No dia 30 de outubro o povo foi às urnas esperançar o Brasil e deixar um recado sucinto a Bolsonaro e seus apoiadores: Não aceitaremos mais esse projeto de país!!!. Em meio a um processo eleitoral extremamente conturbado, permeado por tensionamentos, ameaças e até violências, sem contar a clara tentativa de desvio de função da PRF para atrasar e dificultar o acesso a locais de votação no maior reduto eleitoral do presidente Lula, o povo brasileiro, após quatro anos sofrendo as agruras do governo Bolsonaro finalmente pôs um fim a esse período obscuro da história brasileira. Ou foi o que se pensou.
Nos dois dias que sucedem a eleição, o que se observa é, na verdade, uma ampla movimentação no país por parte de apoiadores e simpatizantes de Bolsonaro que ocuparam diversas vias estratégicas do país e seguem questionando os resultados das eleições. É importante destacar dois pontos importantes a respeito dessas manifestações. Primeiro que, diferente de muitas outras observadas durante o governo Bolsonaro, essa em específico adquire um caráter mais estratégico, mais coordenada, não como manifestações de rua comuns que se concentram em áreas nobres das cidades, mas sim, enquanto manifestações que são direcionadas para as principais vias do país com o intuito de gerar caos social e garantir a possibilidade de, caso necessário, conseguir paralisar o país.
O segundo ponto é que essas manifestações são uma demonstração de força e disposição dos setores golpistas para o caso de Bolsonaro optar por uma ruptura com as instâncias democráticas. Não podemos duvidar de que essas manifestações possam estar sendo coordenadas e organizadas com aval de Bolsonaro e seus aliados. O silêncio e o não reconhecimento por parte do mesmo sobre o resultado e a legitimidade das eleições pode, inclusive, ser uma tentativa de avaliar se ele consegue construir maioria social nas ruas em lugares estratégicos nesse meio tempo para tentar uma ruptura com as instâncias democráticas.
O sonho golpista de Bolsonaro pode estar sendo posto em prática, e mesmo que não seja nas condições favoráveis que ele imaginava, não se torna menos preocupante. Após perder as eleições, Bolsonaro perde o pouco de apoio que ainda possuía na superestrutura, inclusive com aliados que já começaram a se manifestar reconhecendo o resultado das eleições. Porém, ainda há uma aderência da burguesia e dos setores médios aos delírios golpistas e ao questionamento das eleições que, caso Bolsonaro não reconheça ou decida inflamar mais ainda as manifestações, podem embarcar junto com ele nas ações desesperadas e atentar contra a democracia.
A correlação de forças não está favorável para que Bolsonaro rompa com facilidade com o regime democrático nesse momento, isso porque, com a vitória de Lula, as instâncias democráticas e os setores progressistas da população brasileira se fortalecem mais para dar uma resposta à altura dos inflames fascistas. Porém, isso não significa que não possa haver uma tentativa por parte dele e de seus apoiadores de algum tipo de tensionamento para desgastar mais ainda as instâncias democráticas criando a possibilidade de instabilidade no regime.
É importante ressaltar que conquistamos uma vitória significativa no último dia 30 de outubro ao elegermos Lula presidente, mas nós tínhamos ciência de que não seria fácil. Derrotamos o fascismo nas urnas, mas a sua sombra segue pairando pelas principais vias do país pedindo intervenção militar. Devemos ficar atentos e vigilantes para, caso Bolsonaro decida se aventurar num delírio golpista, estarmos preparados para responder à altura ocupando as ruas do país e resguardando a democracia. Essa é a tarefa histórica do nosso tempo.
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