Hoje, dezenas de milhares de pessoas ocuparam as pistas da Avenida Presidente Vargas em resposta à convocação de mais um ato nacional pelo Fora Bolsonaro, exigindo vacinação, emprego e renda. A mobilização na capital se somou a mais outras trinta cidades no estado, mostrando a capilarização do movimento, que vai transformando em ação o descontentamento, raiva e luto que vai tomando a maioria da população frente a uma gestão genocida da pandemia, no dia em que chegamos à aterradora marca de 500 mil mortos.
A apenas alguns quilômetros de onde a manifestação ocorria, o próprio Bolsonaro participava de cerimônia na Escola Naval, para uma plateia de militares cúmplices e depositários das esperanças autocráticas da extrema-direita. Desta vez, porém, o presidente preferiu a discrição e evitou a medição de forças com seus opositores. Não se viram seus motoqueiros, apóstolos da cloroquina e provocadores de verde-amarelo. As ruas tomadas por seus opositores, portanto, mostraram um Bolsonaro pressionado.
Coluna do Afronte! no Rio de Janeiro. Foto Carol Burgos
Rio, cidade-sede do projeto de poder neofascista-miliciano
O ato no Rio, entretanto, ganha ainda outra dimensão. A cidade foi o berço e é a sede do projeto de poder neofascista-miliciano que Bolsonaro busca implementar. Foi aqui que o então o deputado emergiu como representante político da síntese entre resquícios da ideologia da doutrina de segurança nacional da ditadura militar, a derivação da política exterminista de segurança pública em dominação e exploração territorial policial-miliciana e os novos estratos de extrema-direita embalados pela vaga antipetista de 2015-2016. É na cidade que Bolsonaro e seu clã tem suas raízes mais profundas e resistentes.
É também no Rio de Janeiro que o bolsonarismo produziu alguns dos seus maiores opositores, como Marielle Franco
Porém, é também no Rio de Janeiro que o bolsonarismo produziu alguns dos seus maiores opositores, como Marielle Franco, assassinada por milicianos vizinhos do presidente. A resistência a Bolsonaro sintetiza também algumas das principais pautas dos movimentos sociais na cidade. A luta contra o extermínio da população negra e favelada, contra o racismo, o machismo e LGBTfobia, contra as privatizações e precarização dos serviços públicos, pela liberdade religiosa e de ensino, pela preservação e expansão do SUS encontram no Fora Bolsonaro um guarda-chuva comum. A retomada das ruas pela esquerda consolida na cidade a formação de uma maioria contrária a Bolsonaro, relegando o presidente genocida à sua base social perigosa, mas minoritária.
A unidade da esquerda expressa na unidade do movimento de massas
O sucesso das manifestações no Rio de Janeiro e no Brasil dá provas do poder de convocação e organização da esquerda quando unificada no enfrentamento à extrema-direita. A articulação das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e do Fórum pelas Liberdades Democráticas, somada à movimentos importantes como a Coalizão Negra por Direitos, refletiu uma unidade mais profunda, expressa no protagonismo dos partidos e organizações de esquerda, movimentos de juventude, colunas de categorias profissionais e outros setores organizados. Disto resultou um ato diverso em sua composição, mas com claras pautas e perfil de esquerda. Tomadas de bandeiras, estandartes, faixas e camisas que apontam para uma esquerda que vai tomando a frente da oposição a Bolsonaro.
O crescimento do 19J em relação ao 29M também aponta para um processo que não encontrou ainda seu limite. Também não houve sinais de relaxamento nos cuidados sanitários entre um ato e outro, o que dá segurança para que mais pessoas se vejam seguras em participar de manifestações de rua, em especial enquanto avança o calendário de vacinação. Simbólico deste crescimento foi a participação do aniversariante Chico Buarque, de setenta e sete anos, vacinado com a segunda dose.
Deste modo, é nas ruas que a esquerda vai encontrando o seu espaço de recomposição de forças, na luta contra a política de morte de Bolsonaro e seus aliados. Enquanto o presidente busca refúgio em seus apoiadores mais fiéis, a esquerda vai se mostrando capaz de liderar uma oposição ampla, mas orientada por pautas concretas, urgentes e necessárias, sentidas pela maioria trabalhadora. Munida deste senso de urgência, uma esquerda unida se apresenta como portadora da esperança de ver, enfim, terminada a experiência do bolsonarismo no poder.
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