“Cada tic tac é um segundo da vida que passa,
foge, e não se repete.
E há nele tanta intensidade, tanto interesse,
que o problema é só sabê-lo viver.
Que cada um o resolva como puder”
Frida Kahlo
E Mari Mendes soube viver cada tic tac intensamente.
Há um ano nossa querida camarada e amiga Mari Mendes nos deixou precocemente, aos 41 anos, vítima de um infarto que apagou para sempre a sua luz, alegria e força que tanto contagiava a todes que a conheciam.
Mari, como gostava de ser chamada, era uma pequena notável entre nós. Lutadora, de personalidade forte e de caráter inabalável desde muito jovem, saiu do sertão da Paraíba para tratar de um sério problema de saúde que a acompanhou por toda vida.
Ela era portadora de Artrite Reumatoide Juvenil, doença autoimune, caracterizada pelo ataque do próprio corpo às articulações. Com o passar dos anos a doença foi lhe debilitando e prejudicando a sua mobilidade, tudo isso acompanhado de fortes dores nas articulações.
Entretanto, nossa camarada nunca esmoreceu diante das limitações impostas pela vida, muito pelo contrário, ela sempre achava tempo e ânimo para conciliar a militância política, com a maternidade e o trabalho. Mari esbanjava vitalidade, talvez por isso a notícia de sua morte repentina nos tenha doído tanto.
A camarada trazia na pele a resistência de nossa classe. Mulher negra, nordestina, feminista e bissexual e revolucionária. Mari era inspiração, mostrava com sua existência que podemos resistir ao machismo, ao patriarcado, à LGBTfóbia, ao racista, à xenofobia e à barbárie do capitalismo, ela trazia em si o horizonte de um mundo melhor.
Sua trajetória política
Como militante, Mari começou cedo, nos anos 90 já militava na juventude periférica de Franco da Rocha. Nos anos 2000 ingressou no PSTU, partido no qual militou bravamente durante 16 anos, lutando contra todas as formas de exploração e opressão impostas pela barbárie capitalista.
Anos mais tarde, Mari ajudou a construir e organizar o PSTU em Mogi das Cruzes, cidade onde passou a residir e trabalhar.
Em 2016, após uma ruptura com o PSTU, Mari, juntamente com centenas de militantes, foi parte importante na criação de uma nova corrente revolucionária, o MAIS, que logo depois se fundiu com outras organizações na Resistência /PSOL.
Mari era atenta e à construção de militantes novos, organizou e dirigiu núcleos e organismos, sempre com a preocupação da formação revolucionária de nossa corrente.
Em Mogi, juntamente com outras mulheres, criou o Fórum Filhas da Luta, que foi um marco para a luta e a organização das mulheres trabalhadoras na cidade.
O legado de nossa camarada é caro para nós, sua breve existência se transformou em voz e inspiração nas lutas contra todas as formas de opressão e exploração. Mari sempre se posicionava com firmeza e princípio, como uma verdadeira revolucionária.
A chegada de Ana Rosa
Além da surpresa da gestação, Mari, se deparou com o desafio de uma gravidez junto a uma doença autoimune, o que não é recomendado pela medicina, já que o ataque às células da mãe aumenta consideravelmente com a gravidez.
Assim, Mari enfrentou uma gravidez difícil, com o temor de interrupção da gestação e de sua morte durante o parto. Contra todas as dificuldades, Mari trouxe ao mundo sua filha Ana Rosa em junho de 2007.
Ana, fruto do relacionamento com Jefferson Mendes, nasceu com cardiopatia congênita, sendo que, logo após o parto, começou uma nova luta para tratamento e cirurgia cardíaca de urgência para salvar a vida da filha. Mari mais uma vez venceu a batalha.
Hoje Ana Rosa, uma adolescente de 15 anos, esbanja saúde. Quem a conhece, logo vê que a menina herdou da mãe coragem e firmeza nas suas ideias e na vida.
Uma educadora revolucionária
Mari era uma educadora. Pedagoga, formada pela UBC em Mogi das Cruzes, com formação em magistério pelo CEFAM, cursou Pedagogia enquanto lecionava.
A camarada dedicou parte de sua vida à profissão de educar, de guiar crianças na construção de seus conhecimentos. Suas redes sociais eram repletas de elogios e reconhecimento pelo seu trabalho. Várias eram as mensagens de estudantes, familiares e colegas de profissão em reconhecimento ao seu trabalho. Mari Mendes, como educadora, travou muitos embates na defesa da escola pública de qualidade para todes.
Gente é feita para brilhar
Dentre todas as versões da camarada, sempre encontramos a Mari alegre, festiva, forrozeira, do riso fácil que contagiava a quem estivesse por perto, a Mari que enfrentava o mundo com muita coragem e firmeza de caráter, de espírito livre e revolucionário.
Mari também nos ensinou que gente é feita para brilhar.
E sim, todes somos sementes de Mari Mendes na luta por um mundo em que possamos amar e viver sem medo de lampadadas nas ruas, em que sejamos donas da riqueza que produzimos, somos sementes da revolução. Até o Socialismo.
Mari Mens presente! Hoje e sempre!
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