A vitória de Lula na eleição presidencial em 2022, interrompeu um ciclo de vitórias da extrema direita que se desenvolveu com sucesso desde 2016 com queda do governo Dilma. Foi um intervalo de 6 anos que a burguesia brasileira e suas frações mais neoliberal e conservadora conseguiu dar um salto muito qualitativo em seu projeto. Foram responsáveis em agravar a catástrofe da pandemia no país com mais de 600 mil mortos, avançaram contra os direitos da classe trabalhadora, aumentaram a influência da pauta conservadora, diminuíram a importância da ciência no orçamento público, ampliaram as privatizações, congelaram os salários dos servidores públicos, facilitaram o armamento de organizações criminosas milicianas.
O Brasil voltou para o mapa da fome, a desigualdade social aumentou, passamos a conviver com a fila do osso, empoderaram o agronegócio mais predatório contra o meio ambiente, jogaram as políticas públicas de direitos humanos na lata do lixo, atentaram contra direitos civis e democráticos e tensionaram o regime político do país colocando a intervenção militar entre as principais pautas do movimento bolsonarista que foi as ruas.
Por isso a vitória eleitoral de Lula com mais de 60 milhões de votos, deve ser comemorada e celebrada por toda esquerda e pelos movimentos sociais, ganharam um folego todos aqueles que enfrentaram a extrema direita nos últimos anos em condições muito desfavoráveis. Mas mesmo não conseguindo a reeleição, o bolsonarismo não pode ser subestimado, pois tem todas as condições para organizar uma oposição de massas contra o governo que vai tomar posse no próximo dia 1º de janeiro. Já vem demonstrando essa disposição, logo após o dia 30 de outubro quando o resultado das urnas deu a vitória para o candidato de esquerda, o movimento que denuncia uma suposta fraude na eleição organizou bloqueios em rodovias, mobilizações significativas no dia 15/11 e acampamentos na porta dos quarteis.
Não é possível ter certeza se vão conseguir fazer novas ações que podem inclusive tentar roubar a cena na diplomação no TSE do presidente eleito no dia 19/12, como também na própria posse em Brasília. Mas para todos os efeitos, não podemos menosprezar a capacidade de mobilização e de gerar instabilidade política da extrema direita que tem uma ampla base social, é financiada por pesos pesados da burguesia brasileira e encontra muitas vezes condescendência e apoio nas forças armadas e entre as forças de segurança estaduais e federais. Diante desse cenário pós eleição e da existência de um movimento golpista que faz agitação permanente, mas ruas e nas redes, seria correto que a direção majoritária do movimento em torno das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo organizasse uma resposta nas ruas em defesa da democracia para combater o golpismo. Infelizmente não houve acordo para a construção de um calendário unitário ainda esse ano, pois somente através da mobilização popular podemos combater com chances de sucesso os atos antidemocráticos.
Mas agora, a presença dos movimentos sociais na posse de Lula, organizando caravanas de todo país para Brasília, formando um mar de gente na esplanada dos ministérios com centenas de milhares de pessoas, é a melhor resposta contra as movimentações golpistas. Todes a Brasília deve ser a principal tarefa dos sindicatos, do movimento negro, da comunidades LGBTQIA+, mulheres, juventude, do ativismo em defesa do meio ambiente e direitos humanos. Para além da celebração e da festa que o povo brasileiro tem o direito de fazer, a posse do novo presidente do Brasil no dia 1º de janeiro de 2023 é uma grande oportunidade para levantar nossas exigências, as pautas de interesse do povo trabalhador brasileiro. A expectativa e repercussão midiática será imensa tanto no Brasil como no mundo, e temos também a tarefa de mandar o nosso recado, queremos nossas pautas atendidas pelo novo governo, como também queremos que o congresso nacional priorize as necessidades da classe trabalhadora brasileira e toda sua diversidade. A eleição de Lula é uma vitória tática, a mobilização permanente rumo a uma transformação social mais profunda é estratégica. O mercado e as principais frações do capital já ganharam muito nos últimos anos, em especial no governo Bolsonaro, agora precisamos exigir a nossa vez. Nossa aposta principal precisa ser na luta independente com alcance de massas, com o objetivo de abrir as condições para uma situação mais favorável para a luta de classes no Brasil, diferente do que vivemos desde 2016 para até hoje.
* Gibran Jordão é membro da direção nacional da Resistência/PSOL.
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