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EDITORIAL

O golpismo de Bolsonaro precisa ser derrotado

Editorial
Divulgação Presidência da República

English version: Bolsonaro’s ‘golpismo’ must be defeated

Enfraquecido, Jair Bolsonaro radicaliza à extrema-direita. O alvo da vez é o sistema eleitoral. Bolsonaro afirma — sem nenhuma prova e com muitas mentiras — que haverá fraude nas eleições de 2022 para derrotá-lo. Disse em várias oportunidades que, se não houver voto “impresso e auditável”, não haverá eleição. São ameaças explícitas e reiteradas. As  pequenas manifestações bolsonaristas, ocorridas no domingo (1), foram convocadas com esse eixo golpista. Diante da crescente fragilização do seu governo e da possível derrota eleitoral em 2022 para Lula, Bolsonaro adota, com apoio de setores militares, a linha da radicalização neofascista  para mobilizar sua base social mais fanática e desestabilizar o processo eleitoral que se aproxima.

Embora Bolsonaro não tenha força política e social, nem dentro nem fora do país, para impor um golpe militar, sua campanha antidemocrática é de enorme gravidade. Primeiro, porque visa tumultuar a disputa eleitoral e deslegitimar qualquer resultado que não seja a sua reeleição. Assim, não hesitará, se tiver condições para tanto, em realizar atos criminosos de ataque ao processo eleitoral. Segundo, porque, ainda que ocorram eleições sem maiores transtornos, Bolsonaro, sabendo da sua provável derrota eleitoral, prepara desde já a formação de uma oposição fascista e golpista no país contra o governo que vier a ser eleito.

Por isso, é fundamental derrotar o golpismo de Bolsonaro avançando na luta pela sua derrubada  o quanto antes. Não deve haver qualquer ilusão de que ele respeitará as regras do atual sistema eleitoral. Já foi tomada a decisão de colocar em marcha a campanha de desestabilização do processo eleitoral. Subestimar o fascista é um erro grave. Bolsonaro está enfraquecido, mas não está ainda derrotado. Há uma significativa maioria social contra seu governo, mas ele mantém uma base de apoio de massas, ainda que minoritária. Não aceitará sua queda sem uma luta feroz, ao estilo neofascista, para preservar sua influência e poder. Portanto, é chave manter e fortalecer a Campanha Fora Bolsonaro nesse segundo semestre. A batalha pelas ruas é decisiva.

Nesse sentido, a esquerda não pode depositar todas suas fichas numa eventual vitória eleitoral no final do ano que vem, até porque Bolsonaro pode vir a recuperar popularidade até lá. O principal é intensificar agora a luta de massas pelo impeachment. Há um importante calendário de lutas definido pela campanha unitária Fora Bolsonaro, que aponta para um novo grande ato nacional em 07 de setembro, sendo precedido de outras mobilizações e ações em agosto, como a luta contra a reforma administrativa (PEC 32) e a privatização dos Correios. Em 18 de agosto, está marcado um dia nacional de paralisação dos funcionários públicos.

Aproveitar as divisões na classe dominante e avançar na construção da Frente de Esquerda

É preciso, também, aproveitar as fissuras e os conflitos existentes no andar de cima. Bolsonaro, com medo do impeachment, colocou Ciro Nogueira (PP) para comandar a Casa Civil, o segundo posto mais importante do Executivo Federal. Com isso, ganha maior blindagem no Congresso, ao menos por enquanto, afinal, como se sabe, o Centrão cobra cada vez mais caro pelo seu apoio e pode, a depender da evolução da conjuntura, pular do barco governista, se considerar que tem mais a perder do que a ganhar. Mesmo com o apoio do PP de Ciro Nogueira, Bolsonaro não tem o controle da CPI da Covid, nem a maioria no Senado.

Além disso, está em conflito aberto com a cúpula do Poder Judiciário. Por unanimidade, o TSE e o STF abriram novos inquéritos contra Bolsonaro essa semana por crimes eleitorais, crimes comuns e de responsabilidade. Há, também, setores importantes da burguesia que, embora apoiem a pauta de privatizações, como a dos Correios, e de reformais liberais de Paulo Guedes, se opõem politicamente a Bolsonaro. O manifesto divulgado nos jornais nesta quinta (5), intitulado “Eleições serão respeitadas”, assinado por banqueiros, grandes empresários (Itaú, Magalu, Credit Suisse, Natura, Suzano, entre outros), economistas de mercado e outras personalidades públicas, se coloca contra a campanha golpista de Bolsonaro.

A unidade da Esquerda, para as lutas e as eleições, segue sendo a tática principal para derrotar o governo e bolsonarismo. Ao mesmo tempo, é preciso valorizar as unidades de ação concretas com os setores burgueses que queiram enfrentar Bolsonaro. Fortalecer o calendário unificado de lutas e construir um novo grande ato nacional pelo Fora Bolsonaro em setembro deve ser a prioridade. A estratégia central é, com a força das ruas, derrubar esse governo genocida ainda esse ano.

Junto com isso, é necessário construir a alternativa eleitoral da esquerda para 2022. Defendemos a formação de uma candidatura que unifique o conjunto dos partidos de esquerda (PSOL, PT, PCdoB, PCB, PSTU, UP), os movimentos sociais, o movimento negro, o de mulheres, o LGBT, o indígena, o ambientalista, entre outros. Consideramos que Lula, por ser a principal liderança popular do país e liderar as pesquisas de voto, deve ser o candidato a presidente dessa frente de esquerda.

Porém, somos contra alianças com setores da direita e defendemos um programa de mudanças estruturais com propostas anticapitalistas para garantir emprego, renda, saúde, educação, moradia e cultura para o povo. Costurar coligações eleitorais com velhos golpistas, como quer a direção majoritária do PT e Lula, significará renunciar, novamente, ao programa de transformação social da esquerda. A “governabilidade” que precisamos deve ser garantida por meio do apoio ativo da maioria povo trabalhador e oprimido e não com alianças com a burguesia e a direita, que só prepararão novas traições e golpes, tão recorrentes na história do país, como bem demonstrou recentemente o golpe contra Dilma Rousseff, que foi liderado pelo seu vice, Michel Temer, do MDB.

Derrotar o governo Bolsonaro e a extrema direita neofascista deve ser a prioridade número zero do conjunto da esquerda e dos movimentos sociais. Para isso, a unidade é decisiva. Derrotando Bolsonaro e a direita, podemos abrir caminho para a constituição de um governo da esquerda, sem alianças com a direita, que governe com e para a maioria do povo explorado e oprimido. Dentro do PSOL, que realiza seu Congresso Nacional em setembro, atuamos por essa linha política, cujo eixo é a defesa da Frente de Esquerda para as lutas e as eleições.