Bolsonaro sabe que pode perder a eleição para Lula em outubro. A maioria do povo brasileiro o rejeita (cerca de 60% dizem não votar nele de jeito nenhum) e o petista lidera todas as pesquisas, apresentando chance de vitória em primeiro turno. Além disso, a alta da inflação, que piora a condição de vida dos trabalhadores, é outro obstáculo à reeleição do fascista.
Diante da real possibilidade de derrota eleitoral para Lula, Bolsonaro voltou afirmar de forma aberta o plano golpista. Ele aceitará apenas um resultado: a sua vitória. Caso Lula ganhe as eleições, afirmará que foi roubado. Essa será a senha para uma eventual ação golpista.
Por isso, Bolsonaro busca, desde já, deslegitimar o sistema eleitoral, alimentando as mais absurdas suspeitas e teorias conspiratórias. Como parte de sua estratégia subversiva, atua para envolver as Forças Armadas em seu plano antidemocrático. Nesse sentido, são preocupantes as sinalizações bolsonaristas do Ministro da Defesa e do representante do Exército na comissão formada pelo TSE para atestar a segurança das urnas eletrônicas.
A retomada das ameaças autoritárias de Bolsonaro visa dois objetivos principais. Primeiro, preparar e atiçar a sua base social de apoio para mobilizações de cunho golpista. Segundo, intimidar e testar a reação das instituições e de seus adversários políticos.
Apesar dos seguidos confrontos do STF com Bolsonaro, que tenta coibir em alguma medida as pretensões autoritárias do miliciano, a verdade é que a resposta das instituições às graves ameaças golpistas é visivelmente insuficiente.
Na Câmara dos Deputados, o centrão, comandado por Arthur Lira (PP), confere blindagem ao fascista em troca de cargos, ministérios e emendas milionárias. Já no Senado, sob a presidência de Rodrigo Pacheco (PSD), prevalece uma retórica vazia em defesa da democracia, sem nenhuma consequência prática. Por sua vez, a PGR, sob direção de Augusto Aras, faz vistas grossas aos reiterados crimes do presidente.
Tampouco há qualquer reação mais contundente por parte do empresariado. Mesmo os segmentos mais críticos ao governo são tímidos na contraposição ao golpismo. Para piorar, há setores burgueses simpáticos aos planos antidemocráticos do bolsonarismo, sobretudo no agronegócio.
Não é certo que Bolsonaro terá condições sociais, políticas e militares para efetivar um golpe, menos ainda de obter uma vitória caso tente melar as eleições e seu resultado. Por exemplo, o governo dos EUA, tradicional patrocinador de golpes na América Latina, já avisou que não apoiará um eventual virada de mesa bolsonarista. Além disso, não é possível afirmar que o comando militar brasileiro (ou um setor dele) de fato embarcará numa aventura golpista de Bolsonaro. Também não há evidências de que existe inclinação da maioria da classe dominante a favor de uma ruptura com o regime democrático-burguês.
Mas o perigo golpista existe e não deve ser subestimado pela esquerda. Melhor não contarmos com a sorte e a boa vontade democrática do imperialismo, da burguesia e das instituições do Estado. Perante o cenário de risco, a mobilização popular é o caminho mais seguro e eficaz para derrotar o golpismo.
A maioria do povo é contra Bolsonaro. Se essa maioria entrar em movimento, a derrota do bolsonarismo é inevitável. Nesse sentido, o desafio dos próximos meses é duplo: assegurar a vitória de Lula nas urnas — se possível já no primeiro turno —, e derrotar o golpismo nas ruas por meio da organização e da mobilização dos trabalhadores, dos oprimidos e da juventude. Somos a maioria, com organização e luta, venceremos!
É preciso, ao mesmo tempo, exigir do STF, do Congresso Nacional, dos partidos políticos, dos governos estaduais e do conjunto das instituições medidas categóricas de combate ao plano golpista de Bolsonaro. Chega de discursos vazios e notas de repúdio. Nenhuma liberdade aos inimigos das liberdades!
