Eleger Lula, derrotar a fome
Publicado em: 28 de outubro de 2022
Colunistas
Gabriel Santos
Gabriel Santos
Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi
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Gabriel Santos
Gabriel Santos
Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi
“Fome grita horrível
A todo ouvido insensível que evita escutar”
Racionais mc’s
Tem gente com fome, escreveu o poeta Solano Trindade ainda nos anos 70. Décadas depois, em 2022, continuamos escrevendo as mesmas coisas em um país não tão diferente.
Hoje a fome atinge 125 milhões de pessoas no terceiro lugar que mais produz alimentos em todo mundo. Segundo dados do 2° Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, 58,7% da população brasileira passa fome ou sofre de insegurança alimentar.
Em nossa história desde a colonização, passando pela República, chegando aos tempos atuais, a fome, a privação e a falta de direitos sociais, caminhou ao lado do dia a dia no cotidiano do nosso povo.
O Brasil inventado pelas elites, foi erguido sobre a exploração, sangue, suor e barrigas vazias de corpos negros e indígenas. A mesma estrutura colonial de concentração de terras, rendas e riquezas se manteve através dos séculos.
O Brasil sempre foi um país da geografia da fome, como escreveu Josué de Castro. O nosso capitalismo desigual e dependente significa que algumas poucas pessoas conseguem se dar ao luxo do desperdício de comida, enquanto uma imensa maioria de nosso povo sofre para conseguir garantir as três alimentações diárias.
O latifúndio multiplica as bocas, mas não os pães
“Os direitos humanos começam no café da manhã”
Léopold Senghor.
Eduardo Galeano conta que o ex- presidente dos Estados Unidos, George W. Bush certa vez perguntou aos seus compatriotas: “Vocês já imaginaram um país incapaz de cultivar alimentos suficientes para prover sua população? Seria uma nação exposta a pressões internacionais. Seria uma nação vulnerável. Por isso, quando falamos de agricultura, estamos falando de uma questão de segurança nacional.” De acordo com o escritor uruguaio, essa, foi provavelmente a única vez em que Bush não mentiu.
O problema da fome precisa ser compreendido como um problema de soberania nacional. É um problema do presente que reflete o peso da nossa construção histórica e da atual reprodução do capitalismo brasileiro.
É correto dizer que a soberania nacional começa pela boca. Se queremos construir uma Nação soberana, independente e que seja capaz de ter força no jogo mundial de Estados. Precisamos, antes de tudo, de uma soberania alimentar e de comida na mesa de nosso
povo.
Por aqui, o grito da independência se restringiu a formação de um hino, de uma bandeira e de uma classe dominante que agora se fazia nacional. Foi uma independência fajuta, como são todas aquelas que não se erguem sob o solo onde se planta a soberania alimentar. A monocultura é uma prisão, enquanto a diversidade produtiva é a liberdade de um país das grades da cotação internacional. Antes as algemas eram cana, depois se tornaram o café e agora são commodities, que tem seu preço ditado nas bolsas de valores.
Ao lado do tema da fome, caminha o tema das desigualdades raciais. O racismo é um elemento totalizante para a compreensão do que é o Brasil. Não existe debate nacional em nosso país sem um debate racial. Qualquer projeto verdadeiramente nacional precisa tem
como eixo central a superação das desigualdades raciais. Hoje, 78% dos lares que passam fome são de famílias negras. A fome no Brasil tem cor e classe social.
Pensar raça, classe e nação é entender o particular presente no universal, e o universal presente no particular. Ou seja, é pensar a dimensão racial das políticas públicas. A luta racial perpassa e se faz presente em políticas de geração de empregos e renda, na recuperação de direitos trabalhistas e fim do teto dos gastos, passa pela reforma agrária e urbana, soberania alimentar e combate a fome
O Brasil contra a Fome
“O maior espetáculo do pobre da atualidade é comer”
Carolina Maria de Jesus
O Brasil retorna ao mapa da Fome na pandemia, mas não é o COVID 19 o maior culpado pelo avanço da fome do Brasil, na verdade, está longe disso.
O desmonte de políticas públicas cometido pela burguesia desde o golpe contra Dilma, o desemprego, e aprofundamento das desigualdades, são motivos que explicam porque nos últimos anos a fome se tornou uma epidemia.
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), criado no governo Lula logo no seu primeiro ano de mandato, foi renomeado por Bolsonaro de Alimenta Brasil. O orçamento do programa, que chegou a R$ 1,3 bilhão em 2012, encolheu para R$ 135 milhões em 2021.
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que financia a produção rural, foi outra política pública fragilizada, assim como o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN). Este teve em 2018 um investimento de 67% menos só que em 2014. Outro exemplo é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que durante a pandemia, no momento que era mais necessário teve suas regras desrespeitadas e desde o ano de 2017, tem seus valores congelados.
Acredito que na conjuntura política que vivemos a luta contra a fome deve ser foco central de ações Presidente Lula seja eleito.
O discurso aparentemente simples sobre “o pobre volta a fazer churrasco”, se popularizou como uma das grandes marcas da candidatura de Lula. Pois, de forma direta, toca sobre a diminuição de renda e do poder de compra que atingiu a nossa classe, fala sobre a fome, direito ao lazer e busca ir de encontro a necessidade da produção de emprego, renda e de comida na mesa.
Aqui apontamos que falar sobre combater a fome, não é apenas sobre a garantia de renda suficiente para comprar os alimentos. O emprego e o salário digno são partes e formas de enfrentar a insegurança alimentar e a fome. Mas é preciso também tocar de forma mais profunda nas estruturas coloniais de nosso país.
Pois a fome em nosso país responde a um processo histórico que se interliga no presente. Ela é consequência da falta de emprego e renda de milhões de brasileiros que não têm dinheiro para comprar comida, mas também da estrutura produtiva agrária brasileira, voltada para atender o mercado externo, e sendo profundamente agressora ao meio ambiente, anti-popular e concentrada na mão de nossa burguesia.
Portanto, pensar no combate à fome é pensar como modificar concentração de terras improdutivas e produtivas, é sobre como gerar a produção de alimentos e não somente de commodities para exportação. É buscar reverter a destruição de políticas públicas. É a defesa da população indígena e quilombola, do meio ambiente e da agroecologia.
É preciso eleger Lula. Combater a fome é urgente. A barriga não pode esperar.
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