Um forte temporal atingiu a cidade de Petrópolis (RJ), na região Serrana, provocando alagamentos, mortes e destruição na noite desta terça-feira, 15. Em seis horas, choveu 259 milímetros o que supera o previsto para todo o mês na cidade (238,2 ml), sendo que a chuva foi intensa e com maior incidência em uma parte da cidade. Até o momento, há 55 pessoas mortas, mas o número não para de aumentar, diante da grande quantidade de desaparecidos – o Corpo de Bombeiros ainda não conseguiu contabilizar o total. O clima na cidade é de tristeza e dor, pelas vidas perdidas, incluindo crianças.
A Defesa Civil havia contabilizado 207 registros, sendo que destes, 171 foram deslizamentos de terra. No Alto da Serra, alunos de uma escola deixaram o local às pressas, após um desabamento de uma encosta ter atingido o prédio. O bairro foi o mais atingido, pois concentra comunidades e casas populares, incluindo construções em áreas de risco. O local é marcado pela pobreza – em outubro, perto dali, um vídeo registrou uma fila de pessoas para comprar ossos de carne, em um caminhão.
No Morro da Oficina, o cenário foi chamado por bombeiros como uma catástrofe. Segundo a imprensa, cerca de 50 casas foram atingidas por um grande deslizamento e havia um grande mar de lama, com corpos soterrados. Um vídeo (abaixo) registra, a distância, o momento em que as casas vêm abaixo.
Durante toda a noite, moradores e voluntários se somaram aos bombeiros, buscando sobreviventes. Uma avó buscava a neta de 1 ano, que dormia em seu quarto quando a casa desabou.
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As mortes ocorreram em toda a cidade. Na Rua do Imperador, a “avenida”, ponto principal da cidade, dividida por um rio, foram encontrados 12 corpos – sendo 11 de mulheres, presos às ferragens ou submersos no rio que divide a avenida. Muitas pessoas se protegeram em pontos mais altos no momento em que as águas do rio tomaram conta da rua.
A cidade está marcada por mais essa tragédia, que é resultado da intensidade das chuvas, mas da ação dos governos, que não realizam obras de prevenção ou políticas de moradia, em especial para as populações em áreas de risco. A verdade é que Petrópolis convive com a tragédia das chuvas há muitos anos, pelo menos desde as fortes chuvas de 1981 e 1988. De lá para cá, a história se repete. Em três décadas, entre 1988 e 2018, foram 411 mortes na cidade provocadas pelas chuvas. A pior foi em 1988, quando 134 pessoas morreram. Em 2001 foram 57 mortes e em 2002 foram 50 mortes. Em 2011, chuvas atingiram toda a região serrana, provocando 72 mortes em Petrópolis.
Neste momento, em meio a tragédia e a lama e destruição que tomou a cidade, a população busca reconstruir a cidade, cuidar de quem precisa de apoio. Diversas ações de solidariedade já tiveram início, como a do CDDH Petrópolis, e há pontos de recolhimento de doações em quase todos os bairros, como na sede da OAB, nas paróquias e no pronto-socorro do Alto da Serra. A Prefeitura está cadastrando pessoas para atuar como voluntárias, na limpeza e apoio aos atingidos.
O PSOL estadual prepara também ações de solidariedade. “É uma catástrofe. Por onde a gente passa, é destruição, carro em cima de carro, de árvore, pessoas desaparecidas, confirmações de mortes. Amanhã a gente vai ter um dia muito duro, muito difícil. Precisamos estar unidos e solidários”, afirmou Yuri Moura, vereador do PSOL na cidade, em um vídeo gravado ao final da madrugada, após percorrer a cidade apoiando a população.
Também de madrugada, o governador Claudio Castro esteve no local, reunindo-se com o prefeito Rubens Bomtempo. O ministro Rogério Marinho chega à cidade na sexta-feira, 18, para anunciar apoio financeiro do governo federal. Até o momento, a cidade recebeu duas carretas, com materiais de higiene e medicamentos, e reforço nas equipes de resgate e de perícia.
As tragédias ocorreram quase que em todos os anos na cidade, com maior ou menor intensidade. No entanto, em função do aquecimento global e da destruição do meio ambiente e desmatamento, eventos climáticos extremos já são cada vez mais frequentes e devem atingir especialmente as populações vulneráveis e os países periféricos, como vimos no Sul da Bahia e em Minas Gerais. Petrópolis, caso não realize ações de prevenção e passe por uma grande mudança em sua política de moradia e urbanização, certamente viverá novas tragédias como a desta terça-feira.
(Atualizado às 14h)
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