Milhares de pessoas saíram às ruas nesta quinta-feira, 02, na pequena cidade de Turilândia, no interior do Maranhão, a 160 km da capital, São Luís. O protesto ocorreu em repúdio ao assassinato de dois jovens negros, por policiais militares, no dia 31. Familiares das vítimas lideraram o protesto, que parou a cidade, de apenas 22 mil habitantes. A ação remete ao grande ato realizado pela população de Umbaúba (SE), após a execução e tortura de Genivaldo de Jesus por policiais rodoviários. Em ambos os casos, a população foi às ruas e não se deixou intimidar, diante do genocídio e do racismo, o que pode indicar um novo padrão, em resposta ao recrudescimento da violência policial.
A termo de comparação, o último grande protesto na região havia ocorrido em 2020, quando um pastor evangélico liderou uma multidão nas ruas, em “protesto contra a covid-19”, com direito a queima de máscaras.
Executados na estrada
Daniel Gustavo dos Santos Dias e Thierry Silva Rodrigues foram assassinados em uma abordagem policial, no final da tarde de terça-feira, 31. Daniel foi morto com 13 tiros em via pública. Um vídeo que circula nas redes sociais, filmado por um caminhoneiro que passava no momento, mostra os dois parados, rendidos por policiais, com as mãos voltadas para frente, à beira da estrada. Em seguida, outro vídeo, de um motorista, mostra o som de uma sequência de tiros.
Ambos foram executados, mas a polícia divulgou para a imprensa a informação de que teria havido “confronto” e troca de tiros e apresentaram cartões de crédito e notas de dinheiro como “provas” de roubo. No protesto, familiares de Daniel denunciaram a polícia e afirmaram que as provas foram forjadas. “Aquele cartão lá é meu. O dinheiro eu que tinha dado pra ele”, afirmou uma familiar, no protesto, que também afirmou que os dois chegaram sem vida ao hospital, ao contrário do que estaria sendo divulgado.
Ao portal Imirante, a família declarou que Daniel era um jovem trabalhador e no dia do seu assassinato esteve trabalhando o dia todo em uma oficina mecânica. Teria sido chamado para prestar socorro em um veículo, um corsa, que estaria quebrado na estrada e, logo após chegar, levando a caixa de ferramentas da oficina, foi abordado pela polícia com o motorista, Thierry Silva, que estaria sendo procurado, acusado de um assalto em outra cidade.
Genocídio negro
De acordo com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Maranhão ocupa a 17ª posição de mortes por intervenção policial e São Luís, a capital, das 50 cidades com maior taxa de letalidade policial no Brasil, ocupa a 45ª posição. O Maranhão não dispõe de registros oficiais em relação violência e letalidade policiais no que tange a aspectos raciais, no entanto, sabe-se que o número de pessoas vitimadas por intervenção policial no estado saltou de 72 em 2019 para 97 em 2020, de acordo com a Rede de Observatórios.
Faz-se necessária a averiguação de todos os termos dessa abordagem, mas também mobilização social no sentido de pressionar as estruturas governamentais a darem uma resposta satisfatória, não só para a sociedade como também para as famílias para que tenham a reparação mínima deste ato nefasto e cruel.
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