Ato em Goiânia denunciou assassinato de Moïse e chacina na Chapada dos Veadeiros

Protesto nesta sexta cobrou punição aos responsáveis pela chacina da PM. Novo ato ocorrerá neste sábado, 05, às 10h, na Praça Cívica, como parte da jornada nacional

da redação
@brunorevolta

Protesto em frente à Secretaria de Segurança

Na manhã desta sexta-feira, 04, cerca de 40 pessoas participaram de um protesto em frente à Secretaria de Segurança Pública de Goiás, denunciando o racismo e exigindo justiça para Moïse Mugenyi Kabagambe, jovem congolês assassinado em um quiosque no Rio de Janeiro; Durval Teófilo Filho, morto pelo vizinho a tiros ao chegar em casa; e Salviano Souza Conceição, de 63 anos, Ozanir Batista da Silva, 46, Alan Pereira Soares, 27, e Antônio da Cunha dos Santos, o “Chico Kalunga”, quilombola, de 35 anos, homens negros assassinados por PMs de Goiás com 58 tiros em Cavalcante (GO), próximo da Chapada dos Veadeiros, no dia 20 de janeiro.

O ato teve início às 09h. Manifestantes levaram cartazes e uma grande faixa contra o racismo que foi pintada de vermelho, junto com uma mancha no chão, lembrando o sangue das quatro vítimas da ação policial. Do lado de dentro, familiares participavam de audiência com o diretor-geral da Policia Civil, cobrando justiça. Os quatro foram mortos em uma ação com características de execução. “Os policiais alegam que receberam uma denúncia anônima da existência de ‘tráfico de drogas’ e ao chegarem no local, teriam sido recebidos à bala. Entretanto, nenhum policial ou viatura foram alvejados ou feridos. As vítimas foram mortas por 58 tiros, sendo que 40 disparos foram feitos por fuzis”, diz a nota de repúdio publicada pelos moradores em um abaixo-assinado na internet.

A audiência também contou com representantes do movimento negro e de Direitos Humanos. “Eles cobraram rigor na apuração dos assassinatos e, depois da audiência, se integraram ao ato”, conta a coordenadora Nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Iêda Leal.

Segundo o manifesto, os quatro eram conhecidos por todos da comunidade. “Não eram pessoas violentas, não andavam armados. Eram pacíficos. Morreram por causa da indiferença com a vida de uma guerra insana, que condena e mata de forma seletiva uma parte da população que é preta e pobre, em verdadeiros tribunais de rua.”

Manu Jacob, do PSOL de Goiânia e da Resistência Feminista, participou do ato de hoje e destaca a necessidade de interromper a política de guerra às drogas. Ela conta que o movimento antiproibicionista participou da construção do ato e critica a narrativa policial de que no local haveria uma grande plantação de maconha, com centenas de pés, e que teria havido confronto. “Já ficou provado que isso é uma mentira”, diz Manu. Em depoimento ao jornal O Globo, Murillo Aleixo, de 33 anos, produtor cultural local e morador da região conta que eram pessoas conhecidas, com história na comunidade. “Todos sabem que não eram bandidos. A história toda da polícia é uma farsa. Não houve confronto, e a plantação de maconha que havia ali era de pouquíssimos pés, não era produto para tráfico de drogas”, afirma. Outra testemunha conta que os quatro estariam rendidos ao serem executados: “Eles já estavam presos. Mataram porque quiseram”.

Os participantes do ato de hoje estarão neste sábado, 05, novamente na rua, em um protesto por Justiça para Moïse. O ato ocorrerá na Praça Cívica, com concentração em frente aos Correios, e é convocado pela comunidade africana de Goiás, pelo MNU e pela Coalizão Negra por Direitos. “Reagir à violência racial é tarefa nossa. O Brasil se une para lutar contra o racismo. Racistas devem ser punidos exemplarmente. Não nos calarão. Nas ruas, nas redes, nos tribunais, queremos justiça. Em nome de todos que já não estão conosco mais”, convoca Iêda.