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Amélia Teles, sobrevivente de Ustra: “Minhas crianças me viram sendo torturada”

Por: Paulo César de Carvalho*, de São Paulo, SP
Reprodução

Amelinha Teles

Em 28 de dezembro de 1972, Amélia Teles foi presa, conduzida à “Operação Bandeirantes” (Oban) e torturada pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-Codi de São Paulo. Em depoimento de 2004, recordou a inesquecível face do monstro da repressão: “O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi o primeiro a me dar um tapa na cara, me jogou no chão com aquele tapa. Me torturou pessoalmente. Foi ele quem mandou invadir a minha casa, buscar todo mundo que estava lá, meus filhos e minha irmã. Durante cerca de 10 dias, minhas crianças me viram sendo torturada na cadeira de dragão, me viram cheia de hematomas, com o rosto desfigurado, dentro da cela. Nessa semana em que meus filhos estavam por ali, eles falavam que os dois estavam sendo torturados. Disseram: ‘Nessas alturas, sua Janaína já está dentro de um caixãozinho’. Disseram também que eu ia ser morta. Isso foi o tempo todo. O tempo todo, o terror. Ali era um inferno”.

Em 8 de novembro de 2006, na primeira sessão da audiência de instrução e julgamento do coronel reformado do Exército, Amélia Teles denunciou as terríveis crueldades que sofreu em suas mãos. Logo após a sentença condenatória do algoz, acusou-o publicamente mais uma vez: “O que afirmo é que meus filhos foram seqüestrados. Ficaram dentro da Operação Bandeirantes (núcleo de repressão) e nos viram, tanto a mim quanto ao pai, sendo torturados. Eu estava sentada na cadeira do dragão (usada para choques elétricos) quando minha filha entrou na sala. O pai tinha entrado em estado de coma e estava se recuperando. Tanto é que meu filho perguntou ‘por que o pai está verde?’, e minha filha perguntou por que eu estava azul”.

Em 14 de agosto de 2012, os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo condenaram em segunda instância, por unanimidade, o carrasco militar.

Em 26 de junho de 2012, a 20ª Vara Cível de São Paulo condenou o coronel reformado, falecido em 2015, a pagar indenização por danos morais à esposa e à irmã do jornalista e militante político Luiz Eduardo Merlino, torturado e assassinado em julho de 1971. O crime ocorreu nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), centro de tortura comandado por Ustra entre outubro de 1969 e dezembro de 1973.

A defesa de Ustra, falecido em 2015, recorreu da condenação em primeira instância. No dia 17 de outubro deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) julgou o recurso da defesa e absolveu, por unanimidade, o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Carlos Alberto Brilhante Ustra


Herói de Bolsonaro

Em 17 de abril de 2016, na votação do processo de “impeachment” de Dilma na Câmara dos Deputados, Bolsonaro homenageou o torturador: “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”. Em 8 de novembro de 2016, acusado de quebrar o “decoro parlamentar”, o capitão desafiou o Conselho de Ética da Câmara, exaltando novamente o coronel: “Ustra é um herói brasileiro”. Em 28 de julho de 2017, como se nada houvesse acontecido, o indecoroso parlamentar comemorou, em sua conta no Twitter, o aniversário do criminoso fardado.

Em 17 de outubro de 2018, no programa eleitoral do PT, Amélia Teles relembrou novamente a história trágica, lutando para que ela não se repita como farsa: “O momento de maior dor foi quando o Ustra levou meus dois filhos na sala de tortura onde eu estava nua, vomitada, urinada”. Na contramão dos direitos humanos, o maior prazer de Jair Messias foi ver seu filho vestir a camisa “Ustra Vive”, tornando-se o deputado federal mais votado da história. Aliás, quando o capitão louvou a memória do coronel criminoso no “impeachment” de Dilma, ele justificou o voto com este cínico argumento: “Pela família e inocência das crianças que o PT nunca respeitou, contra o comunismo”.

A destemida Amelinha Teles, em rede nacional, fez cair a máscara do descarado fascista: o seu “herói brasileiro” teria respeitado a “inocência das crianças” ao fazê-las testemunhar a mãe sendo brutalmente torturada? Será que, na lógica cruel de Bolsonaro, respeitar a “inocência das crianças” é segurar suas mãozinhas simulando um revólver? O alvo deste inescrupuloso “chacal”, sabemos bem, é a democracia: o seu objetivo é matar a liberdade, para que a monstruosidade do capital possa reinar “livremente”! #Haddadsim! Não queremos ver nossas crianças uniformizadas! A farda é a farsa: #Ditaduranuncamais!

 

*Paulo César de Carvalho é militante da RESISTÊNCIA-PSOL, na frente única antifascista: #Bolsonaronão! #Torturanuncamais!