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BRASIL

O perigo da “fraqueza” de Bolsonaro

Lucas Brito, de Belo Horizonte, MG
Antonio Cruz/Agência Brasil

Jair Bolsonaro, em cerimônia em comemoração ao Dia do Soldado.

Há semanas, avaliações das mais diferentes vertentes políticas têm dado conta do “enfraquecimento” de Bolsonaro. Os argumentos se centram na queda da sua popularidade – como indicado pelas pesquisas – e no seu distanciamento do setor hegemônico do capital.

Particularmente, tenho achado cada vez menos produtiva essa discussão sobre se Bolsonaro está fraco ou forte. Essencialmente, estamos sob grave ofensiva burguesa, da qual o bolsonarismo é produto. Essa ofensiva da classe dominante se expressa nos ataques contra os direitos sociais, ambientais e políticos da nossa classe.

Mesmo se Bolsonaro estiver fraco, nossa classe não está mais forte. E o “enfraquecimento” de Bolsonaro pode representar, inclusive, maiores perigos para nós.

O isolamento de Bolsonaro, tão apontado pela grande mídia, é efeito da sua radicalização. Quanto mais “fraco”, mais perigoso ele pode se tornar. O que Bolsonaro busca não é uma contrarrevolução de maioria, mas de uma minoria coesa, o que ele demonstrou ter e manter, desde sua eleição, em 2018.

Por sua vez, as Forças Armadas já demonstraram que voltaram para o centro da política com uma estratégia: exercer o dito “poder moderador”, “sobre” as classes, mas à serviço do capital – obviamente.

Portanto, acho mais produtivo perguntar ao nosso instinto de classe: há mais ou menos perigo no ar? Opino que muito mais.

A derrota de Trump, nas últimas eleições dos EUA, representou, sem dúvidas, uma perda de posição para a extrema direita mundial. Contudo, a eleição de Biden não repercutiu em uma mudança qualitativa da política externa do imperialismo norte-americano, não tem representado melhores condições para nós do Sul Global. Biden não irá nos salvar.

A burguesia, mesmo que se diga democrata – não tem compromisso com as liberdades democráticas da classe trabalhadora brasileira, majoritariamente negra – o que “justifica” sua indiferença sobre nossas condições de vida e atuação política.

Tampouco o medo e o pavor poderão nos ajudar. O momento é de coragem, para impedir a radicalização de Bolsonaro e derrotá-lo.

Não há um destino traçado, é possível derrotar o monstro. Mas não será fácil. Não vivemos mais no mesmo regime político de 1988. Apostar tudo no rito eleitoral é cagada, tá na cara, eu acho. Só lembrar do dia em que o governo conquistou 229 votos na Câmara contra as eleições, a favor da arruaça, pela forma do voto impresso.

Nesse dia teve tanques desfilando na Esplanada. As urnas não serão soberanas.

O dia 7 de setembro

Ontem, um amigo me perguntou o que eu achava do que aconteceria no 7 de setembro, considerando as convocações do bolsonarismo.

Bolsonaro e seus aliados estão apostando em importantes atos para essa data. O objetivo é demonstrar força nas ruas, para avançar em sua escalada autoritária, rumo à ruptura. Esse é o projeto.

O grande valor das manifestações da esquerda dos últimos meses foi o de impedir que as ruas fossem predominantemente da direita, como vinha acontecendo antes. No meio de tantas dificuldades, isso se tornou um patrimônio nosso do qual não podemos abrir mão.

Considerando essas coisas, respondi ao rapaz que nós temos que dividir o 7 de setembro, essa data não pode ser utilizada para uma agitação bolsonarista, sem que façamos o contraponto. Assim, irmos às ruas nessa data é uma tarefa fundamental para toda a esquerda e de quem defende as liberdades democráticas.

Vamos todes ao 7 de setembro!