Eu não fui. Não tive coragem e não quis deixar minha família aflita.
Estaria sendo incoerente com eles, pois exijo cada vez mais cuidados porque eu não estou vacinada.
Logo, não poderia burlar o que eu mesma cobro.
Não fui, mas gostaria de ter ido.
Tenho muito medo de que algum manifestante possa ter se descuidado, por um instante.
Tenho imensa gratidão aos que, ao contrário de mim, não permitiram que o medo os detivesse.
As milhares de pessoas que foram às ruas ontem, o fizeram por elas, por nós, pelos mortos, pelos hospitalizados, pelos desempregados, pelos que estão com fome, pelos indígenas, pela população negra perseguida e morta, pela população LGBT+ que sabe a dureza de ser nesse país hoje.
As milhares de pessoas que foram às ruas ontem, o fizeram para que possamos ter esperanças, para que o genocida caia e, se não cair, que seja constrangido a recolher seu ímpeto de morte.
Tive medo, tenho medo e o medo me impediu.
Não consegui me posicionar sobre o assunto antes, apenas cumpri meu papel mínimo de militância em divulgar o ato antes, durante e depois.
Tive medo e eles tiveram coragem.
Não são negacionistas, não são comparáveis aos fascistas que seguem o genocida.
Tenho admiração e gratidão por cada um e cada uma que estiveram nas ruas ontem por nós.
Por um país no qual ninguém precise lutar pelo direito de sobreviver a uma doença e a um governo de morte.
Marta Maia é professora da Faculdade de Educação da UFF.
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