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EDITORIAL

Por uma Frente de Esquerda para as lutas e as eleições

Editorial de 20 de maio de 2021
Homem segura ao alto uma bandeira branca onde se lê a palavra FORA.Ele está em cima de um carro. ao fundo, o céu azul de Brasília.
Ricardo Stuckert / Fotos Públicas

English version: A Left Front for the struggles and the elections

A tragédia que sangra o Brasil precisa acabar. Não é tolerável a continuidade da mortandade pela covid, a lentidão na vacinação, a volta da fome, o desemprego recorde, a radicalização do extermínio de negros e pobres, a destruição acelerada do meio ambiente e o massacre dos povos indígenas. É preciso dar um basta a isso, imediatamente. Não podemos esperar até as eleições de outubro de 2022. Para salvar vidas, Bolsonaro precisa ser derrubado o quanto antes. Essa é a tarefa fundamental e urgente. Nada é mais importante.

A esquerda deve concentrar esforços na campanha pelo Fora Bolsonaro e pelas reivindicações mais sentidas pelo povo trabalhador: comida na mesa, vacina no braço e emprego na carteira. É momento de testar, com todos os cuidados sanitários, a volta às ruas, a exemplo do que fez o movimento negro, no dia 13 de maio, em repúdio à chacina na comunidade de Jacarezinho. Pois, sem movimento popular nas ruas, a capacidade de pressão pelo impeachment de Bolsonaro diminuí consideravelmente. Por isso, devem ser construídos ativamente os atos de 26 e 29 de maio, que estão sendo convocados pelo espaço unitário da Campanha Fora Bolsonaro.

A unidade para as lutas, para derrubar Bolsonaro, deve ser a prioridade número 1 dos partidos de esquerda, frentes do movimento social, centrais sindicais, movimento negro, feminista, LGBT, indígena e estudantil. Não devemos subestimar o inimigo. Embora desgastado e acuado, Bolsonaro ameaça novamente, mobilizando sua base social de extrema direita e acentuado o discurso golpista. A esquerda não pode contar que Bolsonaro irá respeitar as regras do jogo até 2022. Quanto mais estiver enfraquecido e acossado, mais vai radicalizar.

Por isso, é fundamental a força da mobilização social da esquerda para contra-atacar as ameaças da extrema direita neofascista. Devemos pressionar o Congresso, que agora tem em mãos as provas colhidas pela CPI da Covid, pela abertura imediata do impeachment do genocida. Nesse sentido, o ex-presidente Lula, que lidera as pesquisas eleitorais e tem enorme influência popular, deveria colocar seu peso político em prol da campanha pelo Fora Bolsonaro nas ruas.

Construir a alternativa eleitoral unificada da esquerda, sem alianças com a direita

Além da Frente de Esquerda para as lutas, é importante preparar a batalha pela alternativa política de poder, que já está colocada na ordem do dia. Embora as eleições estejam distantes, já há um amplo debate na sociedade sobre a sucessão de Bolsonaro.

A extrema-direita já tem seu candidato, como se sabe, quer reeleger o capitão genocida. Por sua vez, a direita tradicional e o centro partidário buscam uma chamada “terceira via” diante da polarização entre Lula e Bolsonaro, mas se veem, por ora, com grandes dificuldades de terem algum candidato competitivo — Doria, Ciro, Moro, Huck e Mandetta estão com péssimo desempenho nas pesquisas. Já a estratégia da direção majoritária do PT é consolidar a liderança eleitoral de Lula, costurando, ao mesmo tempo, alianças mais amplas com setores do centro e da direita.

Nesse cenário, qual deve ser a posição do PSOL? Consideramos que tarefa principal do partido deve ser a luta pela Frente de Esquerda também no terreno eleitoral. Isto é, a construção de uma alternativa que envolva o conjunto dos partidos da esquerda (PT, PSOL, PCdoB, PCB, UP e PSTU), os movimentos sociais, o movimento negro, o movimento feminista, os sindicatos, o movimento indígena e ambiental, entre outros setores populares. Um alternativa eleitoral unificada que represente e expresse a ampla maioria do povo brasileiro.

A unidade da esquerda — nas lutas e nas eleições —  é uma necessidade para enfrentar e derrotar o perigo neofascista representado por Bolsonaro. Nesse sentido, acreditamos que é um equívoco o lançamento de pré-candidatura presidencial do PSOL nesse momento, seja qual nome for. Pois isso, naturalmente, será visto como um gesto que divide e enfraquece a esquerda no enfrentamento contra Bolsonaro.

Acreditamos, por outro lado, que a necessária e urgente unidade da esquerda não deve se estender a setores da direita e do centro da burguesia brasileira, como quer a direção majoritária do PT e Lula. É necessário aprender com as lições do golpe contra Dilma Rousseff em 2016. Tentar reeditar as alianças com setores golpistas é um erro que pode custar caro novamente, no curto e no longo prazo.

No mais imediato, essas coligações com segmentos da direita, se concretizadas, significarão, quase certamente, num rebaixamento do programa para aquilo que é aceitável para a classe dominante brasileira. Um programa de esquerda deve, por exemplo, defender a revogação dos Teto dos Gastos e das reformas da previdência e trabalhista; a instituição de uma renda básica digna para acabar com a pobreza; a valorização real do salário mínimo; o aumento de modo significativo dos investimentos públicos em saúde, educação, ciência e tecnologia; a desmilitarização das polícias; a taxação das grandes fortunas e lucros empresariais; a realização de um plano de obras públicas sociais para geração de empregos; a instituição de uma reforma agrária e urbana para dar terra e casa a quem precisa; entre outros pontos concretos. Essas medidas seriam aceitas numa candidatura de Lula com setores da direita e grandes empresários? Acreditamos que não.

Mais adiante, as alianças com os velhos golpistas representaria o risco, no caso de sucesso eleitoral, de uma nova traição (lembremos que Temer era vice de Dilma), da armação de um novo golpe, na hipótese, por exemplo, de Lula contrariar em alguma medida as demandas da burguesia em um contexto de crise. Portanto, alianças com a direita, em nome de facilitar a vitória eleitoral, compromete o programa de esquerda, obrigando à renúncia das mudanças estruturais progressistas, e coloca a governabilidade nas mãos desses setores traiçoeiros, nada confiáveis.

Por isso, somos a favor de uma candidatura unificada da esquerda sem alianças com golpistas e com um programa de transformações estruturais que revertam o legado do golpe e atendam às demandas mais sentidas do povo trabalhador e oprimido, a começar pela garantia da vida, emprego, salário e moradia. Na nossa opinião, o PSOL deve se engajar nessa batalha: a unidade da esquerda para derrubar Bolsonaro nas ruas e nas eleições, apresentando uma alternativa de poder para e com a classe trabalhadora e o povo pobre.

 

Marcado como:
Fora Bolsonaro