Lembro como se fosse hoje, era piá, tinha apenas 11 anos, quando em 1992, acompanhando o movimento estudantil da minha escola e da UFRGS, nossos vizinhos de bairro, fomos para as ruas de Porto Alegre gritar, FORA COLLOR!
O presidente Fernando Collor de Mello estava prestes a sofrer o impeachment, pois em seu governo havia uma grande insatisfação e o Plano Collor fracassou totalmente: falências, quedas nas vendas e do poder aquisitivo e demissão dos trabalhadores, formando legião de desempregados. A recessão na economia gerou uma insatisfação popular que foi potencializada a partir de uma série de escândalos de corrupção envolvendo o governo Collor, como o “esquema Collor-PC”. Lembro que foi caminhando e cantando que conheci a canção:
“Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer “.
E foi ao som e no tom dessa música que senti pela primeira vez a emoção de ir à luta. Lembro inclusive o dia que fui capa da ZH, pois a imagem era uma jovem criança negra com rosto pintado de preto, verde e amarelo, gritando FORA COLLOR!!!! Estava até com medo, pois para variar, fui num ato sem autorização expressa da minha mãe. Mas eu estava lá.
Hoje o cenário é outro, a situação pandêmica tem impedido de lutar por aquilo que acreditamos, mas chegamos no LIMITE, não temos mais condições de aceitar os absurdos que vêm acontecendo no nosso país.
São mais de 450 mil mortes, vacinação com total lentidão, aumento significativo de famílias passando fome, maior índice de desemprego da história, o genocídio do povo preto extrapolou todos os sentimentos que ainda restam em mim, pois o assassinato da juventude negra e pobre é uma afronta a dignidade humana, assim como o massacre aos povos indígenas, sem falar na Amazonia, que pede SOCORRO com tamanho desmatamento.
O atual presidente Jair Messias Bolsonaro é mais letal que o próprio vírus, sua plataforma de governo tem sido a MORTE.
É preciso voltar e reacender a chama dos “Caras Pintadas”, aqueles e aquelas que foram para as ruas para ajudar a derrubar um governo. Essa luta é insegura, nós todos sabemos dos riscos de não se manter em isolamento, mas se arriscar é necessário. Em defesa da vida, é preciso derrubar Bolsonaro, tirar o genocida do poder é uma luta essencial.
A Crise além de sanitária, é econômica e social, sem auxilio emergencial de R$ 600,00 e vacina no braço, iremos seguir tendo um governo assassino e irresponsável. Então, estarei nas ruas gritando mais uma vez.
A diferença de 1992 para 2021, é somente o entendimento de que lá eu era criança e todos lutavam para que eu tivesse um país melhor, com melhores condições de vida e garantia de direitos. Hoje, luto por mim, mas principalmente por nós e por aqueles que virão. Não faz sentido eu querer transformação se não tiver AÇÃO, e foi com o movimento Caras Pintadas, que aprendi a lógica de tudo isso.
Certamente o nosso grito de FORA BOLSONARO será um primeiro passo, para reescrevermos juntos uma nova história do BRASIL!
*Graziela Oliveira é Militante do movimento negro, movimento sindical e Resistência/PSOL. Presidenta do Sindicato dos servidores públicos de Esteio.
Fonte:
https://esquerdaonline.com.br/2021/05/26/dia-29-expressar-a-indignacao-da-maioria-nas-ruas/
Musica de Geraldo Vandré, Pra não dizer que não falei de Flores.
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