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Colunas

Relato 17: “Tal Dita”

Evandro Teixeira

Que Loucura!

Coluna antimanicomial, antiproibicionista, abolicionista penal e anticapitalista. Esse espaço se propõe a receber relatos de pessoas que têm ou já tiveram alguma experiência com a loucura: 1) pessoas da classe trabalhadora (dos segmentos de pessoas usuárias, familiares, trabalhadoras, gestoras, estudantes, residentes, defensoras públicas, pesquisadoras) que já viveram a experiência da loucura, do sofrimento psicossocial, já foram atendidas ou deixaram de ser atendidas e/ou trabalham ou trabalharam em algum dispositivo de saúde e/ou assistência do SUS, de entidades privadas ou do terceiro setor; 2) pessoas egressas do sistema prisional; 3) pessoas sobreviventes de manicômios, como comunidades terapêuticas e hospitais psiquiátricos, e outras instituições asilares; 4) pessoas do controle social; 5) pessoas da sociedade civil organizada, movimentos sociais Antimanicomiais, Antiproibicionistas, Abolicionistas Penais, Antirracistas, AntiLGBTFóbicos, Anticapitalistas e Feministas. Temos como princípio o fim de tudo que aprisiona e tutela e lutamos por uma sociedade sem manicômios, sem comunidades terapêuticas e sem prisões!

COLUNISTAS

Monica Vasconcellos Cruvinel – Mulher, latinoamericana, feminista, escrivinhadora, mãe, usuária da RAPS, militante da Resistência-Campinas, da Luta Antimanicomial pela Coletiva Livre Nacional de Mulheres e Saúde Mental Antimanicomial (CLNMSMA) e Conselheira Municipal de Saúde;

Laura Fusaro Camey – Militante da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (RENILA);

Andréa Santos Miron – Mulher, feminista, apaixonada pelo Sistema Único de Saúde, por fazer trilhas e astronôma amadora; Assistente Social de formação pela Universidade Federal de São Paulo, pós-graduada em Saúde Pública, Saúde Mental e Psiquiatria; Militante pela Resistência / Psol – Mauá/SP, pela Coletiva Livre Nacional de Mulheres e Saúde Mental Antimanicomial, pelo Fórum Paulista da Luta da Luta Antimanicomial e Movimento Nacional da Luta Antimanicomial.

Se você quer compartilhar o seu relato conosco, escreva para [email protected]. O relato pode ser anônimo.

Por Andréa Santos Miron

“DitaDura”… Quem é essa figura que tantos evitam mencionar?

Qual é o motivo desse medo? Uma linguagem que não se curva, não se esquiva e não se desculpa por sua franqueza?

De onde vem esse receio que se esconde nas sombras, nas estrelas e nas entrelinhas?

Que expressão é essa que é proibida, mas que por 21 anos foi escrita, proclamada e afinada?

Dos “por quês” que evitamos abordar sobre os manicômios, onde, em vez de cuidado, reinava a tortura e todo tipo de abuso.

Por que agora estamos proibidos de mencionar o que foi escancarado ao longo dos últimos 5 anos?

Esse texto é sobre dores, que não podem ser esquecidas, sobre as chagas abertas que encheram os inúmeros cálices anistiados.

Dessa “DitaDura”, quero distância, quero condenação, quero proclamar em voz alta a história oculta, quero denunciar o ódio que tentaram sufocar.

Quero desafiar as vozes que querem nos silenciar e destacar as vozes que foram violentamente caladas.

Dessa “DitaDura”, que existiu e calou nosso calor, ocultou nossa dor, roubou nossa paz, escondeu nossa história, glorificou os algozes e imolou mulheres, homens, loucos, homossexuais, crianças, idosos…

Quero gritar os nomes de Rosa, Angel, Áurea, Vladimir, Tito…

Ecoa a dor e a angústia de uma página triste da nossa história, sendo mais uma tentativa de lembrar para que não mais aconteça.

É sobre as vozes dos sobreviventes, dos que não esquecem, dos filhos deixados para trás, das meninas abandonadas…

É pela sobrevivência dos restos não encontrados, pelas memórias dilaceradas e pelas as covas sem nome.

É sobre portões das prisões e a perda de toda a humanidade, consumida pela ideologia cruel do capitalismo.

É um apelo humano para que não nos falte coragem para destruir as borrachas que querem intencionalmente apagar esse traço grosso, incoerente, doloroso, tenebroso e recente da nossa tão sangrada e sobrevivente “democracia brasileira”.