O governo Bolsonaro se enfraqueceu nos últimos meses politica e socialmente, mas o fascismo mostrou seus dentes nesta terça. Se prepara para uma tentativa de golpe, pois sabe que o mais provável é sua derrota eleitoral. O país corre perigo: todas liberdades estão sob ameaça. É possível derrotar e derrubar Bolsonaro. Para isso, é fundamental a realização de uma grande e plural manifestação democrática de massas no país, que mostre que a ampla maioria do nosso povo quer o fim desse governo da destruição e da morte. Estamos diante de um momento histórico do país. Apenas na luta podemos vencer.
Bolsonaro demonstrou força
Nunca antes na história do país um ato fascista foi tão bem preparado. O governo federal, o presidente, o empresariado bolsonarista, assessores de Trump, pastores mafiosos, todos eles e outros criminosos mais, se empenharam com afinco (e com muito dinheiro), durante dois meses, para a realização do ato golpista. Não existiu golpe como alguns previam, nem havia condições para isso. Não houve insurreição de PMs e do Exército, nem ocorreu confrontos sangrentos, como alguns alardearam disseminando o pânico. Mas Bolsonaro conseguiu, sim, levar centenas de milhares às ruas em grandes manifestações, especialmente em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro.
Com efeito, demonstrou capacidade de combate, acumulando forças. Trata-se de um governo cada vez mais isolado e desgastado na sociedade (em todas as classes sociais). Mas Bolsonaro mostrou que é capaz de mobilizar o segmento de massas que o apoia. Sabemos que é uma minoria social, porém trata-se de uma minoria expressiva, de milhões. Uma minoria de massas com disposição para seguir um líder fascista na luta é um perigo enorme, não a subestimemos. E o perigo ficou maior depois de 07 de setembro, não nos enganemos. Bolsonaro não tem condições para um golpe vitorioso nesse momento, como ficou evidente terça, mas prepara sua tropa de fanáticos para esse objetivo. Nesse sentido, teve uma vitória com seu ato fascista de massas.
Dois dias após o ato, Bolsonaro assinou uma carta escrita por Michel Temer, na qual fez um movimento tático, jogando água na fervura. Foi um recuo numa forma humilhante, que produziu crise e confusão na sua base de apoio mais radicalizada. Diante de pressões do grande empresariado, assustado com os impactos econômicos da crise política, e do temor do avanço das ações judiciais contra filhos e aliados, Bolsonaro optou por dar um passo atrás, após dar dois à frente terça. Não nos enganemos, foi um movimento de dissimulação, de morde e assopra, como tantas vezes ele já fez ao longo dos últimos anos. Bolsonaro visa, também, com esse recuo tático, conter a crise na relação com partidos da direita e do centrão no Congresso, evitando que ganhe corpo a pressão pela abertura do impeachment. Não nos iludamos, mais cedo que tarde, Bolsonaro voltará a morder.
Crise política e institucional se agrava
A decisão de Bolsonaro de radicalizar — enfrentando diretamente o STF e o TSE — produz uma crise institucional sem precedentes do país desde o fim da ditadura militar. O presidente ameaça ministros da Suprema Corte, conclamando seus seguidores para um golpe e afirmando que o seu destino será a vitória (do golpe), a morte ou a prisão. Acuado pela queda contínua na popularidade, pela CPI da Covid e pelo cerco dos inquéritos judiciais, isto é, ameaçado por todos os lados, Bolsonaro reagiu apelando ao recurso de maior força que tem em suas mãos: a mobilização fascista.
Essa contra-ofensiva bolsonarista acirra a cada dia a grave crise política e institucional. O contexto geral? Dados sociais alarmantes, escalada inflacionária, desemprego massivo, pobreza, fome e miséria crescentes. Importa notar, ainda, que a pandemia segue tirando vidas: já foram 585 mil brasileiros mortos entre os mais de 20 milhões de casos confirmados oficialmente de covid.
