A questão que fica ao olhar essa foto é: o possível ciclo petista no poder – hoje a opção mais coerente para a derrocada do fascismo à brasileira – irá, novamente, deixar negras e negros no último vagão da locomotiva que conduzirá o país? Se trata de uma mera contradição que devemos engolir a contragosto ou de uma opção política estratégica sobre a qual não podemos silenciar?
Isso me lembrou uma visão negra sobre a estratégia da conciliação com a burguesia no interior do PT. Após mais de 10 anos da fundação desse partido – no mesmo período que se constituiu o novo movimento negro – o grande Hamilton Cardoso dizia que essa estratégia significava a aliança entre a minoria branca e privilegiada da classe trabalhadora com a elite. E ele cantou essa pedra antes das experiências petistas no comando do Estado, mas, falando desse período, o problema é que isso não se expressou apenas na representação política formal, mas na vida real da massa negra. Avanços existiram e a gente comemorou, até por que foram produto da luta negra, mas, a verdade é que mesmo nos momentos de maior crescimento econômico dos governos do PT, a proporção de negros pobres cresceu. Ficamos entre a alegria das cotas nas universidades e a tragédia do aumento do encerramento e assassinato da nossa juventude, entre gestos de solidariedade com países africanos e uma inexplicável ocupação militar no Haiti. Cito esse dois exemplos por que se conectam com elementos que estão no cerne do bolsonarismo, essencialmente o militarismo e a violência racial. Então, com quem se concilia? A história se repetirá? Eis a questão.
Em nome da governabilidade com os de cima, vale deixar de construir as pontes com os de baixo, ou, como diz Mano Brown, retomar a comunicação e o trabalho de base popular?
O povo negro sentiu de verdade a paulada que significou o golpe e a vitória de Bolsonaro, por isso, sempre fomos os mais coesos contra Bolsonaro, como mostram não só pesquisas, mas a ação política negra. A repetição da estratégia de conciliação aumenta a importância da auto-organização negra. Derrotar o fascismo é a tarefa do momento, no entanto, se vivemos em guerra, devemos fazer isso nos preparando pras batalhas que virão.
* Texto publicado originalmente no instagram do mandato.
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