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MUNDO

Richard Lewontin – o geneticista marxista

John Parrington

O socialista revolucionário Richard Lewontin afirmou que a sociedade evolui para além da biologia

Publicado originalmente por Socialist Worker em 10/07/21

Tradução: Wilma Olmo Corrêa

Richard Lewontin, que morreu recentemente aos 92 anos, foi um dos geneticistas mais talentosos de sua geração. Foi também um socialista revolucionário tanto na teoria quanto na prática.

Quando eu era um estudante universitário em meados da década de 1980, um colega sugeriu que eu lesse um novo livro Not In Our Genes (Não Em Nossos Genes) de Lewontin, Richard Levins e Steven Rose.

Foi então que tomei consciência do poder da análise marxista. Este livro demoliu a ideia, que então se popularizava através do movimento denominado “sociobiologia”, de que o comportamento humano e a sociedade poderiam ser reduzidos a princípios biológicos.

Como Lewontin e seus coautores mostraram, a visão da genética apresentada por sociobiólogos como Richard Dawkins e Edward Wilson não era apenas reacionária, mas também má ciência.

Os sociobiólogos apresentaram “genes” hipotéticos para características humanas, como egoísmo, belicismo, sexismo, racismo e homofobia. Isso mostrou sua ignorância a respeito da bem específica base de tais características na sociedade de classes.

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Mas Lewontin também mostrou o quão pouco eles entendiam sobre as maneiras como nossos genomas interagem com o resto de nossas células e corpos.

Perdeu-se a interação dinâmica entre os genes e o meio ambiente.

Em livros posteriores como The Dialectical Biologist (O Biólogo Dialético) coescrito com Richard Levins, e The Triple Helix (A Tríplice Hélice) Lewontin desenvolveu uma teoria socialista da biologia.

Lewontin foi inspirado no trabalho pioneiro de Karl Marx e Friedrich Engels nesta área. Mas também o enriqueceu com ideias inovadoras baseadas em novas percepções sobre como o DNA funciona como um “projeto”. O DNA também é altamente influenciado pelo ambiente da célula humana, pelo ambiente do corpo e pelo ambiente da sociedade humana em que esses corpos habitam.

Contra a ideia comum de que o comportamento humano é “determinado” por nossos genes, Lewontin afirmou que a sociedade humana evolui de uma forma que, em certa medida, supera a biologia.

Novas tecnologias e práticas sociais impulsionam mudanças na sociedade de maneiras que não têm paralelo em outras espécies.

Mas a maneira como as diferenças genéticas individuais afetam o comportamento e o potencial humanos é influenciada pelo tipo de sociedade em que surgem.

Isso significa que, em geral, a possibilidade de uma pessoa realizar seu potencial é muito mais afetada por sua posição na sociedade de classes do que por sua constituição genética.

A genética pode influenciar nossa suscetibilidade a doenças, sejam elas distúrbios corporais, como doenças cardíacas ou diabetes, ou distúrbios mentais como depressão ou esquizofrenia.

Além disso, a forma como as diferenças genéticas se manifestam depende muito de nosso meio ambiente.

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Portanto, a suscetibilidade a doenças cardíacas e diabetes é altamente influenciada pela má alimentação e pela exposição ao estresse no local de trabalho.

E a possibilidade de ficar clinicamente deprimido ou esquizofrênico depende profundamente das pressões psicológicas extremas a que as pessoas estão sujeitas sob o capitalismo.

Talvez o aspecto mais inspirador da vida de Lewontin para os socialistas hoje seja o fato de que ele não era apenas um teórico, mas também um ativista.

Mostrando a importância da influência ambiental (o ser social) no desenvolvimento da consciência humana, as ideias de Lewontin foram fundamentalmente influenciadas por sua experiência.

Em particular, ele foi moldado pelos movimentos dos anos 1960 e 70 contra a Guerra do Vietnã e a luta pelos direitos civis dos negros. As lutas pelos direitos das mulheres e a luta contra a homofobia também foram importantes.

Ele, por sua vez, usou a análise científica para refutar as afirmações dos oponentes a tais lutas.

A esquerda científica pode ser agora apenas uma sombra do que era naqueles dias inebriantes de radicalismo.

Mas a escala da crise social que enfrentamos agora, em termos do impacto da mudança climática, significa que um novo radicalismo dessa escala é, certamente, apenas uma questão de tempo.

E ao enfrentar os desafios do futuro, as ideias de Lewontin serão um recurso muito importante.

John Parrington é o Autor de Mind Shift – How Culture Transformed the Human Brain (Mudança da Mente – Como a Cultura Transformou o Cérebro Humano)

 

 

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