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BRASIL

Sobre as fronteiras da unidade e da luta contra Bolsonaro

Matheus Soares*, de Belém, PA.

No dia 07 de setembro, assistimos incrédulos e preocupados as marchas bolsonaristas ocupando as ruas e bradando ameaças e clamores de golpe e de fechamento do regime. Os atos bolsonaristas, financiados amplamente por diversos setores do empresariado, foram bem maiores que o tradicional Grito dos Excluídos realizado pela esquerda e colocaram uma parcela considerável de pessoas para mostrar uma fictícia maioria nas ruas como forma de fazer peso em torno de seu projeto golpista. A base social de Bolsonaro que foi às ruas no dia 07 de setembro não pode ser subestimada de nenhuma forma, é o setor mais radical que o apoia e que, apesar dos absurdos, ainda não rompeu com ele, caracterizando uma minoria ainda fiel aos seus delírios golpistas.

enquanto a oposição deles é pura retórica para manter uma base social e tentar fortalecer uma terceira via, a nossa almeja realmente a derrubada de Bolsonaro e a neutralização do fascismo. O “Fora Bolsonaro” deles é para implantação de uma sociedade mais desigual onde o capital é soberano e o nosso é por uma sociedade igualitária e que rompa com o capitalismo para que consigamos avançar no nosso projeto político.

Jair Bolsonaro, mesmo com todo o desgaste que vem sofrendo, está longe de ser considerado como não perigoso à democracia. A saída é o impeachment, é colocar maioria nas ruas para contrapor o projeto bolsonarista de sociedade. Esperar as eleições de 2022 e apostar no desgaste contínuo de Bolsonaro não é uma opção porque a qualquer momento ele pode decidir pelo rompimento do regime e colocar sua base mais fiel à serviço desse propósito. A escalada golpista oscila com recuos táticos de Bolsonaro que não podem ser enxergados como simples flertes ou fraqueza. Não podemos cometer erros nesse momento.

A luta pelo impeachment de Bolsonaro tem duas dimensões que a esquerda deve observar, uma mais estratégica e outra mais tática, quais sejam, a frente única e a unidade de ação. A frente única, expressa na campanha Fora Bolsonaro, implica em construir uma aliança mais sólida entre os diferentes setores políticos da classes trabalhadora para resistir e mudar a relação de forças na sociedade. A unidade de ação implica em um acordo pontual, mesmo com setores burgueses que estão na oposição ao governo Bolsonaro, ao redor do impeachment. Aderir a atos, como o do MBL, com setores da direita que se dizem oposição ao Bolsonarismo mas somente sussurram pelo impeachment do presidente genocida é um erro tático que a esquerda não pode cometer. Aliar-se de modo adesista aos setores que encabeçaram e participaram amplamente do Golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, que apoiaram a criminalização da esquerda e que proporcionaram a ascensão e candidatura de Jair Bolsonaro não são alianças confiáveis.

Esses setores da direita dita moderada são os mesmos que estão por trás dos projetos econômicos que vem sendo aplicados por Bolsonaro por meio de uma agenda neoliberal de políticas de austeridade que massacra cada vez mais a classe trabalhadora e a população no geral. Desemprego, fome e miséria são palavras que voltaram a ser realidade para muitos setores da classe oprimida por conta do projeto neoliberal aplicado por esses setores por meio de Bolsonaro.

Por isso, não se pode confiar na oposição desses setores da direita pois eles estão mais pro lado de lá do que pro lado de cá. O fato da direita dita moderada não ter rompido completamente com Bolsonaro a ponto de iniciar uma movimentação no parlamento com seus deputados para pressionar uma abertura de pedido de impeachment demonstra que esses setores, apesar da ameaça de golpe, ainda possui uma confiança de que seu projeto político seja aplicado. Esses setores não elevaram o tom contra as ameaças de golpe de Bolsonaro porque sua agenda econômica ainda está mantida e isso é o que importa para eles.

A oposição deles não é a mesma que a nossa, enquanto a oposição deles é pura retórica para manter uma base social e tentar fortalecer uma terceira via, a nossa almeja realmente a derrubada de Bolsonaro e a neutralização do fascismo. O “Fora Bolsonaro” deles é para implantação de uma sociedade mais desigual onde o capital é soberano e o nosso é por uma sociedade igualitária e que rompa com o capitalismo para que consigamos avançar no nosso projeto político.

O único acordo possível e que nos interessa junto aos setores liberais que hoje estão na oposição ao governo Bolsonaro é somente para fortalecer a luta pelo impeachment, o que não implica em nenhum compromisso político e programático com setores como Kim Kataguiri e Joyce Hasselman.

É momento de refletir como aplicar essas duas táticas. Teremos força para não deixar nossas bandeiras serem capitaneadas e suprimidas em nome dessa unidade? Teremos capacidade retórica de para esclarecer à nossa base, a nossa vanguarda e aos nossos simpatizantes que a unidade de ação com setores burgueses não significa um apoio à dita terceira via burguesa? As manifestações de 12/09 do MBL e outros setores tinham como mote a palavra de ordem “Nem Bolsonaro, nem Lula” e não tiveram uma adesão nas ruas considerável.

Se Bolsonaro eleva o tom de suas ameaças ao regime, nós precisamos apostar no trabalho de base para colocar maioria nas ruas, apostar na denúncia da associação entre Bolsonaro e o centrão, cúmplice, para disputar o máximo de pessoas que conseguirmos para o nosso projeto político e para fortalecer as ruas pelo impeachment. É importante lutarmos pela construção de uma unidade de ação pelo impeachment de Bolsonaro, mas não podemos em nenhum momento descuidar ou tratar como secundário o fortalecimento da frente única da esquerda, essa deve ser a tática prioritária, pois somente um programa que paute as demandas mais sentidas pela classe trabalhadora como emprego, salário, vacina, comida e direitos sociais é capaz de mobilizar milhões e colocar a esquerda na condição de direção e de protagonista da unidade pelo impeachment. O momento é urgente, mas não podemos ultrapassar as fronteiras que nos diferenciam deles.

*Militante da Resistência/PSOL.