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MUNDO

Eleições no Canadá: Trudeau governará em minoria e extrema direita ganha voto popular

Rogério Freitas, do Canadá
Foto de Trudeau colocando uma máscara

Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá

Na prática o Canadá não precisava de uma eleição ainda em plena pandemia, mas Trudeau sim. O primeiro-ministro apostou todas suas fichas na vitória com maioria. Mas, o aplauso esperado chegou anunciando mais um governo de minoria. No dia 20 de setembro os canadenses foram às urnas e, também pelo correio, votaram em uma eleição antecipada convocada por Trudeau após a dissolvição do parlamento, em agosto.

A “Câmara dos Comuns” no Canadá é composta por membros do parlamento (MP) e senadores. O líder do partido com mais membros nesta Câmara vira primeiro-ministro, ao contrário, por exemplo, do Brasil, onde vota-se diretamente para presidente. A Câmara dos Comuns possui 338 deputados e é preciso no mínimo 170 para se conquistar a maioria.

O Partido Liberal, de Trudeau, obteve 159 cadeiras representando cerca de 47% do total de assentos. O Partido Conservador, principal partido de direita no país com Erin O’Toole como líder, consegiu 119 cadeiras, totalizando 35,2%. O bloco Quebecois teve 33 assentos e o Novo Partido Democrático (NPD), conseguiu 25 cadeiras nestas eleições, uma a mais em comparação a eleição passada. O NPD é um partido social-democrata, tendo como principal figura pública um filho de indianos, Jagmeet Singh, primeiro legislador a vestir um turbante em Ontário. O Partido Verde conquistou apenas 2 vagas. O Partido Popular do Canadá (PPC), de extrema direita e altamente xenofóbico, apesar de não ter alcançado nenhum assento na Câmara dos Comuns, conseguiu um aumento expressivo do voto popular, obtendo 4,94% dos votos e elegendo e reelegendo candidatos distritais em várias regiões (Leia mais abaixo).

Trudeau pensou que com a antecipação das eleições pudesse ter maior apoio entre a população, mas as eleições tiveram apenas 60% de participação, a um custo de 70 milhões de dólares.Nos últimos meses, o premiê teve que encarar mais um capítulo nos massacres contra indígenas, com ossadas de crianças encontradas em antigas escolas residenciais, e o tema do meio ambiente, que agitou a opinião pública depois de o Canadá ter sido palco de uma onda de calor que provocou queimadas, deixando o céu de boa parte do país cinzento. Em Vancouver, por exemplo, uma multidão de pessoas tomou as ruas no final de agosto em protesto pedindo prioridade na agenda dos candidatos sobre o aquecimento global1, tema de pouca inclinação nas suas campanhas.

No plano econômico, já depois da vitória dos liberais, o presidente do BMO Financial Group disse que «quase todos os partidos propuseram um aumento dos gastos fiscais e que este governo de minoria vai continuar com uma política fiscal frouxa, mas virá com aumento de gastos devido a melhoria da economia e das receitas2». Apesar de Trudeau ter sua aposta perdida, ele ganhou as eleições, mas sem deixar de desgastar ainda mais sua imagem. Agora com minoria e com pouca “audiência”, é possível que nos próximos 18 meses restantes de seu governo, Trudeau tente passar a liderança do partido para outra figura pública com mais consenso para fora, como é o caso de François-Phillippe Champagne, atual ministro da Inovação, Ciência e Tecnologia ou talvez, Pablo Rodriguez, o argentino-canadense, líder do governo e anteriormente ministro do Patrimônio e do Multiculturalismo.

Combater a extrema direita

Por fim, sabe-se que o Partido Liberal teve relativa vantagem nestas eleições devido ao aumento da popularidade do Partido Popular do Canadá (PPC), que de alguma forma, dividiu o voto da direita, enfraquecendo portanto, o poder de atração dos eleitores para o Partido Conservador. O fenômeno do PPC desperta atenção pelo fato deste Partido, dirigido por Maxime Bernier, ter conseguido quase 5% dos votos nestas eleicões, o que é significativo para um partido que foi fundado quase recentemente, em 2018, e que vem ganhando vários simpatizantes devido as suas propostas de, por exemplo, redução das políticas de imigração; revogação da lei canadense do multiculturalismo e a saída do Canadá do Acordo de Paris. O PPC liderou ultimamente violentos protestos antivacinas em frente de hospitais e escolas no Quebec e, além disso, é contrário aos passaportes de vacinais e vacinações obrigatórias.

Evidenciar o caráter iminentemente perigoso do PPC, expondo também o Partido Conservador como ameaça à democracia, além é claro de denunciar o Partido Liberal como um grande conglomerado de interesses dos grandes capitalistas, parece ser uma tarefa indispensável para os movimentos sociais e para a classe trabalhadora canadense.


1  https://www.cbc.ca/news/canada/british-columbia/protesters-in-vancouver-demand-federal-candidates-make-climate-crisis-a-top-priority-1.6168937

2  https://financialpost.com/news/election-2021/heres-how-markets-are-responding-to-the-federal-election-live-updates

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