A experiência trágica vivida pelo povo brasileiro na pandemia produziu uma mudança de qualidade: formou-se, pela primeira vez, uma maioria social contra Bolsonaro no país. Essa experiência foi mais lenta que nós, da esquerda, gostaríamos que fosse, tendo em conta a dimensão da catástrofe que vivemos. Ela também é incompleta e parcial, visto que o governo mantém uma base de apoio considerável, embora minoritária. Mas, sim, há uma maioria popular contra Bolsonaro. E isso faz toda diferença.
Nos grandes centros urbanos essa maioria é ainda mais expressiva, se aproximando dos 70%. Esse fator faz com que as manifestações de rua encontrem suporte no sentimento majoritário das massas. Isso é novo. Nos atos pelo Fora Temer, em 2017, no gigantesco Ele Não, em 2018, e no enorme Tsunami da Educação, em 2019, a maioria do povo estava pela e com a direita e a extrema direita. As manifestações, mesmo as maiores, apoiavam-se numa minoria popular. Agora, não é assim. Bolsonaro mantém força, mas está enfraquecido; enquanto a direita liberal tradicional vive mais um capítulo de sua crise aguda — nenhum dos seus pré-candidatos marca, até agora, dois dígitos nas pesquisas presidenciais. O 29M se conectou com o sentimento da maioria do povo, por isso, foi tão forte. 0 19J, por essa razão também, promete ser ainda maior.
Isso quer dizer que a derrota de Bolsonaro já está sacramentada? De modo algum. Primeiro, porque o miliciano é um fascista que preserva apoio de massas e capacidade de mobilização. Segundo, porque tem amparo em setores militares e policiais, bem como em segmentos da classe dominante e, em particular, da pequena-burguesia proprietária. Bolsonaro conta, também, com suporte de igrejas evangélicas, milícias e setores criminosos da burguesia, como madeireiros, garimpeiros e fazendeiros ilegais. Além disso, o bolsonarismo tem uma rede poderosa de influência digital e disparo de fakenews. Portanto, nosso principal e mais perigoso inimigo ainda não está derrotado.
O capitão está na defensiva, mas pode voltar à ofensiva — abrindo condições, até mesmo, para um possível golpe — se a esquerda não avançar na luta de classes, permitindo que o capitão fascista recupere forças e capacidade de iniciativa. eleições.
Mas Bolsonaro não está mais na ofensiva — justamente porque se formou uma maioria social contra ele. Esse avaliação é decisiva para uma tática política acertada da esquerda. As ameaças de golpe e as “moticiadas” são reações defensivas de quem se sente acuado. Bolsonaro ameaça, como bom miliciano que é, para amedrontar, intimidar. O objetivo é, em primeiro lugar, evitar sua derrubada antes de 2022. Se conseguir, quer chegar ao 2o turno das eleições e, se possível, em condições de disputa real contra Lula. Se perder as eleições, pretende ir para a oposição preservando influência (inclusive para evitar uma eventual prisão sua e de seus filhos).
O capitão está na defensiva, mas pode voltar à ofensiva — abrindo condições, até mesmo, para um possível golpe — se a esquerda não avançar na luta de classes, permitindo que o capitão fascista recupere forças e capacidade de iniciativa. O pior erro seria não aproveitar o pior momento do governo até aqui, dando tempo e oportunidade para ele se recuperar até as eleições.
Ir às ruas agora, com tudo, pelo Fora Bolsonaro, é o meio mais eficiente para consolidar e aumentar a maioria social contra esse governo de extrema direita. Se a luta de massas avançar, pode abrir caminho para derrubada de Bolsonaro antes mesmo de 2022. Mas se não for possível removê-lo do poder mais brevemente, o que seria o melhor para salvar vidas e direitos, ao menos ampliaremos seu isolamento social e colocaremos a esquerda em posição ofensiva, dificultando assim a possibilidade de que o genocida recupere forças até as eleições. Assim, o 19 de Junho é um momento absolutamente chave nessa construção. Vamos às ruas, com a ousadia de quem quer vencer!
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