1 – Entrando pela porta dos fundos
Ato no hotel em Nova York. Foto Myriam Marques.
Neste domingo, por volta das 19h (horário de Brasília), Bolsonaro chegou ao Hotel Intercontinental Barclay, em Nova York. No entanto, ele foi obrigado a entrar pela porta dos fundos, por recomendação do serviço de segurança norte-americano, pois um protesto o aguardava na porta do hotel. O grupo segurava faixas e cartazes com as frases “Stop Bolsonaro” (Pare Bolsonaro) e “You are not welcome here” (você não é bem vindo aqui) e contra o marco temporal, enquanto gritava “criminoso” e “genocida”. O vídeo do ato circulou o mundo. Há dois anos, ele havia entrado pela porta da frente do estabelecimento. Desta vez, nem ao menos um apoiador do presidente estava em frente ao hotel novaiorquino.
2 – Comendo na rua
Bolsonaro e comitiva, incluindo o presidente da Caixa e o ministro da Saúde. Reprodução / Instagram.
Na primeira noite, ele e sua comitiva, incluindo o ministro da Saúde, Queiroga, apareceram em uma foto, comendo fatias de pizza na calçada de um restaurante em Nova York. Longe de parecer despojado, a atitude evitou um vexame ainda maior, que seria o de a comitiva ser barrada no restaurante, por muitos não terem se vacinado. Nova York, assim como vários lugares do mundo, exige a apresentação de comprovante em determinados ambientes.
3 – Virando piada para Boris Johnson
O novo vexame veio com a reunião bilateral, nesta segunda, 20, com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também de extrema direita. Depois de Johnson fazer propaganda da AstraZeneca e dizer que tinha tomado duas doses da vacina, Bolsonaro afirmou que “ainda não” tinha se vacinado. Johnson reagiu com um mistode riso e incredulidade (veja o vídeo). A bilateral – a única reunião realizada pelo Brasil durante esta Assembleia da ONU – poderia ser uma ocasião para cobrar o motivo pelo qual pessoas vacinadas na América do Sul estão sendo submetidas a quarentena ao entrar no Reino Unido, como se não tivessem sido vacinadas ou como se o SUS ou a Anvisa não fossem considerados “relevantes”.
A pauta da conversa não foi revelada – supõe-se que Bolsonaro peça apoio para o Brasil integrar a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) o que pode ser negado, por conta do desmatamento e demais ações de destruição do meio ambiente por parte do governo e do agronegócio brasileiro. Essa vergonha não será gravada.
4 – Covid-19 confirmada na comitiva
Para piorar, hoje veio a público que, no sábado, 18, um integrante da comitiva brasileira teve o resultado positivo confirmado para covid-19. Ele foi colocado em isolamento, enquanto aguarda um novo teste. Segundo o The Brazilian Report, o jovem teria estado em encontros com vários diplomatas estrangeiros. Integrante do cerimonial, ele teria chegado há cerca de 10 dias nos Estados Unidos, para preparação da viagem, e teria convivido também com militares que fazem a proteção de Bolsonaro. Não há informações se estaria vacinado e, segundo a CNN, um rastreamento estaria sendo feito para identificar com quem ele teria tido contato. O ministro da Saúde, Queiroga, disse desconhecer o fato.
Nossa resposta virá no dia 2
A vergonha maior – essa para todos nós – virá no discurso de Bolsonaro, nesta terça-feira. A imprensa especula qual o tom do pronunciamento de 20 minutos: se ele seguirá o de sua fala de estreia, quando despejou verborragia ideológica e negacionista ou se, abalado pela crise política e de popularidade, buscará um tom ameno e conteúdo conciliador, para atenuar sua imagem negativa e preservar seu governo.
Seja qual for a linha adotada por Bolsonaro, nós seguiremos passando a vergonha de ter um genocida a frente do país, um ser desprezível, cujo governo foi capaz de estimular a realização de experimentos com pacientes idosos nos hospitais da Prevent Senior. Mas devolveremos a vergonha ao presidente no dia 02, quando as imagens dos protestos no Brasil percorrerão o mundo, com milhões de pessoas, mas muito maiores do que o corajoso protesto que o aguardava no hotel em Nova York.
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