lugar segue sendo de coisas. No Brasil, 73% das vítimas de feminicídio são mulheres negras, apenas 10% chegam no ensino superior, 47% vivem do ganho informal e somente 8% estão no mercado de trabalho formal. A cada 23 minutos, uma mãe periférica preta perde seu filho.
Essa forma de coisificar nossos corpos reafirma a forma em que colocam as pretas, no lugar de subalternidade, no lugar das que nunca ganham, das que limpam os espaços que o patriarcado e o capitalismo neoliberal precisam para funcionar. Na maioria das vezes, são as negras que realizam os diferentes serviços que ninguém quer fazer. São elas que estão inseridas em um contexto de desigualdades básicas provocadas pelo racismo e pelo patriarcalismo.
A luta por respeito, equidade e pelo nosso lugar de fala tem sido uma constância. Reafirmar para nós mesmas que PODEMOS, não tem sido uma tarefa fácil. Enfrentar esse sistema que nos desumaniza, nos aliena e silencia, exige de nós coragem e resiliência. E, no decorrer do governo Bolsonaro, tudo isso só se intensificou. Derrotá-lo nas urnas foi um alivio para todas nós mulheres, nunca foi tão necessário entender a importância do feminismo negro.
Vencemos e elegemos o presidente Lula. Com a derrota, o ex presidente quebra o ritual de passagem de faixa, mostrando seu inconformismo com o resultado eleitoral, mantendo sua localização à margem da ideologia política fascista. A não presença do Bolsonaro na posse do Lula foi totalmente providencial.
No dia da posse, se ventilou a possibilidade de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, passar a faixa, mas foi um menino negro, um líder indígena, um influencer da comunidade PCD, um professor, um metalúrgico, uma catadora e dois apoiadores da Vigília Lula Livre que acompanharam o presidente na subida da rampa do Palácio do Planalto. São pessoas que representam não somente o povo brasileiro, mas toda essa diversidade do nosso país.
Mas, na hora de colocar a faixa no presidente Lula, é justamente a mulher negra, catadora e estudante de direito, Aline Sousa. Aquela cena, aquele momento, foi avassalador. Choramos como crianças pequenas que sentem forte e que tranca o soluço a cada lágrima. Foi assim que muitas de nós, estávamos naquele momento.
No momento da subida da rampa, nos vimos representados, ocupando um lugar humanizado e de respeito. Ninguém estava servindo, limpando, cuidando, éramos o BRASIL. Estávamos lá, lado a lado, protagonizando um momento histórico, onde não havia espaço para coadjuvantes. Foi então que o futuro passou na nossa frente, como se fosse um filme, pois de fato estávamos vendo através dos atos que é possível acreditar num país antirracista e que valoriza as mães de seus filhos.
Um outro mundo é possível. É tempo de ESPERANÇAR!
* Doutoranda da Educação – UFRGS, militante da Resistência- PSOL e presidenta do Sindicato dos Servidores municipais de Esteio/RS
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