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CULTURA

Viva o beco do Barato (Ao Udigrudi Recifense)

Caetano Naleste (Isca de Policia)*, de São Paulo (SP)
Divulgação

Flaviola e O Bando do Sol, 1974, SOLAR Records.

Chico Science e Nação Zumbi teve o reconhecimento por misturar ritmos regionais, como o maracatu e o samba coco com a música universal, rock, Hip Hop e Dub, fazendo um resgate da cultura popular e ligando ela ao mundo. A tal da antena parabólica enfiada na lama, colocando o lamaçal do Rio Capibaribe em contato com o mundo.

É preciso dizer que eles não foram os primeiros a fazer isso. No mesmo Recife, dos anos 70 – 20 anos antes da explosão do mangue beat – houve uma geração que foi animada pela contra-cultura do pós wood-stock, que ficou conhecido como movimento “Udigrudi” em referência ao termo “Underground”, era a viola nordestina se encontrando com seu parente, a música árabe, era o encontro do baião com o rock and roll, era o encontro da juventude com a psicodelia.

Essa cena foi alimentada por várias bandas e personalidades, no qual a maioria gravaram discos e registros através do famoso selo “Solar”, extensão da histórica gravadora de frevo Rosenblit para alimentar aquela cena que nascia em Pernambuco. Seu grande animador foi o multi-artista e um dos principais expoentes da contra cultura nordestina, Lula Cortês, que tem seu registro primordial sendo o disco “Paêbiru”, feito em parceria com Zé Ramalho da Paraíba.

Todo esse movimento não deixou de soar rebelde, a ditadura e a cidade se assustava com os rapazes e moças do “Beco do Barato”, a banda Ave Sangria logo após lançar seu primeiro disco em 1975 teve sua principal música de trabalho “Seu Waldir” censurada, o que levou praticamente ao fim da promissora banda. Alguns anos atrás a banda entrou com pedido de anistia e gravou seu segundo disco “Vendavais” em 2019.

Mas escrevo esse pequeno recorte porque, acordei hoje, dia 13 de Junho de 2021, e soube que Flávio Lira do eterno “Flaviola e o bando do sol” veio a falecer. Nos meios de comunicação não se fala nada, na mídia especializada não se fala nada. Seu disco com sua poética do fúnebre que registrava todo o momento de terror da época, com arranjos que nos fazem viajar, misturando elementos da música nordestina com uma sensibilidade excêntrica e bonita que marcou uma geração. Escutando nesse momento esse disco penso que os temores ainda são atuais. Flaviola vai fazer falta.

É preciso conhecer a cultura feita por quem os holofotes ignoraram, a contra-cultura segue viva. Viva a turma do Beco do Barato, viva Flaviola.

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cultura / música