O Natal de centenas de famílias no país tem sido de muita dor e desespero, especialmente na região sul da Bahia. São pelo menos 24 mortos, 434 feridos, 91 mil desabrigados ou desalojados e quase meio milhão de pessoas de alguma forma afetadas no estado. As chuvas dos últimos dias, muito acima do normal, têm deixado um rastro de destruição em quase 1/3 dos municípios baianos (32% das 417 cidades). São casas, hospitais e estradas total ou parcialmente destruídas; fornecimento de luz e abastecimento de água interrompidos; comunidades ilhadas. Barragens ainda podem se romper, represas podem abrir suas comportas e rios, transbordar. O alerta continua.
Diante de um cenário de guerra, a solidariedade que tem se multiplicado nos últimos dias, ameniza a imagem da catástrofe. Iniciativas como a do DCE da UNEB, UESC Solidária, MST, Teia dos Povos, FNP e dezenas de outras mais têm sido importantíssimas para socorrer emergencialmente tantos afetados. Assim como as ações das próprias comunidades atingidas, que tem sido central para salvar inúmeras vidas. O desastre, potencializado pela profunda desigualdade social, nos indigna. A imensa solidariedade do nosso povo, nos faz acreditar na humanidade e ter esperanças.
Essa e outras iniciativas, inclusive as governamentais, têm sido muito fundamentais nesse momento. Mas ainda são insuficientes. A dimensão da tragédia exige recursos na escala de bilhões. É por isso que concordamos com a crítica do Governador Rui Costa (PT) ao anúncio do governo Bolsonaro (PL) de destinação de apenas R$ 80 milhões para todo o Nordeste (via Ministério da Infraestrutura, com foco na reconstrução de estradas) e 7 milhões para o estado (via Ministério da Saúde). A última informação é que o governo federal inclusive negou autorização para vinda de ajuda humanitária da Argentina à Bahia. Essas medidas combinam perfeitamente com a imagem de um presidente que posa passeando de Jet Ski enquanto cidadãos morrem afogados. O presidente genocida segue sendo aliado das catástrofes. Não podemos aceitar, é preciso medidas urgentes já!
É preciso fazer mais!
É muito importante o anúncio do governo Rui Costa (PT) de um auxílio financeiro (dentro do programa Estado Solidário) para as famílias atingidas. O valor e data dos repasses ainda não foram divulgados. É preciso que o governador garanta o suficiente para que as famílias que perderam tudo possam recomeçar a vida com o mínimo de dignidade. Essas famílias não são responsáveis pela tragédia, e sim vítimas. Elas não podem pagar (mais do que já estão pagando) por esta situação dramática.
O desastre é muito mais social do que natural. É verdade que fenômenos imprevisíveis podem atingir a todos. Mas a histórica vulnerabilidade de uma imensa massa excluída (pobres, negros, indígena, ribeirinhos, etc) faz com que uma grande maioria seja atingida de uma forma exponencialmente maior. O racismo ambiental, a desigualdade no acesso à cidade e às condições de habitação e saneamento, mostram sua cara mais cruel neste momento. Governos Municipais, Estadual e Federal não podem mais se esquivar de enfrentar essa situação pela raiz, com soluções estruturais.
Além disso, não há como não relacionar esse fenômeno extremo com a crise climática mundial. Ainda faltam dados para uma afirmação categórica a esse respeito. O que se sabe mais diretamente é que as chuvas volumosas têm relação com o fenômeno da La Niña e da Zona de Convergência do Atlântico Sul. Mas é muito possível que tenha relação com o aquecimento global. O certo é que, se nada for feito, a crise climática provocará mais e mais catástrofes como esta. Chegou a hora de repensar o modelo de desenvolvimento do nosso estado e do país, um modelo que prioriza a exportação de commodities à preservação do meio ambiente e a distribuição de renda e igualdade social.
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