Neste artigo, à luta pelo Fora Bolsonaro, acrescento a discussão no sentido de se introduzir uma maior ênfase ao combate à escalada destrutiva levada a cabo pelo presidente da Câmara dos Deputados, o senhor Arthur Lira. A questão de fundo é como levantar esse problema sem retirar a necessária centralidade da campanha pelo fim do governo fascista que empesta o país com os seus arreganhos de besta fascista.
Nos limites deste texto, tento responder a essa questão.
A centralidade do Fora Bolsonaro
Dentro do contexto concreto em que nos encontramos, embora haja diferentes matizes de entendimento, ninguém em sã consciência há de se opor ao pressuposto de que o centro da tática de qualquer organização do campo da classe trabalhadora passa forçosamente pelo Fora Bolsonaro.
Jair Bolsonaro, um notório fascista, é o chefe de um governo de extrema-direita que ameaça as liberdades democráticas, os direitos sociais e a integridade física de ativistas e organizações populares e de esquerda. Ele precisa ser contido. Precisa ser derrotado. As mobilizações em curso, em todas as suas coreografias, estão calçadas nessa estratégia.
Nesses dias, aliás, o acuado líder fascista reforçou sua retórica bélica e deu um passo à frente no sentido de propiciar uma maior amplitude às suas ameaças golpistas. A imprensa, representantes de todas as instituições do Estado e as ruas não falam de outra coisa. Há um forte viés na direção de um aprofundamento sem tamanho da crise política, até pelas revelações da CPI e o estresse Bolsonaro x STF/TSE.
Posto isso, tudo o que é necessário é uma tática que aponte para mobilização de milhões, único modo de derrotar o fascismo bolsonarista, mobilização essa que teve seu ponto de partida nas quatro manifestações que agitaram o país, entre maio e julho. Nessa perspectiva, a bandeira do Fora Bolsonaro é a chave da situação política. Qualquer coisa que acrescentemos deve girar em torno a essa palavra de ordem.
E o Arthur Lira?
Mas enquanto as tensões se acentuam, a velocidade e a fluidez das decisões no parlamento passam a impressão de uma inacreditável normalidade institucional. O cenário de aceleração das votações, tudo a toque de caixa, abarca as duas casas, mas é mais visível na Câmara dos Deputados, que capitaneia a máquina de privatizações (Eletrobrás, Correios), de retirada de direitos dos(das) trabalhadores(as) e de afirmação de medidas políticas antidemocráticas (PEC do “distritão”, corte nas políticas de reparação que beneficiam as candidaturas de mulheres e negros etc.).
Outra questão é que caberá ao plenário da Câmara dos Deputados o constrangimento de discutir a PEC do famigerado voto impresso, rejeitado na Comissão Especial. Na história do parlamento, a tradição é que o relatório da Comissão Especial é normalmente acatado e não levado a plenário, como irá ocorrer agora.
Nota-se, contudo, que todas as manobras que conduzem a essa condição de terra arrasada no parlamento têm sido lideradas, com incomparável desfaçatez, por Arthur Lira, que até parece se achar ungido pelo óleo dos deuses do neoliberalismo para fazer avançar sua agenda feroz e destrutiva.
Nunca um presidente da câmara encaminhou de modo tão antidemocrático e de maneira tão acelerada um conjunto de propostas antinacionais, antiambientais e antipopulares. A entrega aos sequazes do capital de todo patrimônio ecológico da Amazônia, incluindo a legalização da ofensiva contra as terras indígenas, é uma ilustração viva dessa linha dilacerante. Lira está botando o agente do capital, o velho Rodrigo Maia, no chinelo. Sua sanha parece irrefreável.
Há quase um paradoxo, porém, no tratamento que tem sido dado a essas questões. Enquanto corretamente situamos o Fora Bolsonaro no centro da tática, quase silenciamos em relação a avalanche criminosa conduzida por Lira. É preciso responsabilizar esse senhor com maior ênfase. É preciso denunciá-lo com mais força. É preciso, por fim, buscar os meios necessários para parar o homicida do Centrão, que a partir de sua posição privilegiada no parlamento se torna um apoio decisivo ao programa ultraneoliberal dos rentistas e aos projetos do pretendente a Mussolini que segue entrincheirado no Palácio do Planalto, até porque mais de 100 pedidos de impeachment (muitos da época do Rodrigo Maia) seguem na gaveta.
No curso dos fatos, o papel do Sr. Lira não é simplesmente acessório. Ao contrário, é substancial. Assim, ao conjunto das palavras de ordem, que tem como hierarquia a consigna de fora o governo genocida, deve se incluir o abaixo a ditadura de Arthur Lira no parlamento, acompanhado da defesa das reivindicações da classe trabalhadora, das empresas estatais e da massa do povo que sofre os efeitos das decisões draconianas comandadas pelo deputado do Centrão.
O que fazer?
É crucial parar Arthur Lira. Sem isso, enquanto Jair Bolsonaro passeia de moto e lança no ar suas bravatas, no parlamento o trator pisoteia as conquistas sociais, os direitos trabalhistas, o meio-ambiente e as liberdades democráticas. Parece ser uma tarefa a mais, mas é mais do que isso: é uma tarefa necessária e inadiável. Não basta gritar Fora Bolsonaro e a boiada seguir passando. O país não aguenta mais! Tampouco pode esperar por 2022.
Diante desse quadro dramático, a frente única das organizações da classe trabalhadora tem um desafio inadiável. As próximas mobilizações devem incorporar palavras de ordem que traduzam essa questão para o plano da luta direta. Ao lado disso, é urgente iniciar uma campanha com o intuito de frear o rolo compressor no parlamento que ameaça transformar uma nação em um grande deserto.
Decididamente, o quanto pior não é o melhor.
*Militante da Resistência/PSOL
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