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BRASIL

Com milhões em paraísos fiscais, empresários “patriotas” não merecem a sua admiração

da redação
Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Luciano Hang, dono da Havan

Neste domingo, 3, jornais e sites de todo o mundo divulgaram a lista de empresários e governantes que possuem contas e empresas em paraísos fiscais, com seus respectivos valores. A denúncia faz parte do projeto Pandora Papers, que reúne 600 jornalistas investigativos em todo o mundo, incluindo a Agência Pública, a revista Piauí, e os sites Poder360 e Metrópoles. A publicação revelou o conflito de interesses de integrantes do governo Bolsonaro, como o ministro Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto de Oliveira Campos Neto, gerando imediata resposta da oposição no Congresso. Mas a lista envolve muito mais gente, inclusive empresários que acompanham Bolsonaro desde a eleição, sustentam seu governo e até os que defendem o uso da cloroquina.

A investigação revelou o nome de sócios ou donos de 20 das maiores empresas do Brasil, que têm offshores em paraísos fiscais. Entre eles estão os irmãos donos da rede Prevent Senior, acusada de experimentos com pacientes; Luciano Hang, da Havan; Flávio Rocha, da rede Riachuelo; a família Menin, dona da construtora MRV, do banco Inter e do canal de TV CNN Brasil; os donos das marcas de calçados Grendene e Azaléia, a família Moll, dona da rede de hospitais D’Or, e os donos da financeira Crefisa.

A lista expõe a hipocrisia destes empresários e do bolsonarismo, que exaltam valores como patriotismo, honestidade e empreendorismo, enquanto utilizam os paraísos fiscais para investir fortunas, em condições totalmente diferentes das que qualquer outra pessoa teria no Brasil, começando pelo sigilo. A operação não chega a ser ilegal, mas é escandalosa, por, entre outras coisas, deixar de pagar impostos no Brasil, necessários para o combate à fome, a pandemia e à inflação.

O empresário Luciano Hang, que costuma aparecer publicamente usando ternos verde-amarelo, manteve por 17 anos uma empresa em um paraíso fiscal, no valor de 112,6 milhões de dólares. Até 2016, ninguém conhecia a Abigail Worldwide, empresa aberta nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal. Por todo esse tempo, Hang teve vantagens, realizando investimentos e pagando impostos muito menores, deixando de contribuir para a arrecadação de seu país, que poderia financiar saúde, educação e moradia, por exemplo.

A lista inclui ainda empresários com o nome sujo, devendo dinheiro ao INSS, e com milhões lá fora, em paraísos fiscais. E até investigados na CPI das fake news, que teriam usado recursos neste locais para financiar o gabinete do ódio bolsonarista.

Em 2020, segundo o Banco Central, 204,2 bilhões de dólares, o equivalente a 1,12 trilhão de reais, estavam em paraísos fiscais em nome de brasileiros. Dinheiro, que se estivesse no Brasil, significaria mais impostos e recursos para enfrentar a fome e a miséria e gerar empregos. Em vez disso, estes empresários e Paulo Guedes garantem esses valores lá fora, a salvo de qualquer instabilidade econômica, e ignorando totalmente a dor e fome do povo e a pandemia.

A extrema direita e a direita liberal, do bolsonarismo ao Partido Novo e MBL, costumam exaltar os empresários como heróis nacionais, por gerar empregos, como se fossem exemplos a ser seguidos. Por conta dessa campanha, muitos trabalhadores admiram gente como Luciano Hang, como empreendedores, como “vencedores”. Episódios como esse mostram que não há motivo para se orgulhar destes empresários, que conseguiram erguer suas empresas através de esquemas como esses, de várias isenções fiscais, e da exploração de seus funcionários, ou colaboradores, como gostam de nos chamar. 

Gente como Luciano Hang não merece admiração. Todo o discurso de defesa do Brasil e dos brasileiros não passa de hipocrisia. São parasitas, que levam seu dinheiro para onde render mais e sabotam o seu próprio povo e sustentam Bolsonaro, porque lucram com o seu governo genocida, em crimes como a defesa da cloroquina. Deveriam ter a fortuna taxada, com os recursos sendo usados para acabar com a fome. Só assim a vida vai melhorar.

Nossos verdadeiros heróis e heroínas não possuem conta em paraíso fiscal. São a auxiliar de enfermagem do SUS, as professoras, os entregadores. Enquanto essa minoria de empresários ficou ainda mais rica, os servidores públicos, os trabalhadores arriscaram a vida todos os dias na pandemia, e hoje não conseguem fazer as compras do mês. Estes são quem devemos nos orgulhar e defender, diante de propostas como a reforma administrativa e da mentiras da mídia.