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BRASIL

BH: Vereador bolsonarista compara Marielle com o torturador Brilhante Ustra

Com a iminência do processo eleitoral, acentuam-se os ataques da extrema-direita, particularmente nas casas legislativas, contra parlamentares de esquerda. Foi o que ocorreu nesta quinta-feira, 02, na Câmara Municipal de Belo Horizonte (MG).

Na tribuna, o vereador Nikolas Ferreira, do PL, mesmo partido de Bolsonaro, resolveu atacar o Projeto de Lei da vereadora Iza Lourença (PSOL), que nomeia um centro de saúde da capital mineira com o nome de Marielle Franco.

Bastante incomodado com a homenagem prestada à Marielle, Nikolas comentou o projeto da vereadora: “Se eu também tomasse essa atitude de mudar esse nome para, por exemplo, Centro de Saúde Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, teria todo mundo aqui já em pane”. Na mesma fala, ainda xingou Marielle de “inútil”, “abortista” e “assassina de crianças”.

Trata-se de um evidente ataque à memória da ex-vereadora Marielle Franco, já que compará-la com o torturador Brilhante Ustra é um absurdo sem qualquer cabimento. Marielle foi uma parlamentar do PSOL que tinha nos Direitos Humanos uma de suas principais bandeiras e, por isso, denunciou os abusos da PM, do Exército e das milícias nas comunidades, em especial da Maré, onde foi criada. No dia 14 de março de 2018, foi executada pelo policial militar reformado e, curiosamente, vizinho de Bolsonaro, o miliciano Ronnie Lessa. Já Ustra foi um dos chefes dos centros de tortura do DOI-Codi nos anos de chumbo, ou seja, um torturador a serviço da Ditadura Empresarial-Militar que governou o país de 1964 a 1985. Tendo, inclusive, torturado a ex-presidente Dilma Rousseff, entre dezenas de militantes de esquerda, como Amélia Telles. Ou seja, seria inaceitável que o nome de um torturador fosse usado para homenagear um equipamento público, ainda mais um centro de saúde, cuja função é resguardar a vida e a saúde de seus usuários.

Famoso por suas provocações e deboches em redes sociais como o tik tok, não é a primeira vez que Nikolas ataca Iza e demais parlamentares de esquerda da Câmara de Belo Horizonte. No começo do ano, Nikolas chegou a pedir a cassação de Iza, depois que a parlamentar usou suas redes sociais para apoiar protestos em homenagem à Moïse Kabagambe. Na época, Iza assim comentou a atitude de vereador bolsonarista: “Não é de hoje que o vereador usa preconceito racial e de classe contra mim, tendo por diversas vezes se referido a mim como ‘analfabeta’, em nítida tentativa de intimidar minha atuação parlamentar, aproveitando qualquer oportunidade de manipular os fatos e desviar a atenção do que realmente importa: a luta contra o racismo e a desigualdade no país”.

Nikolas é parte da direita bolsonarista que conquistou mandatos nas casas legislativas do país, surfando na onda de ódio, anti-petismo e fake news. Como é de praxe dessa turma, Nikolas se reveza entre as redes sociais e o púlpito do parlamento para atiçar os ânimos de sua base social com mais e mais ódio, deboche e provocação. Seus ataques, assim como os que estão sendo vítimas várias parlamentares do PSOL, mostram o desespero dos bolsonaristas, que sabem que, ainda que Bolsonaro mantenha uma base sólida, o fenômeno de votos de 2018 não se repetirá. Os ataques, portanto, são uma forma de buscar visibilidade e se destacar diante das demais candidaturas conservadoras e de extrema direita.

Varrer Nikolas, Bolsonaro e os saudosistas de Brilhante Ustra para o esgoto político

“A disputa é entre quem defende torturador e quem luta por justiça para Marielle. Não há espaço para dúvida”

 

Nessa semana, o Instituto Marielle Franco lançou a campanha Não Seremos Interrompidas cujo objetivo é combater a violência política contra mulheres negras durante as eleições de 2022. Uma iniciativa fundamental, diante da crescente de casos como esse ocorrido na câmara de Belo Horizonte.

De fato, serão as eleições mais difíceis das últimas décadas. Como afirmou a vereadora Iza Lourença em seu twitter, “A disputa é entre quem defende torturador e quem luta por justiça para Marielle. Não há espaço para dúvida”. O desafio será, no marco da luta para derrotar bolsonaro, depurar as casas legislativas de seus apoiadores, como é o caso de Nikolas Ferreira, dando uma chuva de votos em parlamentares negras, LGBTQIA+, indígenas, mulheres, defensores dos direitos humanos, etc.