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BRASIL

Contra o genocídio, mulheres negras mostram o caminho

Afronte Negro e Coordenação Nacional do Afronte!

“Dandara vive, Dandara viverá. Mulheres negras não param de lutar!”

A situação de crise social que nosso país se encontra hoje, atinge com força de tsunami a população negra e indígena, que empurrada para beira do abismo por conta do racismo que organiza as estruturas do capitalismo brasileiro, são a parcela do nosso povo que mais sofre com a fome, com o desemprego e com o vírus. O genocídio do povo negro e indígena efetuado pelo Estado brasileiro controlado pela nossa Casa Grande, ganha novos contornos com a pandemia e se intensifica com o governo Bolsonaro que é a máxima expressão do projeto colonial da burguesia brasileira.

Mesmo que já tivéssemos perspectivas extremamente negativas, é certo dizer que nem nos piores cenários imagináveis nos assomou a situação atual do Brasil. Com mais de 500 mil pessoas que choram enlutadas. Temos assistido uma pandemia fruto da exploração capitalista assentar e ser usada como um instrumento para a intensificação do genocídio sobre as pessoas negras que percorre nosso país desde seus primórdios. A própria vacinação que é a alternativa mais eficaz de imunização vem nos sendo negada não somente por conta do negacionismo científico, mas por interesse num esquema corrupto bolsonarista que foi escrachado na CPI. Os que mais sofrem com a não chegada da vacina é a população negra, que ainda representa a menor percentagem de vacinados. Nossas vidas valem mais que um dólar e por isso – e outras tantas reivindicações que serão desenvolvidas ao longo do texto – queremos mostrar como o genocidio e a precarização da população preta, principalmente das mulheres negras é um fator central para irmos as ruas mais uma vez nesse 24J, em unidade e no fortalecimento do antirracismo.

Que o povo negro não morra nem de bala, nem de fome, nem de Covid. A luta do Fora Bolsonaro se faz pela luta antirracista.

Passamos por um dos períodos mais difíceis da história de nosso país. A fome retorna a mesa do do brasileiro e é a única coisa que enche o prato de 20 milhões de pessoas, um crescimento de 100% em dois anos. Hoje, 4 em cada 10 famílias se encontram em situação de insegurança alimentar, isto é, não têm garantia de alimentos em quantidade/qualidade para sobrevivência ou então não sabem quando acontecerá sua próxima refeição – o quadro piora em famílias que são chefiadas por mulheres e pessoas negras. Vivemos em governo que não salvou nem as vidas, nem a economia, mesmo com a alta dos preços Bolsonaro cortou o valor do auxílio emergencial, única fonte de renda para várias famílias, empurrando essas família para precarização.

O desemprego bate novamente níveis recordes, 52% da população está desempregada, subempregada ou desistiu de procurar emprego. A tristeza e a desesperança são constantes no Brasil que se transformou em um cemitério a céu aberto. Vivemos em um país que as balas perdidas sempre são encontradas em corpos negros, afinal, a cada 23 minutos um jovem preto é assassinado nas mão da PM, o que indica a urgência da desmilitarização dos projetos de segurança pública. Esse extermínio que ceifa principalmente os homens jovens, também atravessa as mulheres e mães negras – como aconteceu com Kathlen Romeu ainda este ano, que teve sua vida e gravidez interrompidas pelas mãos da polícia. Quando não diretamente assassinadas sofrem o constante luto que é viver à procura de justiça por seus filhos, maridos e familiares.

Nesse cenário, os mais interessados na derrubada de Bolsonaro são as pessoas pretas, que vivem diariamente este genocídio provocado por políticas intencionais do governo. Neste sábado, dia 24, mais uma vez tomaremos as ruas como parte dessa campanha permanente pelo Fora Bolsonaro. Um movimento que tem conseguido avançar graças a construção com base na unidade entre a esquerda e movimentos sociais, impulsionando assim uma frente única simbolizado pela Campanha Fora Bolsonaro. É também de muita importância não esquercemos que o movimento negro abriu a volta dos atos de rua no 13M, com o ato nacional em resposta à brutal chacina ocorrida em Jacarezinho e em memória às 29 vidas perdidas nesta operação criminosa da Polícia Civil. Construído pela unidade do movimento negro e puxado pela Coalizão Negra por Direitos, esse ato teve papel fundamental no impulsionamento dos atos que se sucederam pedindo o Fora Bolsonaro. Desde o 13M, já denunciavamos o genocídio da população negra que acontece de forma desenfreada, promovido pela estrutura neoliberal e racista do Estado e intesificado por esse governo.

Assim a tarefa de ganhar cada vez mais a maioria social para o combate à Bolsonaro, ou seja, massificar os atos, precisa ser feita e construÍdo na base, dialogando com a população sobre a urgência da derrubada desse governo e em conjunto do ganho para o combate às ideias e ao programa bolsonarista e da Casa Grande. Precisamos enxergar a ameaça deste governo para a vida do povo negro. Isso faz por unirmos nas ruas as lutas pela defesa da educação, dos serviços públicos, do SUS, com a luta contra o encarceramento de pessoas negras que segue em alta nesse governo, a luta contra o racismo estrutural, e por uma nova política de segurança pública que não seja pautada em uma guerra às drogas que justifica o extermínio. Essa unidade com a luta antirracista também tem que estar presente nos projetos de poder em debate na esquerda sobre os rumos desse país. Não existe um Bolsonaro sem racismo, assim como não há democracia com racismo. A luta pelo Fora Bolsonaro e a construção de um projeto político de futuro pro nosso país se faz pela luta antirracista.