Os graves embates políticos e institucionais contaminam a economia já combalida, minando as expectativas de crescimento econômico. Sobe o descontentamento e os temores no grande empresariado e no mercado financeiro. Há fuga de capitais do país e o dólar sobe. Ainda sem defender abertamente o impeachment, setores da grande burguesia, vendo que a crise descontrolada prejudica seus negócios, emitem sinais mais contundentes de desembarque do barco governista, apoiando o STF e buscando construir a terceira via diante da polarização Lula versus Bolsonaro. No plano internacional, nunca o isolamento do governo brasileiro foi tão avassalador.
Em razão desses fatores, setores da direita tradicional, que respondem às frações mais poderosas da classe dominante, começam a se deslocar para a oposição mais aberta a Bolsonaro, falando até em impeachment. Vale ressaltar, porém, a tibieza da resposta das principais instituições do regime (Senado, Câmara, PGR e STF) à escala golpista de Bolsonaro. Mesmo o pronunciamento de Luiz Fux, presidente do STF, que representou a mais dura reação entre os poderes, ficou aquém do necessário.
O governo ainda preserva o apoio do Centrão na Câmara — mantido a preço de ouro. Além disso, muitos deputados da direita da tradicional, especialmente os que tem base nas regiões mais bolsonaristas do país, seguem dando sustentação ao Palácio do Planalto. Por outro lado, no Senado, Bolsonaro não tem maioria. A possibilidade da abertura do processo de impeachment, embora não esteja dada de imediato, por essa blindagem do centrão, volta ao radar com o agravamento qualitativo da crise institucional e econômica.
Esquerda não pode pensar só nas eleições
De maio a julho, Bolsonaro viveu um categórico processo de enfraquecimento político e social. A rejeição popular a seu governo disparou, a CPI foi instaurada e a esquerda ocupou as ruas em quatro grandes atos nacionais com centenas de milhares de pessoas, expressando a maioria social. Mas, a partir de agosto, o governo preparou a contra-ofensiva pautando o país com ameaças de golpe e a preparação de sua manifestação fascista de 07 de setembro.
A maior parte da esquerda subestimou Bolsonaro. Vendo apenas seu desgaste nas pesquisas, esqueceu que o bolsonarismo é, antes de tudo, um movimento de massas fascista, portanto, um instrumento de luta contrarrevolucionária de combate não apenas eleitoral. Não basta Bolsonaro estar desgastado: enquanto ele preservar capacidade de mobilização de massas e influência direta nos meios militares e policiais, o perigo estará colocado com máxima gravidade. Como a história ensina, o fascismo se derrota — sobretudo — no combate de rua, com luta de massas. Apostar todas as fichas no calendário eleitoral é um equívoco brutal, que pode abrir caminho para uma derrota histórica.
Lula, infelizmente, não convocou nem foi as manifestações da esquerda no 07 de setembro. Aliás, não foi a nenhum ato pelo Fora Bolsonaro até agora. Sua agenda é fundamentalmente eleitoral: a preparação de sua candidatura presidencial e de acordos no Nordeste (com lideranças do golpe de 2016 e do centrão) para os palanques nacional e regionais em 2022. Enquanto Bolsonaro convoca sua base para a luta, Lula faz apenas discurso de candidato. Assim o líder do PT não percebe o enorme perigo à vista: pode não haver eleições, ou o resultado das eleições pode não ser aceito. Para garantir que o povo brasileiro possa votar e definir o próximo presidente ano que vem, é preciso derrotar o golpismo de Bolsonaro antes, o quanto antes. E isso só se faz com luta de massas. É urgente que Lula mude de postura, convocando o povo trabalhador para a luta.
A Campanha Fora Bolsonaro manteve corretamente os atos de 07 de setembro, não sucumbindo ao clima de terrorismo plantado pelo bolsonarismo e reproduzido pela grande mídia e mesmo por lideranças e figuras públicas de esquerda e de centro-esquerda (como Marcelo Freixo, Ciro Gomes e outros). O alarmismo desenfreado fez encolher os atos da esquerda, que ficaram muito longe do seu potencial. Um grande número de pessoas ficou com medo de ir, temendo confrontos sangrentos. Apesar disso, foram valiosas as manifestações que mantiveram de pé as bandeiras da esquerda e revelaram que as ameaças aterrorizantes eram infundadas. Todas e todos que foram, corajosamente, às manifestações, merecem parabéns. Vale menção de destaque também ao PSOL, Povo Sem Medo e Guilherme Boulos, que lutaram pela realização dos atos mesmo com toda campanha adversa.