Ampliar o desgaste de Bolsonaro e fortalecer as lutas contra a carestia
Os preços de praticamente todos produtos subiram nos últimos meses. Quase tudo está mais caro, sobretudo alimentos, energia, combustível e gás de cozinha. A renda das famílias trabalhadoras, já bastante rebaixada nos últimos anos, não consegue fazer frente a escalada da inflação. As dívidas dos trabalhadores só aumentam.
A culpa principal dessa situação terrível é de Bolsonaro, que aplica uma política econômica em benefício dos bilionários e contra os trabalhadores e os mais pobres. É tarefa da esquerda, dos movimentos sociais e sindicatos explicar para as massas a responsabilidade do atual governo na produção desse cenário de pobreza, fome, carestia e desigualdade crescentes.
Ampliar a rejeição de Bolsonaro no povo é fundamental para diminuir suas chances eleitorais e tirar força de seu impulso golpista. Mas é preciso de ir além da denúncia do governo. É necessário fortalecer as lutas e as greves contra a carestia, aumento a confiança da classe trabalhadora em si mesma.
É necessário lutar para impedir ataques como a privatização da Eletrobras, autorizada recentemente pelo TCU, cujas consequências para o nível de vida dos trabalhadores, para a estrutura elétrica do país e para a soberania nacional, são gravíssimas.
Várias categorias de trabalhadores, do setor público e privado, estão em greve ou em processo de mobilização para repor as perdas salariais do último período e defender direitos. Apoiar e unificar essas mobilizações é muito importante. Um pronunciamento de Lula a favor das lutas e greves contra a carestia teria enorme valor.
Por uma campanha Lula com mobilização e um programa de esquerda
Os primeiros atos da pré-campanha de Lula em São Paulo, Campinas e Minas Gerais demonstraram o potencial de mobilização que ela pode gerar, especialmente na juventude. Uma parcela significativa da sociedade brasileira compreende a importância de tirar o fascista do poder e sabe que a candidatura de Lula é o instrumento eleitoral para isso.
Como a tarefa não é apenas obter a maioria dos votos para o petista, mas também derrotar o golpismo nas ruas, é fundamental que a campanha Lula seja um grande movimento democrático e de massas nas ruas para derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo.
Para isso, tem importância a construção de milhares de comitês de ação da campanha Lula nos locais de estudo e trabalho e nos territórios. Esse comitês, além de instrumentos para disputar o voto do maior número possível de pessoas, precisam também organizar a luta contra o golpismo.
O comando da campanha Lula deve apostar numa estratégia de mobilização popular para derrotar Bolsonaro e o fascismo, realizando atos amplos e representativos, convocando o povo e todas as forças que se reivindicam democráticas para se somarem numa luta histórica.
Com a força de Lula e unindo a esquerda, artistas, movimentos sociais e estudantis, sindicatos, movimento negro, de mulheres, LGBTQIA+ e indígena, é possível construir uma campanha-movimento de massas que sacuda esse país, debelando qualquer possibilidade de golpe. O PSOL aposta nesse caminho.
Além disso, tem grande importância as medidas de programa que Lula irá defender nessa campanha. Setores da classe dominante, vocalizados pela grande mídia corporativa, pressionam o PT para que se tenha cada vez mais “chuchu” no prato de Lula. Isto é, atuam para que o programa do petista seja rebaixado e digerível para as elites empresariais.
Querem que Lula não fale em revogar o Teto de Gastos, as privatizações e as reformas trabalhista e a da previdência; que não defenda a legalização do aborto; que não assuma compromisso com taxação das grandes fortunas e com a desmilitarização das polícias e o combate ao encarceramento em massa do povo negro; entre outros pontos.
Afirmam que Lula precisa ir para o “centro” para vencer, quer dizer, que ele precisa fazer cada vez mais concessões à direita, não sendo suficiente a indicação de Alckmin para vice. Consideramos que se trata de uma armadilha.
Para derrotar Bolsonaro e o golpismo, é necessária uma campanha que empolgue e mobilize os trabalhadores, a juventude e os oprimidos. Para isso, é preciso um programa em defesa das maiorias sociais, e não um voltado para agradar as elites econômicas. O PSOL atua no sentido de construir uma campanha de Lula com mobilização e um programa de esquerda que levante a bandeira de mudanças estruturais.
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