Julho das pretas pelo Fora Bolsonaro: para o Brasil genocida mulheres negras apontam a solução

Na trajetória da pandemia em nosso país, quando os primeiros infectados eram em sua maioria pessoas de alta renda que retornavam de viagem do exterior, a primeira vítima fatal foi uma mulher negra, que teve que trabalhar como doméstica na casa de uma família que havia contraído a doença.

As mulheres negras que historicamente se encontraram em uma condição maior de exclusão do mercado de trabalho, tiveram um processo de intensificação dessa exclusão com a pandemia e com a política de abandono do governo Bolsonaro. O Brasil que vê os super ricos aumentarem sua fortuna em 71%, é também o Brasil que a cada 10 mulheres negras 7 estão desempregadas.

Ao olharmos o mapa da fome no Brasil e vermos os lares atingidos por esse mal, iremos encontrar uma imensa maioria que são chefiados por mulheres negras. No segundo país que mais produz alimento do mundo, mais de 60% dos lares chefiados por mulheres negras a fome é companhia na hora da refeição.

O período pandêmico viu o número de casos de violência doméstica aumentar em todo o Brasil. Somente o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) registrou aumento de 50% no número de denúncias. A pandemia mostrou a realidade que as mulheres negras se deparam diariamente, a situação de tripla opressão, como apontou Lélia Gonzáles, com um encontro do racismo, do machismo e da posição de classe.

Mas é nesse imenso cemitério que o Brasil se tornou que se faz importante olharmos para trás, pois é no ontem que encontraremos os caminhos para enfrentar a tempestade que passamos hoje. Pois, afinal, quem conhece os caminhos que trilhou não se perde.

Ao longo da história de nosso povo, em todos momentos de dificuldades e de ofensiva por parte da Casa Grande, a resistência e a luta encontrou eco na voz das mulheres negras. São estas que foram e são a vanguarda da luta por direitos em nosso país. As mulheres negras em todo país têm se constituído como as principais lideranças políticas na luta por moradia, emprego e vida plena. Ousam ocupar a esfera política institucional e honrar o legado de Marielle Franco.

São aquelas que estão no centro do trabalho de reprodução social e que sofrem ainda mais com a exploração capitalista. São as mantenedoras das suas comunidades, cuidando de seus filhos, dos das sinhá e das companheiras da comunidade. Pela solidariedade aumentam a água no feijão para que todos possam comer e organizam doações para a comunidade. Ninguém mais do que as mulheres negras sabe o que viver e administrar a crise é e por isso que toda e qualquer solução passa não só pela melhoria de nossas vidas, mas também pela nossa presença nas esferas de decisão.

Não faltam motivos para ocuparmos as ruas pelo Fora Bolsonaro no dia 24 de julho. O ato que acontece em um dia anterior ao dia 25, dia da mulher negra afro-americana latina e caribenha, precisa demonstrar em suas faixas, falas e gritos a luta das mulheres negras. Pois é com a pressão das mulheres negras pela derrubada de Bolsonaro antes de 2022 que derrotaremos esse governo que representa ameaça para nossas vidas. Em luta para aquelas que nunca pararam nesta pandemia, consigam vacina no braço e comida no prato. Já que quando as mulheres negras se movimentam, o Brasil todo se movimenta, e quando o Brasil se movimenta, o governo Bolsonaro chega ao fim.

Nesse 24J nós gritaremos nas ruas que quanto mais tentam nos negar direitos, nos silenciar, nos matar, com mais força nós respondemos. Diversas vezes tentaram nos enterrar, esquecendo que somos sementes e florescemos das lutas das nossas ancestrais. Iremos com a força de Dandara ,Luísa Mahin, e Tereza de Benguela.Com o povo negro, principalmente mulheres negras compondo a linha de frente da oposição e luta por uma maior ocupação de pessoas negras e LGBTQIA+ em cargos políticos no Brasil, por mais Carolinas Iaras, Izas Lourenças, Erika Hiltons, mulheres negras LBTs que entendem que a luta é contínua, diária e, sobretudo, coletiva.

Honrando o legado de Marielle Franco seguiremos na luta por justiça. De diversas formas a investigação de seu assasinato tem demonstrado ligação com a milícia que hoje ocupa a presidência do país. A luta pelo Fora Bolsonaro também se faz em conjunto a luta por respostas: Quem mandou matar Marielle e por quê?.

No dia 24 estaremos nas ruas por Marielle e todas nós. De diversas formas a investigação de seu assasinato tem demonstrado ligação com a milícia que hoje ocupa a presidência do país. A luta pelo Fora Bolsonaro também se faz em conjunto à luta por respostas: Quem mandou matar Marielle e por quê?

Contra a política de morte do Estado genocida, são mulheres negras e que, de norte a sul do país, apontam o caminho de uma política de vida e um programa radical para superação das desigualdades estruturais.

Bolsonaro e seus pares vão ser derrotados por aquilo que eles mais odeiam: mulheres negras.

Todes as ruas dia 24 de Julho!

Nem de bala, nem de fome, nem de covid! Queremos viver!

Fora Bolsonaro!