O Chile foi às urnas neste domingo, 16, para a escolha dos deputados e deputadas constituintes e também para a eleição de governadores e prefeitos. Resultado representou uma derrota para a direita do país e mostrou a força das candidaturas independentes. Ao contrário das previsões do governo e das instituições, a direita pinochetista não conseguiu atingir o resultado de 1/3 das cadeiras, que permitiria usar do poder de veto, diante de propostas que representassem mudanças estruturais no texto da Constituição. Com 99,1% dos votos apurados, a coligação Vamos por Chile (XP) obteve apenas 20,56% dos votos, e precisará buscar apoio entre constituintes de partidos tradicionais e que já estiveram também no governo, como o Partido Democrata Cristão, para exercer o poder de veto em temas específicos.
Segundo acordo feito entre o governo de Sebastian Piñera e a maioria dos partidos, que convocou o processo, após o estallido social, a constituinte será feita tendo o texto da Constituição atual como base, texto que é uma herança da ditadura militar. E ainda com a necessidade de um total de votos superior a 2/3 para propostas “estruturantes”. Com o resultado, abre-se a possibilidade de mudanças que representem de fato as demandas do levante iniciado em outubro de 2019, e não apenas remendos ou reformas no texto pinochetista.
A outra grande surpresa, que também explica a derrota da direita, foi o sucesso das candidaturas independentes, que irão ocupar 32% dos 155 vagas da nova Assembleia Constituinte. O processo mostra também o questionamento sobre o sistema político chileno e a crise representativa e, ainda que afete os partidos de centro e da direita em cheio, também é um questionamento a legendas da esquerda.
Ao todo foram 91 chapas inscritas para a eleição, a grande maioria independente e, entre elas, a maior parte com um perfil de esquerda ou centro-esquerda, sendo muitas ligadas a pautas e bandeiras específicas ou lutas regionais. Uma pequena parte não tem um perfil ideológico definido. Um destaque foi para a Lista del Pueblo, de esquerda, que alcançou 15% dos votos.
Ao todo, os três grandes blocos partidários receberam menos votos do que a soma das candidaturas independentes. No entanto, como cerca de 50 chapas independentes não conseguiram eleger deputados, os blocos partidários irão ocupar 57% da Constituinte.
A configuração da Constituinte e a possibilidade de acordos para vetar as pautas do levante chileno reforçam a necessidade de seguir com a luta, mantendo as mobilizações e a organização nos territórios, para garantir uma nova Constituição forjada pelos e para os trabalhadores, a juventude, mulheres, povos originários e LGBTQIs, conquistar a liberdade para os presos políticos, combater a crise social e sanitária e derrubar o governo Piñera.
RESULTADOS
A coligação Apruebo Dignidad (YQ), de esquerda, recebeu 1.069.225 votos (18,74%) e elegeu 28 deputados, assim divididos entre os partidos: Comunes (1), Convergencia Social (6), Federacion Regionalista Verde Social (4), Igualdad (1), Partido Comunista de Chile (7), Revolucion Democratica (9).
A Lista del Apruebo (YB), coligação ampla, com partidos tradicionais de perfil de centro-esquerda até a centro-direita, recebeu 824.812 votos (14,46%) e elegeu 25 deputados, assim divididos entres os partidos: Partido Socialista de Chile (15), Ciudadanos (0), Partido Democrata Cristano (2), Partido Liberal de Chile (3), Partido Por La Democracia (3), Partigo Progresista de Chile (1), Partido Radical de Chile (1).
A coligação Vamos por Chile (XP), que representa o governo Piñera e o legado pinochetista, obteve apenas 20,56% dos votos, elegendo 37 constituintes, dos partido Evolucion Politica (5), Partido Republicano de Chile (0), Renovacion Nacional (15) e Union Democrata Independiente (17).
O Partido Humanista e o Partido Ecologista Verde concorreram com chapas próprias, mas não elegeram.
Os deputados dos povos originários representam 11% da Constituinte, e votaram em um processo paralelo, para decidir as 17 vagas destinadas previamente, a 10 povos originários. A maior parte das cadeiras – 7 – foi destinada ao povo Mapuche, historicamente expulso de suas terras e cuja bandeira tornou-se símbolo da rebelião chilena e dos atos na Praça Dignidade. Mais de 237 mil mapuches participaram do pleito. A Constituinte terá também uma formação paritária de gênero – será a primeira da história a ter essa composição – expressando a participação das mulheres e do movimento feminista no levante chileno.
LIVE
O portal Esquerda Online promove hoje, às 18h (17h no Chile) uma live sobre o resultado da eleição constituinte, com a presença de Patricia Gonzales Toro, professora, antropóloga e mestra em Estudos Ambientais, Raul Devia, advogado trabalhista e militante socialista na localidade de San Antonio e Camila Zarate, que acaba de ser eleita deputada constituinte, com 18.939 votos, 5,71% dos votantes do Distrito 7, que corresponde a região de Valparaíso, a cerca de 120 km da capital, Santiago. A deputada foi a mais votada da Lista del Pueblo em sua região.
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