As ruas do centro histórico da Cidade do México se pintaram das cores verde e lilás em mais uma grande Marcha em luta pelos direitos das mulheres no 8M, centenas de milhares de mulheres, integrantes de distintos coletivos e organizações, mulheres de todas as idades – estudantes, funcionárias públicas, professoras, mães e filhas, avós, lésbicas, trans, familiares de vítimas de feminicídios e desaparecimentos, ativistas, entre tantas outras independentes marcharam desde o Paseo de la Reforma até o Zócalo, em um período entre as 15 hs até o romper da noite, por volta das 20 hs.
Em uma das marchas mais massivas e impactantes da história do 8M as manifestações e protestos reuniram e difundiram diversas consígnias, em que predominavam as denúncias de desaparecimentos e feminicídios no país, que aumentaram sobremaneira no último período. Dentre os motes apresentados nos milhares de cartazes espalhados e nos gritos e denúncias realizados pelas mulheres destacam-se: “No somos histéricas, somos históricas”; “No me mates”; “No somos una, no somos cien, pinche Gobierno, cuentanos bien”; “Liberar la mujer del trabajo doméstico, mas comedores públicos”; “Somos el grito de las que ya no estan”; “pan y rosas”, que revelam a força e resistência feminista contra uma guerra desleal, violenta, histórica e que expressa a impunidade nos casos de violência contra a mulher no país, expressa em sua forma mais perversa pelos feminicídios, segundo dados do Observatório Nacional do Feminicídio, somente esse ano foram registrados 357 desaparecimentos de mulheres no México e somente 75 casos foram investigados. (El país/México, “Las mexicanas gritan un masivo “basta ya”!, 08/03/2022)
Outras regiões do país também realizaram marchas e manifestações, entre elas, Ecatepec, Chilpaningo (Guerrero), Veracruz, Oaxaca, Michoacán, Puebla e Chiapas, reunindo mulheres na luta contra a violência de gênero, pelo direito a vida das mulheres. Na Cidade do México, um grande paredão lilás e verde se formou frente ao enorme bloco de ferro erguido diante do Palácio Nacional, representando o controle estatal e policialesco montado em todo o centro histórico em represália à marcha. Porém não apagaram o brilho e a força do espraiar das cores e não lograram silenciar a luta feminista que resiste nas grandes greves e marchas internacionais de mulheres que seguem politizando, na dialética entre espontaneidade e organização estrutural/cotidiana, via explicitação da violência estrutural e estruturante do capitalismo patriarcal, e construção ético-política transfronteiriça/internacional de um programa antipatriarcal, antirracista, antimperialista, antiheterosexista e antineoliberal como potência para a totalidade da luta de classes.
O 8M representa, sobretudo, um ato político e combativo que converte o feminismo em vetor de politização massiva de pautas históricas como saúde reprodutiva, socialização do trabalho doméstico, contra as fronteiras como espaço de extermínio sistemático evidenciado nos efeitos perversos que as guerras em todas as suas expressões produzem sobre a condição de vida e existência das mulheres, e que, mostrou-se em toda sua potência ético-estético-político-cultural na grande ola morada y verde que tomou por completo o Zócalo na Cidade do México, e se tornou gigante frente à repressão do Estado. “Vivas nos queremos”!
Comentários