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BRASIL

Prisão de ex-ministro e pastores próximos a Bolsonaro ameaça discurso anticorrupção

da redação

Foi expedido pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira, 22, um mandado de prisão preventiva contra o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Milton Ribeiro foi preso preventivamente pela Polícia Federal por volta das 07h da manhã, em sua residência, em Santos (SP). Ele é investigado por quatro crimes: corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência. O pastor Gilmar Santos, ligado a Bolsonaro, também foi preso na mesma cidade. Moura é braço direito de Santos e assessor da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil.

No MEC, Milton Ribeiro esteve envolvido em um esquema de liberação de recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) para obras em creches e escolas, a partir de pedidos negociados pelos dois pastores. Na prática, o esquema consistia em verdadeiro “gabinete paralelo” dentro do MEC, cujo papel seria atender aos interesses de aliados do presidente, em troca de apoio político e para igrejas. Para a liberação dos recursos, que são um direito dos municípios, eram cobradas propinas, até mesmo em barras de ouro.


Pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Reprodução.

Os dois pastores, que não exerciam qualquer cargo no governo, nunca atuaram na gestão da educação pública e nunca tiveram nenhuma competência pedagógica para intervir na área, tinham circulação privilegiada no gabinete do ex-ministro e nos corredores do Planalto para exercer lobby com verbas públicas do MEC. Segundo uma reportagem do Estadão, nos pelo menos 15 meses em que o esquema teria funcionado, os dois pastores participaram de mais de 20 agendas oficiais do MEC, reuniões “de alinhamento político” e viagens em voos da FAB.

“Se você quiser, eu passo um papel agora, ligo para uma pessoa e as escolas profissionalizantes vão chegar em seu município. Mas, em contrapartida, você precisa depositar R$ 40 mil para ajudar a igreja. Uma mão lava a outra, né?”, teria dito um pastor ao prefeito de Boa Esperança do Sul, um dos que denunciaram o gabinete paralelo no MEC. O pedido teria sido feito em março, em um restaurante, na presença do ministro.

Gilmar Santos e Arilton Moura em evento oficial do governo ao lado de Jair Bolsonaro. Foto: Carolina Antunes/PR

Bolsonaro sabia!

A relação do Planalto com o caso são gritantes e tem como ponto central o pastor Gilmar Santos, que já foi fotografado ao lado do presidente da República, fazendo orações com Bolsonaro e outros políticos. Gilmar foi recomendado pelo presidente para atuar com Milton Ribeiro. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, disse o ex-ministro, em uma conversa  gravada e revelada pela imprensa.

 

Gilmar teria portanto sido colocado junto ao MEC pelo próprio presidente, com poder de definir a liberação de recursos, segundo acordos políticos e interesses do grupo no governo. “a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, afirmou Milton Ribeiro, no mesmo áudio, gravado em março.

A prisão é um duro golpe no discurso anticorrupção do bolsonarismo, um dos temas mais caros para a sua base de apoio e associado por eles ao ex-presidente Lula, favorito na disputa presidencial. Não a toa, quando as primeiras denúncias vieram a tona, o governo preferiu a saída de Milton Ribeiro do MEC, como forma de estancar a crise e blindar o presidente da República, o que foi feito em seguida. Como agradecimento, na época, Bolsonaro teria dito que colocava “a cara no fogo” por Milton Ribeiro. Neste momento, a poucos meses da eleição, a situação esquentou. Nas redes sociais estão cheias de memes com o rosto do presidente em chamas.

A prisão cai como uma bomba para a campanha de Bolsonaro, que tentará fazer com que a investigação se restrinja ao ex-ministro. “Ele que responda por seus atos”, declarou o presidente na manhã desta segunda. Mas o desgaste político é inevitável. A oposição ganha fôlego para tentar ativar uma CPI para investigar as denúncias no MEC. Difícil para o Congresso Nacional, que utiliza a defesa de uma CPI da Petrobrás como forma de encontrar culpados pelo preço dos combustíveis, dizer que não cabe uma CPI com um ex-ministro preso. Por outro lado, nas ruas, a juventude, os docentes e técnicos-administrativos de universidades e institutos federais preparam ações e jornadas de luta, para cobrar a apuração das denúncias de corrupção, e denunciar o corte do orçamento da educação, que ameaça o funcionamento das universidades.