Atualmente a produtora de filmes Brasil Paralelo está sendo alvo de investigações na CPI da Covid e na CPMI das Fake News. A empresa diz ser financiada exclusivamente pelos seus membros assinantes, mas teve um crescimento meteórico no seu patrimônio após a eleição de Jair Bolsonaro. Segundo o jornal Folha de São Paulo, a empresa faturou, em 2020, “R$ 30 milhões, crescimento de 335% sobre 2019, já descontada a inflação. Atualmente com 200 mil assinantes que pagam para ter acesso a seu conteúdo de documentários e cursos de viés direitista, estabeleceu como meta chegar a 1 milhão até o final de 2022.”
A empresa disponibiliza em sua plataforma (paga) conteúdos relacionados com história, educação, política, economia e filosofia. Todos com um caráter revisionista e negacionista. Segundo um dos seus sócios fundadores, Filipe Valerim, em entrevista concedida ao Boletim da Liberdade, “procuramos sempre estar em contato com think thanks que promovam ideias de liberdade.” Em 2017, a Brasil Paralelo foi lançada no Fórum da Liberdade. Segundo o historiador Flávio Casimiro “o Fórum pode ser compreendido como um evento catalisador da ideologia neoliberal, libertária e liberal-conservadora. Assim, apresenta propostas de políticas públicas, cobra e exerce pressão sobre a sociedade política pela aprovação de projetos e reformas, articula distintas frações da burguesia brasileira, agrega e condiciona novos quadros de intelectuais orgânicos.”
A integração da Brasil Paralelo ao Fórum, tem por objetivo, segundo Valerim, “estabelecer um contato mais próximo com as pessoas de forma offline e divulgar o conteúdo para quem ainda não o conhece.” Nesse espaço, a B.P. encontrou um “caminho” para ampliar a divulgação dos seus projetos e produções.
recebemos uma notificação extrajudicial da empresa. Nela, exigia-se a veiculação de um direito de resposta, em razão do meu artigo em parceria com Eduardo. Além disso, outras notificações foram endereçadas aos demais autores que publicaram na coletânea. O documento alega que o artigo em questão reproduzia “opiniões difamatórias sobre a empresa, com termos conotativos e opiniões parciais.”
Interessada em pesquisar a atuação das Direitas no Brasil contemporâneo, escrevi e organizei um E-book publicado em 2020, com o meu colega de mestrado, e com outro mestrando, Eduardo Pereira, da Universidade Federal da Bahia. Em conjunto, escrevemos o artigo “Brasil Paralelo: atuação, dinâmica e operação: à serviço da extrema-direita (2016-2016).” No mês de junho de 2021, recebemos uma notificação extrajudicial da empresa. Nela, exigia-se a veiculação de um direito de resposta, em razão do meu artigo em parceria com Eduardo. Além disso, outras notificações foram endereçadas aos demais autores que publicaram na coletânea. O documento alega que o artigo em questão reproduzia “opiniões difamatórias sobre a empresa, com termos conotativos e opiniões parciais.” Infelizmente a empresa conseguiu que o direito de resposta fosse veiculado na obra.
Ainda segundo a notificação enviada pela empresa:
o sucesso do Brasil Paralelo junto ao público decorre em grande medida parte da imparcialidade com quem examina e analisa temas que são objeto de seus conteúdos. Sempre uma empresa desvinculada de grupos políticos, a Brasil Paralelo tem plena liberdade para tratar dos mais variados temas de forma imparcial, sem a necessidade de beneficiar “A” ou “B”, e sem qualquer tipo de restrição à realização de críticas a quem quer que seja.
Notamos que a empresa, mesmo dizendo-se “imparcial e apartidária”, não segue esse caminho na prática. Uma das suas produções de grande notoriedade, intitulada “Brasil a última cruzada”, publicada em 2017, teria como propósito, segundo a empresa, “desbancar seu professor de história”. Utiliza esse mecanismo para enfatizar a sua propaganda obscurantista e legitimar a oferta do curso de História do Brasil, oferecido pela produtora. Como bem examinado por Flávio Casimiro, “A direita brasileira, passa a disputar no campo da narrativa histórica, como forma de legitimação de suas pautas reacionárias, antiprogressistas e autoritárias do presente.”
Mesmo que seja apenas uma notificação extrajudicial, a atitude claramente interessada em cercear a atividade intelectual causou temores entre nós. Somos jovens pesquisadores. Alguns de nós, inteiramente dedicados aos estudos sobre a extrema-direita. Sofrendo com os cortes na educação pública, e a desvalorização das ciências humanas. Agora, sendo perseguidos por uma empresa que tem dinheiro suficiente para pagar os seus advogados e ir atrás de professores e alunos, que realizam trabalhos sérios e críticos sobre sua atuação e as suas produções.
Não é a primeira vez que o Brasil Paralelo assume essa postura. Pesquisadores e professores, tidos como mentirosos na propaganda da plataforma obscurantista, tem sofrido com essas tentativas de intimidação. Contra isso, temos que criar uma rede de apoio e solidariedade. Reunindo aqueles que desejam se empenhar na realização das condições para que a liberdade de mentir e o direito de censurar sejam depositados onde merecem. No deserto da verdade de um mundo paralelo. Longe, muito longe de nós.
*Eduardo Pereira é mestrando em História na UFBA
**Mayara Balestro é mestranda em história na Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste)
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