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Por dentro da mente de um assassino fascista

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

Alguns dizem que os bolsonaristas não vão usar a violência nessas eleições porque as chances de um golpe dar certo é pequena. Isto é um erro. Bolsonaristas são fascistas, e fascistas não agem de forma racional. Bolsonaro vai tentar dar um golpe mesmo que isso leve seus apoiadores para a cadeia. Foi assim na Segunda Guerra Mundial. Hitler mandava suas tropas para a derrota certa sem nenhum constrangimento. Foi assim na invasão ao capitólio. Donald Trump mandou seus apoiadores invadirem o Congresso dos Estados Unidos sem se importar com as consequências.

Isso não é motivo para nos escondermos embaixo da cama. Se ficarmos com medo e não nos mobilizarmos, aí sim eles deitam e rolam. Com milhões nas ruas, a violência bolsonarista provavelmente vai ser reduzida a apenas pequenos episódios. Mas é certo que o inimigo vai agir com algum nível de agressividade.

Porque essa certeza de que a violência será usada pelo bolsonarismo? Estudiosos como Hebert Marcuse, Wilheim Reich, Theodor Adorno, Freud, Umberto Eco, Erich Fromm, Slavoj Zizek, entre outros, nos dão a base teórica para a viagem dentro da mente pervertida de um fascista que vamos fazer agora.

Tanatofilia: quando a morte se torna um ideal romântico

Em textos que defendem o liberalismo, o socialismo, o conservadorismo ou outras escolas do pensamento político moderno, se encontram justificativas para o uso da violência. No entanto, a violência é sempre um meio para se conseguir algum fim. Seja a defesa de um direito, a manutenção da ordem social ou a reparação de uma opressão histórica. O fascismo é uma exceção. Para o fascismo, a violência não é um meio, mas um fim em si mesmo. “Vila la muerte!” gritavam os soldados do franquismo espanhol. Para o fascista, a morte é uma linguagem, uma performance e um ideal romântico a ser alcançado.

É o que chamamos de tanatofilia. Ou a atração pela morte. Freud explicava isso por meio da chamada pulsão de morte. Outros psicólogos cunharam o termo pulsão sadomasoquista. Acontece quando a pessoa não é mais capaz de troca afetiva saudável. O afeto é substituído pela excitação em sofrer e fazer sofrer. Em resumo, quando a pessoa não consegue amar nada, ela passa a amar o nada.

A tanatofilia coincide com o discurso do fundamentalismo religioso. Quem já pegou ônibus em uma cidade grande se deparou várias vezes com um pregador fundamentalista dizendo que “morreu para o mundo”. Na linguagem de algumas igrejas, a pessoa tem que “morrer para o mundo” e ter como única esperança existencial a possível vida eterna no céu. Em resumo: a fome, a doença, o trabalho precário, nada disso importa. O que importa é obedecer o líder religioso para garantir a vida eterna.

A tanatofilia é ótima para recrutar pessoas que já têm pouca vontade de viver. A fantasia de morrer de forma heróica atrai aqueles que, além de suicidas, são narcisistas. Morrer e levar muita gente junto, morrer e ser lembrado, morrer e viver ao lado de Deus no paraíso. Para jovens sem perspectiva de vida, essa ideia é sedutora. Se você quer montar uma milícia de doentes mentais para causar uma onda de violência e com isso melar uma eleição, é uma boa pedida.

O amor pela morte pode ser alimentado em quem tem baixa autoestima, que é compensada pela falsa identidade com grupos opressores. O sujeito se sente menos fracassado se achando o futuro bilionário, o descendente de Vikings, o macho alfa, o defensor da moral. “Morrer com honra” para alguém assim é melhor que uma vida cheia de frustações e derrotas.

A ideação suicida infelizmente é muito comum. De acordo com relatório da Unicamp, 17,1% dos brasileiros já pensaram em se matar. Se misturarmos esse problema de saúde mental com fundamentalismo religioso, ódio, fanatismo político, narcisismo, culto à violência, baixa autoestima e masculinidade tóxica, temos a nitroglicerina pura.

E hoje em dia é fácil identificar o perfil psicológico das pessoas e entregar a elas uma propaganda política personalizada. Com os dados coletados a partir das redes sociais, a empresa Cambridge Analytica, que ajudou na campanha de Donald Trump em 2016, conseguiu elaborar materiais para cada tipo de personalidade.

Ou seja, é possível identificar possíveis terroristas políticos e encher a cabeça deles de vídeos, memes e outras mídias que podem ser gatilhos para a violência. Com o neofascismo, não é mais necessário o uso de tropas disciplinadas e uniformizadas, como era nos tempos de Hitler. Basta acionar os “lobos solitários” para que eles façam o serviço sujo.

O negro de volta para a senzala, a mulher de volta para a cozinha e a LGBT de volta para o armário é apenas o começo. O programa máximo do fascismo é o extermínio de tudo que é vivo na face da terra. O fascismo está para o inconsciente coletivo o que a ideação suicida está para o inconsciente individual.

O bolsonarismo é um exemplo de tanatofilia

Bolsonaro tem usado muito a passagem bíblica “Nada temeis, nem mesmo a morte” quando fala com seus apoiadores. Isso não é novidade. Durante a pandemia, a morte de “velhos e fracos” era solução para garantir a liberdade dos que tem “histórico de atleta”. A morte não era apenas uma saída, mas um meio de selecionar os mais aptos.

Temos outros exemplos. O bolsonarismo é contra os cuidados para reduzir o aquecimento global. Se a temperatura média do mundo aumentar, milhões de vidas podem ser perdidas. O bolsonarismo se excitou bastante com a possibilidade de guerra contra a Venezuela a um tempo atrás. Recentemente, um “influenciador” bolsonarista criticou o uso da camisinha em um desses podcasts toscos. É bom lembrar que a AIDS e outras doenças venéreas ainda matam um bocado no Brasil.

Eles são contra o controle de velocidade nas estradas e até mesmo querem abolir a cadeirinha para bebês em carros. A campanha contra o aborto é apenas para que mais mulheres morram em abortos clandestinos. A campanha pelo aumento do das armas em circulação causa mais mortes violentas.

O bolsonarismo tem uma obsessão por qualquer política que aumente o número de mortes. Se a ciência descobrir que usar fio dental previne alguma doença que anda matando muita gente, com certeza Bolsonaro fará uma campanha contra o uso do fio dental.

O que a vida espera da gente é coragem

Não amamos a morte, mas também não somos covardes. O risco de não irmos às ruas e amargarmos anos de ditadura é o maior risco que corremos. Com mobilização, não vai haver clima político para um golpe. E esses bolsonaristas babantes não terão apoio sequer da polícia, muito menos do exército. A classe dominante não quer mais instabilidade. No máximo, pode ocorrer alguns casos isolados de violência, com os responsáveis sendo presos.

Não podemos responder provocações e nem ajudar a instaurar o caos, pois é isso o que ele querem. Mas devemos reforçar nossa disciplina, nossa organização e nossa segurança.

Coragem é uma forma de demonstrar amor à vida. Se o que move o inimigo é a paixão pela morte, o que nos move é o desejo de viver e viver bem. O que nos espera não é simplesmente uma eleição da esquerda contra a direita. Não é apenas um disputa política da democracia contra o golpismo. Não é um duelo moral entre o bem e o mal. O que nos espera é a batalha da vida contra a morte. Depende de cada um de nós.