O mês de junho é o mês do orgulho LGBTQIA+, em 28 de junho de 2021 serão 52 anos da Revolta de Stonewall, a rebelião nas ruas de Nova York que marca o início do que conhecemos como o movimento LGBTQIA+ contemporâneo. A questão é que junho de 2021 é um junho atípico: a pandemia de covid-19 que eclodiu em 2020 nos leva ao segundo ano consecutivo sem que seja possível realizar as tradicionais paradas do orgulho LGBTQIA+.
Mais do que uma situação atípica, nosso país vem enfrentando uma crise social brutal, com o desemprego, a carestia, a volta da fome e quase 500 mil mortos, vítimas do coronavírus, até o fechamento deste texto.
As LGBTQIA+ na pandemia
Não é segredo para ninguém que a corda sempre estoura do lado mais “fraco”: mulheres, negres, indígenas e LGBTQIA+ são os setores que mais vem sofrendo com os efeitos da pandemia.
O relatório da Outright elencou alguns dos elementos principais sobre como a pandemia afetou as LGBTQIA+ pelo mundo.
- Devastação dos meios de subsistência: aumento da insegurança alimentar e piora das condiçõe s de vida. As LGBTQIA+ são super representadas no mercado de trabalho informal (um dos que mais sofreu com a pandemia) e sofreram com a ampliação do desemprego em geral. Aqui no Brasil a taxa de desemprego entre as LGBTQIA+ chegou a 21,6% de acordo com a pesquisa realizada pela Vote LGBT (contra 14% na população em geral).
- Interrupção do acesso a cuidados de saúde: durante a pandemia dificultou-se o acesso aos medicamentos para HIV, à PeP e à PreP, e aos diversos procedimentos relacionados ao processo transsexualizador nos sistemas de saúde. Além disso, existe uma relutância em buscar atendimento de saúde mesmo nos casos de covid-19 devido à discriminação e recusa de atendimento sofrida muitas vezes pelas LGBTQIA+.
- Risco elevado de violência doméstica e familiar: tradicionalmente as famílias configuram um lugar onde as LGBTQIA+ enfrentam altos e frequentes graus de violência no cotidiano. Com a imposição de políticas de isolamento frente à pandemia esse elemento se exacerba pelo convívio prolongado forçado e falta de acesso às redes e serviços de apoio da comunidade.
- Saúde mental: isolamento social e aumento da ansiedade ampliados em boa parte da população ganham contornos mais graves com o isolamento das LGBTQIA+ das suas chamadas “famílias escolhidas” e da comunidade LGBTQIA+ em geral.
- Abuso de poder do Estado: aumento da repressão, exclusão e criminalização estão em alta, em especial nos países mais propensos ao autoritarismo e a ideologias anti-gênero e anti-LGBTQIA+. Alguns desses Estados se utilizam da situação de calamidade para reprimir ainda mais as LGBTQIA+.
- Dificuldades para a organização e resistência: impactos nas áreas e espaços LGBTQIA+, na sua organização comunitária. O cenário de corte de recursos para as organizações e aparatos públicos e a imposição de atividades online dificultam a organização coletiva e a vida em comunidade que é tão importante para as LGBTQIA+.
Vale apontar o aumento significativo da violência contra os setores oprimidos durante a pandemia: aumento da violência policial contra o povo negro, dos feminicídios, etc. Esse aumento incidiu duramente sobre as pessoas trans: aqui no Brasil assistimos a um aumento das mortes de travestis e transsexuais em 2020, de acordo com o último relatório da ANTRA. Foram 175 mortes em 2020, contra 124 em 2019.
As pessoas trans que, em sua maioria, dependem da prostituição como fonte de renda e contam com pouco ou nenhum apoio do Estado ou de suas famílias enfrentam a realidade de morrer de fome ou morrer de vírus.
Um governo genocida anti-LGBTQIA+
Desde muito antes de ser presidente, Bolsonaro e seu clã já eram inimigos declarados das LGBTQIA+. Mais do que isso, a LGBTQIAfobia é parte fundamental da constituição ideológica do bolsonarismo!
Durante o governo Bolsonaro assistimos ao desmonte de políticas de saúde determinantes para a população LGBTQIA+, o desmonte dos serviços de prevenção e tratamento de HIV/AIDS (com consequente aumento de infecções entre jovens gays e bissexuais), a adoção de uma política pública velada (ou não tão velada assim) de abstinência sexual, além de uma “legalização” ideológica da LGBTQIAfobia promovida pelo próprio governo, diante da qual pudemos verificar um aumento vertiginoso da violência. O Censo de 2020, que deve ser o primeiro a registrar dados sobre as pessoas LGBTI no país, teve seu financiamento ameaçado pelo governo, mas felizmente isso foi revertido após decisão judicial.
A gestão desastrosa e genocida de Bolsonaro para a pandemia agravou duramente a crise social, que incide mais duramente sobre nós. Desemprego, fome, violência, vírus: não podemos mais tolerar essa situação!
Rumo ao 19J: que o nosso orgulho seja o medo deles
Os atos do 29M demonstraram que amplos setores da sociedade chegaram a uma conclusão: o presidente é mais perigoso que o vírus, o genocídio precisa ser interrompido. Centenas de milhares de pessoas foram às ruas em atos construídos de maneira unitária, em todo Brasil, pelas mais diversas organizações da classe trabalhadora e oprimida e da juventude.
Esse será mais um junho no qual não poderemos celebrar nosso orgulho e nossa resistência, bem como um junho no qual vivemos o profundo luto e a fratura social gerada por 500 mil mortes das quais a esmagadora maioria poderia ter sido evitada. Diante de tamanha dor coletiva e de um governo que nos fez ter medo desde o dia em que foi eleito, devemos transformar nosso luto em luta e nosso orgulho no medo deles: que os atos do 19J sejam nossa parada e que o orgulho das LGBTQIA+ de todo o Brasil se somem no esforço pela derrubada imediata desse governo LGBTQIAfóbico e genocida! Fora Bolsonaro!
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