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Era o que faltava: o comedor de Cheetos quer ir para a guerra

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Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

Os jovens de classe média que passam o dia em jogos de videogames se alimentado do salgadinho Cheetos estão fazendo sua militância na internet. Segundo eles, seria muito emocionante se o Brasil entrasse em guerra com o Irã para apoiar os Estados Unidos. A fantasia de sair dos jogos e ir para um confronto real se tornaria realidade.

Provavelmente eles não sabem como a guerra de verdade funciona. Talvez porque esta informação esteja em livros com um montão de coisas escritas. A guerra de verdade não é como no videogame.

Não deve ter muitos jogos de videogame que mostram a mulher sendo estuprada por um pelotão de soldados na frente do filho. Ou as crises de fome que surgem com o colapso da agricultura e da distribuição de alimentos. Não devem ter muitos jogos que mostram as pessoas morrendo porque o sistema de saúde não funciona mais ou em decorrência das péssimas condições de higiene e saneamento que a guerra impõe.

Talvez os comedores de Cheetos nem saibam que, na Primeira Guerra Mundial, o número de mortos por necrose nos pés em decorrência das condições higiênicas das trincheiras competia com o número de mortes por tiro. Talvez eles não saibam que a guerra é a festa dos criminosos. Os traficantes colombianos surgiram em meio à guerra civil no país. Os grupos Yakuza ganharam poder no Japão durante a Segunda Guerra Mundial. A Líbia virou o paraíso dos traficantes de escravos depois que a guerra promovida pelos Estados Unidos trouxe a “democracia” para o país.

Jogo de videogame não tem cheiro. E a guerra de verdade tem cheiro de sangue, vômito, pus, corpos em decomposição e membros necrosados. O jogo virtual geralmente acaba quando um lado vence a guerra. Na vida real, quando o conflito acaba, a desgraça está só começando. Se fosse para ser realista, todos os jogos terminariam mostrando as milhões de pessoas amputadas, cegas, surdas, viciadas em drogas ou inválidas em decorrência de doenças mentais. Outro defeito dos jogos de videogame é que nunca se mostra os soldados vivendo em meio aos próprios excrementos, pois não tem vaso sanitário na linha de frente.

Talvez exista alguns jogos que mostrem as milhões de pessoas comuns refugiadas em decorrência da guerra. Ou a desorganização da economia em nível internacional. Ou o aumento exponencial do tráfico de crianças. Mas não devem ser muitos.

A maioria absoluta deste jovens sedentos por guerra não tem capacidade física e moral para ver gente morrendo de perto. Eles não aguentariam passar dias sujos de lama, passando fome, frio e carregando vários quilos e equipamento nas costas. São piores que os fascistas do século XX, que pelo menos eram soldados com experiência real de combate.

Mas não nos enganemos. Eles tem tempo e capacidade para fazer uma boa campanha na internet em favor da guerra. E isto pode ser o suficiente para que o governo enfie nosso país em um conflito. Hoje as mãos deles estão sujas de Cheetos, amanhã podem estar sujas de sangue.

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irã