Vale a pena assistir ao mais recente episódio do Greg News, programa exibido no canal da HBO Brasil no YouTube. No 9° episódio da sexta temporada do programa, o humorista e apresentador, Gregório Duvivier, resolveu entrar em cheio no debate eleitoral e, ao nosso juízo, com argumentos essencialmente corretos, no que diz respeito aos possíveis desenlaces da disputa eleitoral de 2022.
No programa em questão, Greg não só utiliza seu humor eivado de sarcasmo para apresentar a trajetória, no mínimo controversa, diga-se de passagem, de Ciro Gomes, como discute o perigoso papel que o político cearense pode cumprir nessas eleições.
“Pelo cenário de hoje, vai sim ter um segundo turno entre Lula e Bolsonaro! E isso é um puta problema. Porque talvez o Brasil não aguente um segundo turno com Bolsonaro no páreo. (…). E ele [Ciro] perde de vista que, nessa eleição, o Brasil precisa garantir a existência da própria democracia. (…)”. Afirma Duvivier, que complementa: “Sim. A essa altura já está bem claro que Bolsonaro não vai aceitar um resultado eleitoral em que ele não saia vencedor. E o Bolsonaro não está sozinho. Ele tem muitos militares, policiais, ruralistas, clubes de tiro, veículos de comunicação, máquinas de rede social e uma porcentagem grande do eleitorado que vai concordar que, caso Lula saia vencedor, a eleição então não vale. Tem que melar tudo!”
O alerta de Duvivier sobre a indisposição de Bolsonaro em aceitar uma eventual derrota perante Lula e sobre um possível chamamento às suas bases golpistas deve ser levado a sério.
De fato, o alerta de Duvivier sobre a indisposição de Bolsonaro em aceitar uma eventual derrota perante Lula e sobre um possível chamamento às suas bases golpistas deve ser levado a sério. Ignorar solenemente que Bolsonaro é o chefe neofascista de um movimento de extrema direita, com implantação nas polícias e nas forças armadas, e com disposição golpista, é um erro político gigante, cujas consequências podem ser irreversivelmente danosas ao país, à esquerda e ao povo. Postura que, vindo de Ciro, se explica pela sanha antipetista que tantas vezes ostentou em seus discursos.
Na verdade, parte da estratégia de Ciro baseia-se justamente na tentativa de amealhar apoio dos segmentos sociais decepcionados com o petismo que, no entanto, não abraçaram o bolsonarismo. Por isso, para obter resultado dentro desta estratégia, Ciro não tem poupado esforços no sentido de insuflar sua base eleitoral contra Lula e o PT, assim como tem colocado seu marketing de pré-campanha apontado centralmente contra Lula, colocando-o no mesmo patamar político de Bolsonaro.
Claro que é legítimo ter diferenças com o projeto lulista de conciliação com partidos patronais, assim como é legítimo debatê-las publicamente ao longo da campanha. Essa é, por exemplo, a posição do PSOL que recentemente aprovou em conferência eleitoral que abrirá mão de lançar candidatura própria, para chamar voto em Lula no primeiro turno, sem contudo subscrever o programa petista. O que é muito diferente de tentar localizar-se em uma posição equidistante entre Lula e Bolsonaro, colocando ambos na mesma balança política. Na verdade, essa estratégia dificilmente produzirá outro resultado senão a disseminação de confusão em nosso campo, em vez de contribuir para aquela que é a tarefa principal dessas eleições, ou seja, derrotar Bolsonaro e varrer seu projeto ultra-liberal e golpista.
Assim, Duvivier continua: “Mas, existe uma diferença enorme entre derrotar Bolsonaro no 1° ou no 2° turno. E não se trata de humilhar Bolsonaro logo no 1° round. Não. Muito pelo contrário. Uma vitória de Lula não seria humilhante no 1° turno. Provavelmente seria apertada. Seria pouco mais de 50% dos votos. Não é isso. Para falar que foi fraude, o Bolsonaro teria que invalidar a eleição de milhares de pessoas. E de quebra de toda sua base aliada. O que seria bem complicado. Mas em um 2° turno, se Bolsonaro chegar lá, com o centrão reeleito, três semanas só pra ele programar o golpe, Bolsonaro tem condição de desestabilizar completamente a democracia. Infelizmente o Ciro já disse, mais de uma vez, que não tem conversa. (…). A essa altura está ficando bem claro que só há um jeito de tirar o Bolsonaro do segundo turno: é fazer Lula ganhar no primeiro.”
Novamente Duvivier está certo. Lula lidera as pesquisas e pode vencer no 1° turno, o que de fato é um cenário bem mais difícil para Bolsonaro. Acontece que pesquisas eleitorais, além de não serem garantia de nada, podem se alterar ao longo dos próximos cinco meses. E, para todos os efeitos, não pode haver dúvidas de que Bolsonaro é um neofascista, cuja sanha golpista nunca fez questão de omitir.
Para vencê-lo, todo o alarde que Ciro faz não bastará, assim como não bastará xingá-lo de forma desesperada e desmedida como também tem feito Ciro. Bolsonaro não será derrotado por susto, porque não há atalhos ou caminhos fáceis para derrotar o neofascismo. Só uma campanha que se combine com grandes mobilizações permanentes pode criar condições reais para impor uma derrota sobre Bolsonaro.
Não há dúvidas de que Lula é uma liderança moderada e conciliatória, que não parece muito interessado em fazer com que sua campanha transborde. Contudo, desde que lançou o movimento Vamos juntos pelo Brasil, para dar forma à sua pré pré-campanha, Lula tem iniciado um giro pelo país a partir de Campinas, Belo Horizonte e Juiz de Fora, onde tem conseguido reunir não poucas milhares de pessoas: lideranças sindicais e artísticas, intelectuais, movimentos de juventude, indígenas e militantes de causas democráticas, lideranças sociais e populares, no que pode ser o embrião de uma campanha-movimento de contornos gigantescos.
A todos aqueles ativistas interessados em pôr um fim ao governo Bolsonaro, mesmo aqueles que alimentam sinceras simpatias à candidatura de Ciro Gomes, não pode haver dúvidas, ainda mais faltando apenas cinco meses para as eleições mais importantes das últimas décadas. É preciso lutar, porque é possível vencer. É hora botar a campanha de Lula nas ruas. É hora de organizar centenas de milhares de comitês populares e de luta em torno da candidatura de Lula, para mobilizar dezenas de milhões de pessoas pelo país.
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