Sem nunca ter saído de cena, volta novamente ao proscênio a velha litania liberal sobre “os dois inimigos da liberdade”. Com suas adoentadas democracias blindadas gestando cada vez mais proles neofascistas, os ideólogos liberais apressadamente recorrem uma vez mais à cínica simetria entre comunismo e nazismo.
Como as condições mudam mas o dogma, pela sua própria natureza, deve seguir sempre o mesmo, o clero liberal, há muito já guiado pela encíclica neoliberal, lança mão novamente da “teoria do totalitarismo”, tão cara à ciência e filosofia políticas “cold warrior”. Na prática, quando o demônio fascista dá as caras, conjurado e acarinhado pelos próprios liberais, estes tratam logo de alertar para a terrficante existência de outro, este sim perigoso, vermelho e que, mesmo que adormecido, deve ser protamente esconjurado.
Sim, é verdade que tanto o nazismo (fascismo) quanto o comunismo (marxismo) são adversários da democracia liberal. Porém, se o primeiro, ardoroso defensor da propriedade privada, à democracia liberal se opõe por considerá-la por demais democrática, o segundo, do contrário, a critica por ser esta, na verdade, falsamente democrática, no sentido etimológico do termo (de “soberania popular”, “governo do povo”).
Se os fascistas querem aniquilar os direitos democráticos ainda existentes nas democracias liberais, os marxistas querem ampliá-los e torná-los efetivos, considerando que só a abolição da propriedade privada é que pode, de fato, colocar o “kratos” nas mãos do “demos”.
Se o nazismo quer eliminar a democracia e substitui-la por uma ditadura sem rebuços dos grandes proprietários, o comunismo quer, hegelianamente, superá-la e, assim, realizá-la.
Em tempo – e preventivamente: o estalinismo teve tanto a ver historicamente com o marxismo assim como um câncer tem biologicamente a ver com um organismo humano saudável.
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