É hora da unidade ampla pelo impeachment: não há tempo a perder!
Bolsonaro mostrou que não está para brincadeira. Ele se prepara para a ação golpista. Se tiver condições, tentará executar o golpe. Mostrou que é capaz de mover centenas de milhares para esse propósito. Se ele considerar que não tem chance na eleição, poderá tentar a ruptura antes ou durante o processo eleitoral. Se considerar que tem possibilidade de vencer indo ao 2o turno, pode esperar o resultado final; mas, se o desfecho for a derrota, poderá tentar nesse momento o golpe. Subestimar o bolsonarismo, portanto, é o pior dos erros.
Quanto mais tempo Bolsonaro permanecer no poder, mais sofrimento acarretará para o povo trabalhador. A tarefa é derrubar esse governo antes mesmo da eleição, e não desgastá-lo até as urnas. A solução é o impeachment. O método para alcança-lo é a mobilização de massas nas ruas — única forma efetiva de pressionar o Centrão para a ruptura com Bolsonaro.
A tarefa central mais imediata é transformar a maioria social e política que existe na sociedade em maioria nas ruas. Para isso, é fundamental a unidade na ação das forças da esquerda com as forças da oposição de direita e do centro que estejam dispostas a lutar contra o governo. A defesa do impeachment deve ser o mote unificador. A construção de um ato de massas com todos esses segmentos, para o final de setembro ou início de outubro, deve ser a prioridade total nesse momento. O ideal é que estejam no mesmo palanque Lula, Boulos, FHC, Dória, Ciro, Eduardo Leite, Requião e todos outros que defendam o impeachment. Todo o resto nos separa da direita, mas esse ponto pode nos unir momentaneamente para uma ação concreta: derrubar Bolsonaro.
Essa unidade pontual não implica em apagar as diferenças que existem entre a esquerda e a direita. A esquerda deve manter a sua defesa intransigente dos interesses da classe trabalhadora e dos oprimidos, afirmando sua luta contra as reformas neoliberais, a retirada de direitos e as privatizações; pauta que a direita burguesa é favorável. Deve seguir defendendo com ardor, em Frente Única, os interesses dos explorados e oprimidos (emprego, renda, saúde, educação etc.). Mas isso pode ser feito sem prejuízo à unidade tática com setores da classe dominante que estejam a favor da remoção do fascista do poder. Devemos golpear juntos com a oposição de direita contra Bolsonaro, mas seguir em caminhos eleitorais, políticos e programáticos separados.
No que se refere ao ato do MBL, marcado para o dia 12, avaliamos que é um erro eventual adesão de setores da esquerda a ele. Primeiro, porque o ato não foi construído em unidade ampla. A direção dessa manifestação, o MBL (direita neoliberal que atuou no golpe de 2016), a convocou com o slogan “Nem Bolsonaro, nem Lula”. Um comunicado de última hora, tentando disfarçar esse caráter anti-esquerda, não resolve o problema. A unidade de ação pelo impeachment — que tanto precisamos e que deve envolver todos setores — deve pressupor construção conjunta. A Frente Fora Bolsonaro vem sendo protagonista da luta contra esse governo genocida. Pode e deve estar disposta à unidade mais ampla pelo impeachment, porém precisa, ao mesmo tempo, preservar o espaço e o protagonismo das organizações ligadas à classe trabalhadora. Além disso, é necessário tempo para construir um ato realmente grande e representativo. Em poucos dias, isso não é possível.
Por fim, ressaltamos o que nos parece essencial nesse momento: alertar a classe trabalhadora do perigo. Alertar a juventude do perigo. Alertar e convencer as grandes massas que não podemos esperar tranquilamente até o final de 2022 para tirar o fascista. Buscar construir espaços de diálogo e organização pelo Fora Bolsonaro nos locais de trabalho, estudo e moradia. Costurar a aliança tática mais ampla possível para esse fim. Com a luta da maioria, com o combate de massas, podemos e vamos vencer! Fora Bolsonaro!
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